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Ex-assessor reafirma denúncia de suposta rachadinha de deputado

Fabrício Ferreira trabalhou cinco anos com André Janones, sendo três no gabinete; ex-assessor acionou PGR no último dia 29

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Fabrício Ferreira, ex-assessor do deputado André Janones
1 de 1 Fabrício Ferreira, ex-assessor do deputado André Janones - Foto: Reprodução

Ex-assessor que denunciou à PGR o deputado e pré-candidato à Presidência André Janones por suposta prática de rachadinha, Fabrício Ferreira reafirmou a acusação nesta terça-feira (11/1). Em entrevista à coluna, Ferreira detalhou o suposto esquema e citou uma reunião em que o deputado pediu o salário dos assessores.

“No dia da posse na Câmara, o deputado reuniu todos os assessores no gabinete. Falou que teria projetos políticos e que, para isso, os assessores teriam de contribuir financeiramente com parte do salário”, afirmou Ferreira.

Nesta terça-feira (11/1), a coluna mostrou que Ferreira levou à PGR a acusação de um “sistema de rachadinha” na equipe de Janones no último dia 29. Um mês antes, havia encerrado três anos de trabalho no gabinete do deputado.

Em dois áudios e um documento, Ferreira apontou que a ex-assessora Leandra Guedes, atual prefeita de Ituiutaba (MG), cidade natal do deputado, recolhia parte do salário do ex-assessor Alisson Camargos, atual secretário de Meio Ambiente da cidade. O deputado André Janones e os ex-assessores Alisson Camargos e Leandra Guedes disseram desconhecer o caso.

Leia os principais trechos da entrevista:

Como o senhor conheceu o deputado André Janones?

Foi em 2017, quando voltei para Ituiutaba (MG), cidade em que cresci. Naquela época, o Janones era um advogado que tinha perdido a eleição à prefeitura no ano anterior e gravava vídeos nas redes sociais fiscalizando serviços públicos. Aquilo me chamou muito a atenção. Também vi que às vezes ele era agredido. Como eu era instrutor de defesa pessoal e tive uma academia de lutas, resolvi me oferecer para trabalhar voluntariamente com ele como segurança. E assim fiquei até ele ganhar a eleição em 2018 para a Câmara. Em 2019, fui nomeado assessor parlamentar.

O senhor trabalhava de graça antes da eleição? O que fazia, exatamente?

Sim. Ele ia fazer os barracos na Câmara de Vereadores e eu ia junto. Ajudava a filmar, dirigia o carro para ele. Era pau para toda obra. Na greve dos caminhoneiros, em 2018, eu pedi que ele gravasse um vídeo sobre o assunto. Eu já tinha trabalhado em oficinas e conhecia muita gente do ramo. Um dos vídeos que ele gravou, em um posto de gasolina com grevistas na cidade, alcançou 15 milhões de pessoas. Aí ele estourou.

Como soube do esquema da rachadinha, suposto crime de peculato?

No dia da posse na Câmara, em fevereiro de 2019, o deputado reuniu todos os assessores no gabinete. Em uma mesa redonda, falou que teria projetos políticos e que, para isso, os assessores teriam de contribuir financeiramente com parte do salário. Ele não deu mais detalhes e ninguém perguntou nada. Depois, não mencionou mais o assunto. Eu nunca devolvi o dinheiro. Eu ganhava um salário baixo, R$ 3,5 mil. Eu ouvia informalmente sobre a rachadinha em conversas com outros assessores. Tenho indícios de que isso acontecia com o Alisson (Alisson Camargos, ex-assessor de Janones e atual secretário de Meio Ambiente de Ituiutaba) e a Leandra (Leandra Guedes, ex-assessora de Janones e atual prefeita de Ituiutaba), como falei à PGR.

Quando você gravou a conversa com Alisson, em julho de 2020, o senhor já tinha indícios desses crimes?

Sim. Já tinha ouvido conversas por alto sobre o caso. Primeiro, eu não quis acreditar. Achava que o mandato do deputado seria diferente. Isso não batia com meus princípios, começou a ficar insustentável. Os outros assessores não confiavam em mim, por não agir como eles. Eu gravei a conversa porque via que não havia interesse público no gabinete. Estavam só pensando no poder.

Quantos funcionários devolviam o salário ao deputado?

Pelo menos cinco funcionários, que tinham os maiores salários.

Como acontecia a devolução?

Eu ouvia que o pessoal sacava o dinheiro e devolvia em espécie para o gabinete.

O senhor saiu do gabinete em novembro do ano passado. O esquema ainda acontecia?

Sim. Acho que acontece até hoje. O dinheiro certamente está sendo devolvido.

Por que o senhor foi exonerado?

Segundo a chefe de gabinete do deputado, eu fui demitido porque fiz vídeos denunciando situações de serviços públicos em cidades mineiras. Eu tinha a função de fazer fiscalizações nesses municípios pelo mandato.

Por que não procurou a PGR antes?

Por causa da minha segurança e da minha família. É complicado fazer esse tipo de coisa. Mas eu já tinha ciência de que eu seria demitido, cedo ou tarde. Então estava só esperando o momento para tomar essa atitude de fazer a denúncia com a gravação.

O senhor tinha medo de sofrer algo no gabinete?

A gente tem, né? É um desgaste que eu estava tentando não encarar. Vai haver algum tipo de retaliação contra mim.

O senhor questionou o deputado sobre a reunião em que ele teria anunciado o esquema?

Não. Era quase impossível falar com ele. Ele se blindou com alguns assessores. Não havia acesso direto ao deputado. Estavam ocorrendo essas irregularidades no mandato, mas como assessor eu conseguia ajudar muitas pessoas, principalmente fiscalizando a área da saúde. Eu ponderava o quanto conseguiria ajudar no mandato. Fiz o que pude. Engoli muita coisa errada, muita humilhação, mas pensando que eu poderia fazer algo de bom como assessor.

Está disposto a contribuir para eventuais investigações da PGR?

Estou disposto a falar com qualquer autoridade para relatar os fatos. Encaminhei indícios de ato de corrupção no mandato para a PGR. Não quero ser tachado como o cara que levantou uma falsa denúncia. Não estou inventando nada.

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