Em livro escrito na prisão, Eduardo Azeredo critica abandono do PSDB
O ex-governador mineiro Eduardo Azeredo lança um livro em que trata de sua trajetória política e da condenação no mensalão tucano
atualizado
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O ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo ficou 18 meses preso no 1º Batalhão do Corpo de Bombeiros de Belo Horizonte, entre 2018 e 2019, para cumprir a pena de mais de 20 anos de cadeia que recebeu no escândalo do mensalão tucano. No período, Azeredo escreveu a lápis o livro autobiográfico “O X No Lugar Certo”, que tem lançamento previsto para a última semana de março, na Academia Mineira de Letras.
A condenação de Azeredo foi suspensa após o STF decidir em junho do ano passado que o caso era de competência da Justiça Eleitoral. Nas quase 400 páginas que compõem o livro, o ex-governador recorda a trajetória política e critica a falta de solidariedade do PSDB durante o processo que enfrentou.
“Eu fui fundador do partido. Em determinados momentos, faltou a solidariedade devida. Eu relato no livro que, na eleição de 2014, fui colocado de lado”, disse Azeredo à coluna. Ele prefere não nomear os tucanos que são alvos de críticas. “Não é uma crítica a todo o partido, e sim a algumas pessoas. Quem quiser que ponha a carapuça. O PSDB vive um momento de crise, mas eu continuo acreditando que é o partido com melhor ideário e prática no país.”
Azeredo dedica parte de um dos capítulos à condenação na Justiça e diz que foi alvo de “uma parafernalha que surgiu como contraponto ao mensalão” praticado pelo PT. “Foi um ato político muito forte para compensar a movimentação do mensalão”, diz.
Na condição de governador de Minas Gerais, Azeredo teria desviado R$ 3,5 milhões de empresas estatais para usar o dinheiro na campanha de reeleição em 1998. O esquema contaria com a participação de outros agentes públicos e de profissionais ligados a agências de publicidade e de comunicação, entre eles Marcos Valério.
“Existem regras de responsabilização. Existe o ordenador de despesas. O governador não pode ser responsabilizado por tudo que acontece no governo. E as regras eleitorais mostram que omissões nas declarações eram comuns entre os candidatos naquele período. Do ponto de vista da responsabilização, não existe nenhum documento ou testemunho que me incrimine. Do ponto de vista eleitoral, a prestação de contas foi a mais próxima da realidade”, disse.
Crítico do que chama de “denuncismo”, Azeredo relembrou uma conversa que teve há cinco anos com o então deputado Bonifácio de Andrada, morto em janeiro do ano passado. “Quando o processo estava encaminhado, Bonifácio me falou que, no passado, os juízes tinham receio de condenar uma pessoa. Hoje, eles têm receio de absolver”, declarou. “Felizmente, essa fábrica de destruição de reputações está ficando no passado.”
Aposentado, Azeredo tem uma empresa de tecnologia da informação e está afastado da política. Ele deixou o PSDB em maio de 2019, quando estava preso, e não pretende se envolver mais com a disputa de cargos eletivos. À distância, ele torce pelo surgimento de uma terceira via no pleito deste ano.
“Pode até soar brincadeira, mas é a verdade. Hoje, você não tem nenhum Juscelino Kubitschek no país. Os três primeiros colocados nas pesquisas reúnem mais defeitos que os candidatos que aparecem em seguida, que são Ciro Gomes, João Doria e Rodrigo Pacheco. Esses três teriam melhores condições de fazer um governo de pacificação nacional”, declarou.
O livro de Azeredo foi editado pelo Instituto Cultural Amílcar Martins e organizado pelo jornalista Francisco Brant. A obra fará parte da Coleção Memória de Minas. O prefácio é do ex-ministro do STF Carlos Velloso e a introdução foi escrita pelo ex-senador tucano Arthur Virgílio.