EBC dá cargo de confiança de R$ 21 mil a suspeito de rachadinha
Gerente-executivo da EBC, Welder Alves nega irregularidades; ex-funcionária levou caso ao Ministério Público do Amazonas
atualizado
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A Empresa Brasil de Comunicação (EBC) deu um cargo de confiança com salário de R$ 21,5 mil para um suspeito da prática de rachadinha na TV Encontro das Águas, canal do governo do Amazonas. O suposto crime de peculato é investigado pelo Ministério Público do Amazonas. Welder Alves negou qualquer irregularidade.
A nomeação de Alves na estatal do governo Bolsonaro foi assinada no último dia 1º. Desde então, ele é gerente-executivo de Produção, Aquisições e Parcerias de Conteúdos Educativos da firma no Rio de Janeiro. Alves era diretor da TV pública Encontro das Águas, que no mês passado tornou-se retransmissora da EBC no Amazonas.
Em junho do ano passado, Alves foi citado em um depoimento da ex-colega Nauzila Campos ao Ministério Público do Amazonas. A jornalista afirmou aos promotores que havia um esquema de rachadinha na TV do estado. Segundo o depoimento, funcionários eram cobrados a devolver aos chefes as diárias de viagens pagas pelo governo.
A devolução do recurso público teria de ser em dinheiro vivo, para não deixar rastros. Havia casos de diárias pagas para viagens que nunca aconteceram, ainda de acordo com a ex-funcionária. O depoimento afirmou que Welder Alves coagia os funcionários em cargo de confiança para que sacassem parte das diárias pagas pelo governo e entregassem o valor em dinheiro vivo.
A ex-funcionária contou ao MP que descobriu o suposto esquema em 9 de junho de 2021, duas semanas antes de levar a denúncia ao órgão. Naquele dia, o governador do Amazonas, Wilson Lima, iria falar à CPI da Covid. Lima não foi ao Senado e sua participação na comissão foi adiada. A TV do estado mandou três funcionários para acompanhar o depoimento: Nauzila Campos, Welder Alves e o presidente da TV, Oswaldo Lopes. Lopes negou qualquer irregularidade à Polícia Civil, que abriu uma apuração sobre o caso a seu pedido.
Segundo a ex-funcionária, o presidente da TV pagou com seu cartão de crédito pessoal a hospedagem dos três, que estavam a serviço do governo amazonense. Nesse momento, Oswaldo Lopes disse que Nauzila receberia as diárias e deveria encaminhá-las a ele. A ex-funcionária disse ainda ao Ministério Público que ignorou o pedido e não fez o repasse. Nos dias seguintes, Nauzila percebeu que o caso era recorrente. Deixou o cargo à disposição e pediu férias. Depois, deixou a empresa pública.
Ao todo, Nauzila prestou pelo menos três depoimentos ao MP estadual e um à Polícia Civil. Outro funcionário, que confirmou ter presenciado o esquema de devolução de dinheiro, também falou aos investigadores. Os promotores receberam prints de mensagens, fotos e dados de diárias.
Em setembro, o MP mandou arquivar a apuração da Polícia Civil, iniciada a pedido do presidente da TV estadual. No mês seguinte, contudo, o procurador da investigação original, baseada nos depoimentos da ex-funcionária, avaliou que a apuração precisava continuar. Citou que três testemunhas ainda não haviam sido ouvidas. Em fevereiro deste ano, outro promotor reforçou que o MP seguia sem colher esses depoimentos. Procurado, o MP não respondeu.
Procurado, Welder Alves, atual gerente-executivo da EBC, afirmou: “Não tenho como me manifestar porque não tive acesso ao processo. É uma questão pessoal dela [a ex-funcionária] comigo e com o presidente [Oswaldo Lopes]. Nego, com certeza”. Oswaldo Lopes, presidente da TV pública do Amazonas, afirmou que “nunca houve e nem haverá qualquer tipo de ilícito”, acrescentando que há um “adiantamento pessoal para custeio de viagens, cujo reembolso do valor emprestado ou adiantado é devolvido sem nenhum ônus”.
O governo do Amazonas e a TV Encontro das Águas afirmaram que o inquérito da Polícia Civil foi arquivado, mas não responderam sobre as investigações em andamento no MP. A EBC não respondeu.
Procurada, Nauzila Campos disse: “Fiz o que me cabia. Sofri retaliações e precisei pedir exoneração, mas não me arrependo”.