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Desigualdade social no Brasil é “obscena”, diz diretor da Oxfam

Em entrevista à coluna, Amitabh Behar atacou desigualdade social e elogiou proposta do governo Lula para taxar super-ricos

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Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam Internacional
1 de 1 Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam Internacional - Foto: Divulgação

O diretor-executivo da Oxfam Internacional, Amitabh Behar, classificou os níveis de desigualdade social no Brasil de “obscenos” e elogiou a proposta do governo Lula para taxar os super-ricos. Em entrevista à coluna, Behar disse que a desigualdade global está crescendo dramaticamente.

O indiano participará do Fórum Internacional Tributário, que reunirá especialistas do tema em Brasília entre esta segunda-feira (28/8) e a próxima quarta-feira (30/8). O evento é organizado pelo Sindicato dos Auditores-Fiscais da Receita Federal (Sindifisco Nacional) e outras entidades do setor.

“O 1% mais rico do Brasil controla 50% da riqueza nacional. E 90% da população têm só 20% da riqueza. São níveis obscenos de desigualdade. Os últimos 40 anos de experiência mostram que cortes de impostos para os super-ricos só levam a uma sociedade desigual”, afirmou Behar.

Eis os principais trechos da entrevista:

Qual é o maior perigo da desigualdade social?

Em primeiro lugar, é moralmente inaceitável. O 1% mais rico ficou com 50% da riqueza produzida nos últimos dez anos. Nos últimos três anos, desde a pandemia, a proporção passou para 1 a 75. A desigualdade global está crescendo dramaticamente. Mais de 800 milhões de pessoas estão dormindo com fome no mundo. Está claro que estão famintas como uma consequência da concentração de renda.

Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam Internacional
Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam Internacional

Que efeitos políticos podem aparecer?

A desigualdade também leva à quebra do tecido social, com sociedades cada vez mais polarizadas pela renda. Derruba a crença nas instituições governamentais e leva ao colapso social e à agitação. A mesma desigualdade social de que estamos falando está também provocando diretamente uma enorme crise climática. É o mesmo sistema econômico, que essencialmente privilegia os super-ricos e não distribui a riqueza aos pobres.

O governo brasileiro prepara uma taxação aos super-ricos. Como avalia a proposta?

Estou muito animado em saber que o Brasil está considerando seriamente taxar os super-ricos. O top 1% do Brasil controla 50% da riqueza nacional. E 90% da população têm só 20% da riqueza. São níveis obscenos de desigualdade. Os últimos 40 anos de experiência nos mostram que cortes de impostos para os super-ricos só levam a uma sociedade desigual. Uma pesquisa aponta que 86% dos brasileiros querem taxar os super-ricos. É também inteligente politicamente para o governo. Contudo, também é necessário garantir que a alta nas receitas do governo seja revertida em investimentos em educação e saúde públicas. Na Índia, o meu país, há quem fique feliz com novos bilionários. É um sinal de fracasso.

Qual é o contexto da desigualdade social global nas últimas décadas?

Nos anos 1980, houve a seguinte conclusão em países como os Estados Unidos: “Não vamos taxar os ricos. Os mercados vão reduzir a pobreza”. Mas estávamos vendo claramente que era só um mito, uma farsa. O corte cada vez maior de impostos aos ricos fez com que o orçamento do governo diminuísse, o que afetou o investimento em serviços públicos como educação e saúde. Há diversos estudos que mostram que educação e saúde públicas geram uma sociedade mais igualitária.

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