Depois de Marielle, PT não pode ir com o Paes, diz Tarcísio Motta
Pré-candidato à Prefeitura do Rio pelo PSol, Tarcísio Motta cobra do PT rompimento com Eduardo Paes
atualizado
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O deputado Tarcísio Motta, do PSol do Rio de Janeiro, está determinado a cobrar o Partido dos Trabalhadores a romper com Eduardo Paes e não apoiar o atual prefeito na tentativa de se reeleger no Rio neste ano. Em entrevista à coluna, Tarcísio, que é pré-candidato ao cargo, defendeu que o apoio seria um erro em especial após a conclusão do caso Marielle, que apontou os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, que foram aliados de Paes, como mandantes do assassinato.
Tarcísio pontuou que a esquerda precisa romper com a normalização de ter a milícia entranhada na política e nos governos. Além da relação com os irmãos, que foram presos pela Polícia Federal em 25 de março, Paes também é aliado da deputada estadual Lucinha, que foi alvo da PF em dezembro de 2023 por ser, segundo as investigações, “braço político” da milícia na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Assista e leia a entrevista abaixo.
Você considera que o eleitorado carioca fará a conexão entre a conclusão das investigações do assassinato de Marielle e a proposta de um novo projeto de Rio de Janeiro nesta eleição municipal?
Eu acho que é tarefa nossa apontar esse debate nas eleições municipais. A Marielle foi assassinada por um marco de poder que está presente no Rio de Janeiro. Uma estrutura de poder que envolveu um conselheiro do Tribunal de Contas do Estado; um ex-vereador e deputado federal, secretário municipal de Ação Comunitária; e um chefe de Polícia Civil. Se nós não entrarmos nesse debate sobre a necessidade de refundar o Rio de Janeiro, incluindo sua política, a gente vai continuar refém desses grupos, desse modo miliciano de governar. Está claro: Marielle foi assassinada para dar um recado para aqueles que enfrentavam as milícias, e é essencial que a gente debata isso com a sociedade.
O contexto político mostra que o PT deve seguir com o prefeito Eduardo Paes na eleição deste ano. Paes tem aliados que foram alvos recentes da Polícia Federal por envolvimento com milícias, como a família Brazão e a deputada Lucinha. Por que você cobra o PT por seguir com o prefeito Eduardo Paes?
Não é possível o Eduardo [Paes] não responder pelas suas históricas ligações com as milícias. Tem o debate da Lucinha e tem a questão de que, até um mês atrás, o Chiquinho Brazão era secretário municipal de Ação Comunitária. Portanto, nós estamos fazendo um chamado ao PT. É preciso que o PT rompa com essa galera e que se coloque-se claramente na defesa de que é preciso refundar o Rio de Janeiro. Nós sabemos das implicações dessa ruptura, do debate que o PT faz olhando para 2026 e da necessidade de derrotar bolsonarismo, mas, em 2018, o Eduardo Paes, quando foi perguntado se preferia o Fernando Haddad ou o Jair Bolsonaro, disse que preferia o Paulo Guedes. Ele só entrou na campanha do Lula [em 2022] no segundo turno e nunca rompeu com esse marco de poder (milícias) no Rio de Janeiro. Ainda dá tempo para o PT vir conversar com a gente para montar uma frente de esquerda que apresente uma ruptura com esse marco de poder. É preciso dar o passo decisivo nesse cenário inicial da campanha.
Na próxima terça-feira (2/4), acontecerá o ato de filiação da Anielle Franco no PT. Qual a importância de ter a Anielle Franco junto na campanha com o PSol e não com o Eduardo Paes?
Nosso chamado não é só para a Anielle, mas para todo mundo do PT. Nós precisamos enfrentar as milícias, esse é um chamado público. O nosso adversário fundamental é o bolsonarismo, mas, no Rio de Janeiro, o nosso adversário também será a milícia, que é o nosso adversário a ser derrotado. Com milícia não tem jogo, não é possível ter pacto, não é possível normalizar. Então, eu considero absolutamente natural a filiação da Anielle ao PT, ela é uma pessoa de luta e estamos juntos nesse processo. E nós vamos chamar todos aqueles que estiverem dispostos a enfrentar devidamente as milícias a estarem conosco nisso. As contradições serão cobradas e serão ditas, mas nós vamos centrar fogo naqueles que são nossos inimigos: o bolsonarismo, as milícias e o Eduardo, que sempre esteve ao lado desses grupos.
É viável um projeto eleitoral que não esteja em algum momento ao lado dessas pessoas? Em 2018, Marcelo Freixo teve conversas com pessoas como Zito, de Duque de Caxias, e Mário Tricano, de Teresópolis, ambos investigados no passado por ligações diversas com o crime.
Essa constatação de que não há viabilidade de projeto se você não tiver com os milicianos do teu lado é exatamente o que a milícia quer que todo mundo pense e é exatamente com o que precisamos romper. O [Marcelo] Freixo teve que sair do PSol para fazer esse tipo de articulação. Ele sempre disse que era para ampliar as alianças e que ele precisava sair do PSol para ter mais amplitude, mas note que os Brazão pesquisaram várias figuras públicas de quem? Do PSol. O assassinato de Marielle Franco é a escolha de uma figura do PSol. Portanto, na minha opinião, não há escapatória. O que a gente precisa é parar de naturalizar isso. Eu não tenho como fazer aliança e normalizar a existência do assassino da minha companheira do meu lado.
Essa é a primeira eleição, pelo menos desde 2012, que Marcelo Freixo e o PSol não estarão do mesmo lado. Ele já não estava no partido na eleição de 2022, mas foi apoiado pelo no partido. Como o eleitorado entenderá isso?
O Freixo é uma figura fundamental na nossa história, isso é inegável. O Freixo teve uma resposta diferente da que eu dou pra esse debate que vocês colocaram para mim hoje aqui, sobre o que fazer para ganhar a eleição. Ele entendeu que, para ter uma vitória eleitoral, ele precisaria ter maior capacidade de amplitude nas alianças eleitorais. Eu defendeo que nós vivemos tempos em que a polarização está nos levando a uma necessidade de firmeza nas propostas e que a gente não pode perder a nossa identidade. É claro que eu dei uma resposta diferente da resposta do Freixo, e espero que essa disputa seja uma disputa de forma franca, mas fraterna. O Freixo não é meu inimigo e espero que ele saiba disso. E ele sabe que eu também não sou dele. A gente dá uma resposta diferente a uma pergunta que é legítima e válida.