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Coronel nega ter participado de jantar de suposta propina: “Mesmo shopping, mas num café”

Martinelli ataca CPI: “Muita confusão, fofoca”

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Coronel Alexandre Martinelli
1 de 1 Coronel Alexandre Martinelli - Foto: Reprodução

O coronel Alexandre Martinelli, ex-subsecretário de Assuntos Administrativos do Ministério da Saúde, negou nesta quinta-feira (1º/7) ter participado do jantar com suposta oferta de propina por vacinas, ao contrário do que alegou mais cedo na CPI da Covid o policial Luiz Paulo Dominguetti. Em entrevista à coluna, Martinelli afirmou que estava no mesmo shopping no dia do jantar no restaurante, em 25 de fevereiro, mas em um café.

De acordo com Martinelli, ele nunca havia visto Dominguetti. Contudo, é amigo há 30 anos de um dos participantes do jantar: Marcelo Blanco, militar que foi assessor no Departamento de Logística do Ministério da Saúde. O chefe do setor é Roberto Ferreira Dias, também presente ao jantar, e que foi exonerado nesta quarta-feira (30/6), acusado de ter pedido propina de US$ 1 por dose de vacina, como mostrou a repórter Constança Rezende.

Confrontado com a foto de Martinelli, Dominguetti foi questionado pelo vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues, se ele estava no jantar. “Acredito que seja”, respondeu o depoente, e o relator da comissão, Renan Calheiros, disse em seguida: “Estava acompanhando o pessoal no restaurante”.

Interrompido em seu planejamento de investimentos financeiros para o próximo semestre por mensagens sobre a acusação de Dominguetti, Martinelli se disse triste com o episódio e atacou a CPI: “O que eu vejo ali é muita confusão, fofoca, acusações”. A defesa do coronel acionará a Justiça contra Dominguetti e a CPI.

Leia os principais trechos da entrevista:

Ao contrário do que Dominguetti disse à CPI, o senhor não participou do jantar com denúncia de pedido de propina?

Não tinha como ser eu, não fui eu. Com certeza ele (Dominguetti) se confundiu. Eu sei onde é que eu estava, o que estava fazendo, com quem eu estava na hora e dia do jantar. Não tem como ser eu no dia. Não conheço o Dominguetti, não estava acompanhando a CPI e nunca participei de nenhum jantar, almoço ou qualquer assunto que trate sobre vacina. Eu sou muito amigo do Blanco (Marcelo Blanco, que participou do jantar), estávamos sempre juntos, somos da turma da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) em 1993 e trabalhamos no Ministério da Saúde. De repente alguém pegou e disse: “Era esse aqui?”, “Era esse”. Sei lá se falaram se o cara era careca…

O senhor estava em Brasília?

Estava em Brasília. Até por uma infeliz ou até feliz coincidência, eu estava no Brasília Shopping, onde tem esse restaurante (Vasto, local do jantar), mas estava numa cafeteria, no Fran’s Café, com uma outra pessoa, um colega, major Fernandes. Eu tenho o horário da saída, a conversa com minha filha no WhatsApp. Ela pergunta: “E aí, vai demorar? Não? Tá com quem?”, e eu digo com quem estou. Creio que se forem até as últimas consequências, tem filmagens no shopping. O Fran’s Café fica numa área comum do shopping, bem no centro. Saí até relativamente cedo para quem ia jantar. Tenho o horário do pagamento da minha saída no estacionamento. Pago tudo pelo banco digital, fica tudo registrado. Não tenho nada a ver com esse jantar aí.

O senhor esteve no café no início da noite?

Foi. Não tenho o comprovante de pagamento do Fran’s porque foi meu amigo que pagou, né, cada um paga uma vez. Aí é “Não, eu faço questão, paguei”. Mas eu tenho a saída do estacionamento e ele como testemunha.

O senhor já foi ao restaurante Vasto, no mesmo shopping?

Fui. Conheci agora em 15 de abril, até postei no Instagram. Mas aí estava com outros colegas, só tinha militar. Foi um almoço.

Desta vez, em abril, o Blanco estava?

Em abril ele estava. Estávamos eu, Blanco, um outro colega advogado e mais um outro coronel. Todos da mesma turma. Somos amigos há mais de 30 anos, os milicos da mesma turma. Fomos almoçar para bater papo. Até então eu não conhecia o restaurante.

Por quanto tempo o senhor trabalhou no Ministério da Saúde?

A equipe do Eduardo Pazuello me convidou, fui nomeado em 20 de maio de 2020. Eu trabalhava no Quartel-General do Exército na época. Aceitei a missão de imediato, falei: “Quero fechar com chave de ouro, trabalhar numa coisa nova, poder contribuir”. Fiquei oito meses. Fui exonerado em 20 de janeiro de 2021, e passei para a reserva no Exército no dia seguinte. E segui minha vida para descansar também. 35 anos de serviço, já está bom.

Em que departamento o senhor trabalhou no ministério? Já tratou de vacina?

Subsecretaria de Assuntos Administrativos. Era a parte meio. Pagamento de pessoal, estrutura organizacional, editoração… Era a área sob minha chefia. A demanda de vacina vinha da Secretaria de Vigilância Sanitária, e a licitação era feita pelo Departamento de Logística. Não fazia parte das nossas atribuições.

O senhor conheceu Roberto Dias, diretor de Logística, no ministério?

Sim. A gente se via de vez em quando lá. Não tinha afinidade ou contato com ele. O Departamento de Logística e a minha subsecretaria são subordinados à Secretaria-Executiva. Volta e meia o secretário-executivo queria fazer uma reunião com os órgãos subordinados e participávamos de uma forma geral. Mas a questão de vacina era um assunto muito específico. Não passava pela gente.

Nos meses em que ficou no ministério, notou algum episódio estranho?

O que me chamou a atenção foi o lado positivo. Encontrei um time de profissionais de primeira linha, motivado, trabalhador, que faz um trabalho de formiguinha.

Como ficou sabendo de que foi citado na CPI?

Eu estava investindo. Estou trabalhando num novo negócio, gosto muito da parte de investimento em ativos no mercado de capitais. Pô, eu estava de olho na Bolsa, montando carteira de investimentos do segundo semestre, estava totalmente alheio. Aí começaram a chegar mensagens, até do pessoal que geralmente não trata comigo direto. “Você apareceu aí, foi citado”. Respondi: “Pô, de forma meritória ou demeritória?”. “Não, foi demeritória, falaram que você estava num jantar e tal”. Foi aí que eu fui atrás. Eu nunca vi a figura de Dominguetti. É Dominguetti o nome dele, né?

Como foi a sensação?

É ruim, né? Você tem a sua imagem exposta ali a um escândalo nacional. A gente é conhecido no Brasil todo, tem amigos em todas as regiões, com certeza é demeritório. Mas acredito que no decorrer dos depoimentos vai ficar claro que não era eu a pessoa que estava nesse jantar. Por isso eu estou mais tranquilo. Mas é ruim. Alguns que te conhecem vêm falar contigo e outros que te conhecem, mas nem tanto, ficam com aquela imagem: “Pô, o cara está na confusão, o cara estava junto”.

O que achou do episódio?

Confusão, né? Eu sei, como ninguém mais pode saber, que eu não estava lá. Então para eu ser citado, dá para ver que o pessoal está varando, né, está fora do caminho, perdendo um pouco o objetivo. Aí você vai ferindo vários tipos de profissional. O que me entristece é que em toda a minha missão no Exército, fizemos trabalho de formiguinha para as coisas darem certo. Eu não noto isso nos nossos representantes. Enxergo ali que quanto maior o escândalo, maior o problema, melhor. Está faltando um pouco de a gente torcer para o Brasil dar certo, buscar como resolver. É uma das razões por que não estava nem acompanhando essa CPI. O que eu vejo ali é muita confusão, fofoca, acusações. A própria forma como minha imagem apareceu ali… Pô, se você não tem certeza, mostra a foto de uma pessoa que sempre trabalhou no Brasil inteiro? Expõe gratuitamente, de forma frágil? Achei a questão muito amadora. Não parece que as pessoas ali realmente representam o povo. Mas acredito que isso vai se esclarecer e ficar como mais uma trapalhada dos nossos representantes, infelizmente.

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