Comissão de Anistia: ministério apura perseguição a “damaristas”
Relato foi enviado à Ouvidoria dos Direitos Humanos; crise entre ministério e Comissão de Anistia ganha novo capítulo
atualizado
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O Ministério dos Direitos Humanos apura uma denúncia de suposto assédio moral da cúpula da Comissão de Anistia a servidores herdados da gestão da bolsonarista Damares Alves. O relato anônimo de um funcionário que trabalha no colegiado foi enviado à Ouvidoria da pasta no último dia 30.
O servidor afirmou que o assédio moral da chefia do colegiado é frequente, o que afeta a saúde da equipe. Também disse que a cúpula da comissão age de forma autoritária ao duvidar publicamente do grupo e afirmar que os funcionários são da gestão de Damares Alves. Ainda segundo a denúncia, servidores foram acusados de expressar divergências ideológicas com a comissão que reconhece vítimas da ditadura militar.
A presidente da Comissão da Anistia, Eneá de Stutz, afirmou à coluna: “Não vou comentar, até porque não conheço a denúncia. Apenas observo que eu não trabalho na Comissão de Anistia e nem no MDHC. Trabalho na UnB. Portanto, eu não tenho subordinados nem na comissão e nem no MDHC. Minha atuação, assim como das demais pessoas integrantes do conselho, é eventual, voluntária e não remunerada”.
A coordenadora-geral da comissão e braço direito de Stutz, Sônia Alves, que trabalha na Assessoria de Defesa da Democracia, Memória e Verdade da pasta, afirmou: “Desconheço essa denúncia e jamais agiria dessa forma”.
O episódio é mais um capítulo da crise entre o Ministério dos Direitos Humanos e a Comissão de Anistia, órgãos diretamente ligados. Como informou a coluna, no último dia 31 uma ativista do colegiado criticou o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, em uma carta enviada a Lula.
Rosa Cimiana, que representa anistiados políticos na comissão, afirmou que a gestão de Almeida demorou a oficializar anistias de vítimas da ditadura militar e retirou faixas de manifestantes em frente ao ministério.
“Se o desejo do ministro Silvio Almeida é por holofotes, ele precisa trabalhar e parar de atrapalhar aqueles que trabalham para a construção dos direitos humanos no país”, afirmou a ativista, que atua junto à Comissão de Anistia desde que o colegiado foi fundado, em 2002. O pai de Cimiana foi anistiado em 2003, 21 anos depois de sua morte.