Campos Neto ainda não incluiu na agenda reunião secreta com Bolsonaro
BC disse que reunião secreta entre Campos Neto e Bolsonaro, no dia que Copom elevou a Selic, não constava na agenda por “falha operacional”
atualizado
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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ainda não incluiu na agenda oficial a reunião que teve com Jair Bolsonaro, então presidente da República, no dia em que o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros da economia (Selic), em 4 de maio de 2022.
A reunião com Bolsonaro foi revelada pela coluna às 20h31 desta quinta-feira (10/8). O BC confirmou o encontro, mas negou que Campos Neto tenha cometido irregularidades. A instituição atribuiu a ausência do compromisso na agenda oficial a uma “falha operacional”. Não explicou, porém, a razão de a reunião coincidentemente não constar da agenda pública de Bolsonaro.
O encontro aparecia numa “agenda confidencial” de Bolsonaro que era enviada a um grupo seleto de assessores do Palácio do Planalto. A reunião ocorreu entre as 7h30 e as 8h do dia 4 de maio do ano passado, no gabinete presidencial. A informação aparece em um e-mail com título “Agenda Confidencial do PR: 04/5/2022”, ao qual está anexado o documento “04_5_2022 Confidencial”. A mensagem foi enviada para Mauro César Cid, então ajudante de ordens da Presidência, às 20h56 do dia anterior ao encontro. O e-mail partiu da assessora Gianne Amorim P. Portugal, que trabalhava no gabinete adjunto de Agenda da Presidência.
A reunião do Copom começou menos de duas horas depois, às 9h37, segundo a ata do BC. Campos Neto e os outros integrantes do comitê encerraram o encontro e divulgaram a ata às 19h12. Por unanimidade, o colegiado decidiu elevar a taxa Selic em um ponto percentual: de 11,75% a 12,75%. Era o maior patamar em cinco anos.
Integrantes do Copom devem respeitar um período de silêncio que se estende da quarta-feira da semana anterior àquela em que ocorre a reunião ordinária do comitê até o momento da publicação da ata do encontro. Durante esse período, os dirigentes não podem emitir declarações relacionadas ao Copom em discursos, entrevistas à imprensa e encontros com pessoas que possam ter interesse nas decisões do comitê. Naquele momento, Bolsonaro tinha como um dos principais flancos de sua campanha pela reeleição a pressão da inflação.
Na ata, os diretores do BC afirmaram que a decisão levou em conta a inflação, que, segundo eles, seguia “surpreendendo negativamente”.