Caixa avalia ideologia ao promover funcionários no governo Bolsonaro
Após pesquisa interna, servidores considerados de esquerda são vetados, o que não acontece com os alinhados ao governo Bolsonaro
atualizado
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A Caixa adota critérios políticos ao selecionar quais funcionários assumirão cargos de comando na gestão de Pedro Guimarães, atual presidente do banco. Após uma pesquisa interna, servidores considerados de esquerda são vetados, o que não acontece com os alinhados a Jair Bolsonaro, à direita. Guimarães é bolsonarista e está à frente da estatal desde o primeiro dia do governo Bolsonaro.
O nome formal da consulta é “pesquisa de integridade”, mas é apelidada por funcionários de KGB. Trata-se de uma referência à polícia secreta da União Soviética, responsável por monitorar possíveis dissidentes do regime comunista vigente no século passado.
Na pesquisa de integridade, as redes sociais dos postulantes e bancos de dados públicos são esquadrinhados em busca de informações. Se for encontrado algo que ligue o funcionário a partidos ou ideologias de esquerda, ele não passa na seleção. Mas nenhum obstáculo à promoção aparece se o candidato mostrar afinidade com o espectro político da direita ou com o governo Bolsonaro. Nessa etapa, o foco é traçar um perfil ideológico do funcionário do banco.
A coluna teve acesso a parte do formulário da pesquisa feita pela Superintendência Nacional de Integridade e Controle (Suinc). A Suinc é subordinada à Vice-Presidência de Riscos da estatal. Em um dos pontos, questiona-se a existência de postagens públicas nos últimos cinco anos veiculando conteúdo político ou apologia ideológica. Em outro, o objetivo é saber se o nome da pessoa aparece em sites com “registros de manifestações de apoio/crítica relacionados a questões políticas”.
“Em nenhum cliente em que atuei ou atuo vejo essa prática acontecer. Enquanto profissional de RH, também nunca fiz. Existe algo muito importante a ser considerado, que é a liberdade individual”, disse o consultor de RH J.P. Coutinho, que já atuou em grandes empresas como Bradesco e Magazine Luiza.
Para a coordenadora da Comissão Executiva de Empregados da Caixa no Sindicato dos Bancários do DF, Fabiana Uehara, a existência desses critérios “é absurda, uma ilegalidade”. “Isso não tem nada a ver com o profissional que a pessoa é, independente da sua posição política”, disse.
Ela confirma que a Suinc sempre realizou a pesquisa de integridade, mas que os novos critérios chegaram junto com Pedro Guimarães, na gestão Bolsonaro. “A princípio a superintendência fazia a avaliação geral dos candidatos, mas na atual gestão começou-se a fazer uma varredura das redes sociais e a checar se a pessoa era filiada a algum partido. Se tiver qualquer postagem de esquerda, ela não é selecionada”, apontou.
Procurada, a Caixa afirmou que a pesquisa é uma “prática comum no mercado, conhecida como ‘Background Check de Integridade’, que consiste na verificação de antecedentes dos candidatos a cargos na alta gestão”.
De acordo com a instituição financeira, são procuradas postagens, comentários ou compartilhamentos que atentem contra a imagem da caixa ou revelem assuntos sigilosos. Entretanto, a assessoria de imprensa do banco ignorou a menção feita na pesquisa a comentários políticos.