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Briga bilionária por terras envolve Thereza Collor e políticos de AL

Na disputa pelo Grupo Laginha, nomes de políticos surgiram em lista de invasores e agricultor tenta acionar o Vaticano

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A Usina Guaxuma, cujas terras estão em disputa na ação judicial sobre o Grupo Laginha
1 de 1 A Usina Guaxuma, cujas terras estão em disputa na ação judicial sobre o Grupo Laginha - Foto: Reprodução

A briga bilionária pelas terras do grupo Laginha, em Alagoas, envolve a ex-esposa de Pedro Collor – irmão de Fernando –, Thereza Collor, políticos acusados de invadirem terras de usinas de cana-de-açúcar e até um produtor rural que pede a intervenção do Vaticano na disputa.

O enredo, cheio de reviravoltas e intrigas familiares, começou após a morte do empresário e ex-deputado federal João Lyra, em 2021. A briga entre os herdeiros do Grupo Laginha, do qual ele era dono, arrasta-se desde então. De um lado, está a filha Maria de Lourdes Pereira de Lyra, que é a inventariante, e administradora judicial da massa falida. Do outro, estão os irmãos Antônio Lyra, Guilherme Lyra, Ricardo Lyra e Thereza Collor.

Um dos primeiros temas de discordância é sobre o valor dos ativos do grupo, estimado entre R$ 2 bilhões e  R$ 4 bilhões. A disputa fundiária, com dezenas de personagens, envolve episódios como cana transportada clandestinamente por caminhões durante a madrugada e bloqueios para impedir que a administradora judicial tirasse fotos das invasões das terras das usinas.

Há cerca de três meses, foi anexada em um dos processos uma lista de 39 invasores de terras do grupo, e entre eles está o deputado federal Marx Beltrão, do PP; o ex-deputado Joaquim Beltrão, tio de Marx; e a prefeita de Feliz Deserto, Rosiana Lima Beltrão, tia de Marx.

Também constam da lista de supostos invasores outros parentes dos Beltrão, como Márcio Beltrão Lima Siqueira, filho de Rosiana; Thalys Beltrão Siqueira, irmão de Marx Beltrão, que já foi preso por receptação; Gutemberg Breda Sobrinho; e Tiles Henrique Siqueira Lemos. Cada um, segundo essa lista, estaria ocupando uma parcela da produção de cana.

A massa falida já moveu ação de reintegração de posse de terras da Usina Guaxuma, a mais valiosa do grupo, contra Joaquim Beltrão e outros fazendeiros. Recentemente, a administradora judicial que controla a massa falida lançou também um edital para o uso das terras da usina.

Tereza Collor e seu marido, Gustavo Halbreich
Tereza Collor e seu marido, Gustavo Halbreich

As empresas que venceram têm ligação com invasores que já estavam lá antes, inclusive com a família Beltrão. Os irmãos que estão contra a administradora judicial questionam o edital, alegando que ele teria favorecido os invasores. A administradora, por outro lado, nega a acusação e diz que houve um prazo razoável para que qualquer um oferecesse proposta.

Os próprios herdeiros também já foram acusados de tentar se apoderar de terras do grupo nos processos em andamento. Uma empresa no nome do marido de Thereza Collor, uma das filhas de João Lyra, por exemplo, construiu uma pista de aeroporto em um terreno que seria da massa falida.

O aeroporto ficava em Coruripe (AL) ao lado de um imóvel de Gustavo Halbreich, marido de Thereza, onde está sendo construído um resort. A pista foi interditada em maio por uma ordem judicial que teve dificuldade de ser cumprida. Numa primeira tentativa, o portão estava obstruído por um monte de areia para impedir que o oficial de justiça chegasse ao local.

Entrada da pista de pouso interditada com areia para impedir oficiais de justiça de chegarem lá
Entrada da pista de pouso interditada com areia para impedir oficiais de justiça de chegarem lá

O casal Thereza Collor e Gustavo Halbreich alega que a terra é propriedade da empresa, e não da massa falida do Grupo Laginha. Em uma entrevista ao jornalista Sérgio Quintella, Thereza Collor acusou a irmã, Lourdes Lyra, de cometer irregularidades como inventariante. Depois da interdição, a construtora conseguiu um acordo liberando a pista para uso por 180 dias.

Um oficial de justiça também constatou que há nas terras da massa falida uma criação de gado que pertenceria a Guilherme Lyra, outro herdeiro de João Lyra que se opõe à administradora. Na casa ocupada por um homem que se identificou como funcionário dele, foram encontrados mais de 100 projéteis de arma de fogo, além de coletes balísticos, cintos e coldres.

Guilherme Lyra disse à coluna que a alegação é falsa e que o funcionário que deu o depoimento dizendo que a terra era dele depois mudou sua versão. “Não foi um funcionário e sim um invasor das terras, alguém que mudou de versão e erro foi reconhecido pelo Tribunal de Justiça de Alagoas”, disse, através da assessoria de imprensa.

Em meio à disputa, a expectativa é que a falência ainda leve alguns meses, para que seja concluída a liquidação dos ativos. Enquanto isso, os envolvidos no processo tentam os mais diversos recursos.

Genival da Lima Feitosa, o agricultor que apresentou à Justiça a planilha com a lista de invasores, por exemplo, chegou a pedir que o Vaticano fosse acionado para comprovar que a área que está ocupando pertence à Igreja Católica.

Na planilha, Marx Beltrão consta como um dos ocupantes de 259 hectares nas fazendas Cruzeiro e Santa Maria. Rosiana, a prefeita, ocuparia terras na Ilha da Rocheira e Usina Guaxuma. Thalys, irmão de Marx, na Fazenda Nova. Joaquim Beltrão, na Usina Guaxuma e no Sítio Novo. A área supostamente ocupada por Joaquim é a maior de todos da lista, com 1.300 hectares.

O deputado Marx Beltrão foi procurado pela coluna desde 15 de setembro, mas não respondeu. A prefeita de Feliz Deserto, Rosiana Beltrão, foi procurada por meio da assessoria de imprensa da prefeitura, mas também não retornou. Os demais tampouco retornaram os contatos da coluna. O espaço está aberto para eventuais manifestações.

Em nota, os irmãos que questionam a administradora judicial disseram que “espera-se que as autoridades competentes apurem com vigor os múltiplos indícios de ilícitos, relacionados não apenas às invasões, mas também ao envolvimento nos contratos de exploração da cana-de-açúcar plantada nas terras da Usina Guaxuma, resultantes dos editais de 2022 e de 2023”.

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metropoles.comGuilherme Amado

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