Bolsonaro mente ao dizer que Lula defendeu voto impresso na Venezuela
Bolsonaro enviou um vídeo a aliados em que tentou associar a Lula a exigência do voto impresso para legitimar eleição na Venezuela
atualizado
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Jair Bolsonaro não perde o velho hábito de mentir. Nas últimas horas enviou a seus contatos no WhatsApp o trecho de uma entrevista em que Lula cobra transparência na eleição venezuelana e pede a divulgação por aquele país de um documento semelhante aos boletins de urna existentes no processo eleitoral brasileiro. Bolsonaro mentiu na mensagem enviada a seus contatos dizendo que Lula exigia que a Venezuela mostrasse o voto impresso, tal qual Bolsonaro queria implentar no Brasil, e o Congresso Nacional não deixou.
Disse Lula no trecho da entrevista divulgado por Bolsonaro:
“Quando você vota em uma máquina eletrônica como aqui, tem um tíquete. Aquele tíquete é colocado em uma urna. Então você tem o voto eletrônico e tem a urna”.
Acompanhado de vídeo, dizia uma mensagem:
“Lula aguarda a contagem física (papel impresso) dos votos na Venezuela para declarar (ou não) Maduro reeleito (vídeo)”.
No vídeo, que é editado e foi compartilhado primeiro nas redes sociais do deputado Evair de Melo, do Progressistas do Espírito Santo, Lula também disse que o governo brasileiro quer que “o Conselho Nacional [da Venezuela], que cuidou das eleições, diga publicamente quem é que ganhou as eleições, porque até agora ninguém diz quem ganhou”.
Na verdade, o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela já declarou Nicolás Maduro como presidente reeleito do país, mas não divulgou as atas eleitorais. A Suprema Corte proibiu a divulgação desses documentos.
Lula conclui o vídeo afirmando que ainda não reconhece a reeleição de Maduro e que ele “sabe que está devendo uma explicação para a sociedade brasileira e para o mundo”. E finalizou dizendo que a Venezuela “tem que apresentar os dados”. “Os dados têm que ser apresentados por algo que seja confiável”, concluiu.
Segundo o advogado Alexandre Rollo, especialista em direito eleitoral e professor da pós-graduação sobre o tema no TRE-SP, o que Lula citou no vídeo não são os votos impressos, mas algo semelhante aos boletins de urna, que existem no Brasil, onde são registrados quantos votos os candidatos tiveram naquela urna, além do quantitativo de votos brancos, nulos e nas legendas.
Explicou o advogado:
“Na Venezuela, segundo consta, os resultados das votações são registrados em atas. São essas atas, com os resultados, que estão sendo exigidas pelo governo brasileiro e muitos outros, para que o resultado da eleição seja reconhecido. Seria como exigir, no Brasil, a divulgação dos boletins de urna com os resultados das votações, algo que a Justiça Eleitoral brasileira sempre fez aqui. Não se trata, portanto, de voto impresso. Trata-se de documento oficial com os resultados. No Brasil, boletim de urna. Na Venezuela, atas das votações”.