Bolsonaro elogiou “discrição” de Mauro Cid ao deixar governo
Carta de 31 de dezembro de 2022, assinada de próprio punho por Bolsonaro, diz que Cid pôs integridade física em risco para cumprir tarefas
atualizado
Compartilhar notícia
Uma carta assinada de próprio punho por Jair Bolsonaro reforça os elos que ele mantinha com o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência que está preso. No documento, obtido pela coluna, Bolsonaro elogiou a “coragem moral, camaradagem e discrição” do assessor, que nesta sexta-feira (11/8) passou a ser suspeito de operar um esquema de venda ilegal de presentes oficiais da Presidência.
“Durante todo o período em que trabalhou como chefe de minha Ajudância de Ordens, o Ten. Cel. Cid desempenhou suas funções com ação destacada no cumprimento do dever, ultrapassando muitas vezes os limites normais e comuns de bravura, com entusiasmo e profissionalismo, cumprindo-as com altos padrões de eficiência e eficácia, além das obrigações normais inerentes a sua função, colocando, por vezes, sua integridade física em risco”, dizia a carta assinada por Bolsonaro.
O ex-presidente elencou outros elogios a Cid no texto. “Suas qualidades profissionais, aliadas à sua coragem moral, camaradagem e discrição, fizeram com que angariasse o respeito e a admiração de todos aqueles que tiveram o privilégio de partilhar sua alegre e dinâmica companhia.”
O documento é datado de 31 de dezembro de 2022, mas foi enviado para o e-mail funcional de Osmar Crivelatti, braço-direito de Cid na ajudância de ordens, no dia 29 de novembro. À época, segundo a Polícia Federal, Cid já atuava na venda ilegal dos presentes que Bolsonaro recebia de autoridades estrangeiras.
A PF investiga Cid como o operador de uma suposta organização criminosa de venda de presentes recebidos pelo Estado brasileiro no exterior. A corporação cumpriu mandados de busca e apreensão na casa do pai de Cid, o general Mauro César Lourena Cid; do tenente Osmar Crivelatti; e de Frederick Wassef, advogado da família Bolsonaro. Em áudio interceptado pela PF, o ex-ajudante de Bolsonaro citou US$ 25 mil para o ex-presidente, além do desvio de presentes valiosos recebidos pelo governo brasileiro.
“Profissional íntegro e responsável, possuidor de ímpar capacidade de trabalho, foi dinâmico, preciso e objetivo, evidenciando sua capacidade de comandante, chefe e líder na coordenação dos trabalhos da Ajudância de Ordens, prestando toda assistência a mim e à minha família de forma ininterrupta e imediata, deixando, por muitas vezes, o convívio de sua própria”, disse Bolzonaro, em outro trecho da carta.
Em maio deste ano, após a prisão de Cid pela falsificação de cartões de vacina, Bolsonaro procurou se distanciar do ex-ajudante de ordens e afirmou que não conversava mais com o assessor. “Peço a Deus que não tenha errado e que cada um siga sua vida”, afirmou, na ocasião.