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Bolsonaro teve agenda secreta com Campos Neto 2h antes de reunião do Copom

Bolsonaro e Campos Neto se reuniram em segredo antes de Copom subir Selic em 2022; inflação era principal flanco da campanha de reeleição

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Hélio Negão Jair Bolsonaro, então presidente da República, aperta a mão de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, no dia 28 de fevereiro de 2019
1 de 1 Hélio Negão Jair Bolsonaro, então presidente da República, aperta a mão de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, no dia 28 de fevereiro de 2019 - Foto: Marcos Corrêa/PR

Um e-mail obtido pela coluna revela que Jair Bolsonaro teve uma agenda secreta com o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, duas horas antes de o Comitê de Política Monetária (Copom) iniciar a reunião que elevou em um ponto a taxa básica de juros da economia (Selic), em maio de 2022. O encontro entre Bolsonaro e Campos Neto não foi citado nas agendas públicas da Presidência e do BC, mas consta de uma “agenda confidencial” do então presidente que era enviada a um grupo seleto de assessores do Palácio do Planalto. O BC confirmou à coluna que houve o encontro.

A reunião ocorreu entre as 7h30 e as 8h do dia 4 de maio do ano passado, no gabinete presidencial. A informação aparece em um e-mail com título “Agenda Confidencial do PR: 04/5/2022”, ao qual está anexado o documento “04_5_2022 Confidencial”. A mensagem foi enviada para Mauro César Cid, então ajudante de ordens da Presidência, às 20h56 do dia anterior ao encontro. O e-mail partiu da assessora Gianne Amorim P. Portugal, que trabalhava no gabinete adjunto de Agenda da Presidência.

A reunião do Copom começou menos de duas horas depois, às 9h37, segundo a ata do BC. Campos Neto e os outros integrantes do comitê encerraram o encontro e divulgaram a ata às 19h12. Por unanimidade, o colegiado decidiu elevar a taxa Selic em um ponto percentual: de 11,75% a 12,75%. Era o maior patamar em cinco anos.

Integrantes do Copom devem respeitar um período de silêncio que se estende da quarta-feira da semana anterior àquela em que ocorre a reunião ordinária do comitê até o momento da publicação da ata do encontro. Durante esse período, os dirigentes não podem emitir declarações relacionadas ao Copom em discursos, entrevistas à imprensa e encontros com pessoas que possam ter interesse nas decisões do comitê. Naquele momento, Bolsonaro tinha como um dos principais flancos de sua campanha pela reeleição a pressão da inflação.

Na ata, os diretores do BC afirmaram que a decisão levou em conta a inflação, que, segundo eles, seguia “surpreendendo negativamente”.

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O Banco Central afirmou que “nenhum tema relativo ao Copom foi tratado durante o referido encontro”. A coluna questionou quais foram os assuntos tratados entre Bolsonaro e Campos Neto, mas não houve resposta. “As regras do período de silêncio do Copom não vedam reuniões com agentes públicos”, disse o BC. A autarquia atribuiu a ausência da reunião na agenda pública de Campos Neto a uma “falha operacional”. O BC não explicou a razão de a reunião coincidentemente não constar da agenda pública de Bolsonaro.

O e-mail com o documento que cita a reunião secreta estava entre as milhares de mensagens que Cid esqueceu de deletar da conta que usou durante o período em que trabalhou na Presidência. As mensagens de Cid e de outros auxiliares de Bolsonaro foram enviadas à CPMI do 8 de Janeiro.

A autonomia do Banco Central, que veda o presidente da República de interferir nas decisões do Copom, foi aprovada durante o governo Bolsonaro e sancionada pelo próprio em 2021. Um dos objetivos da lei é blindar a autarquia de pressões políticas, inclusive do Palácio do Planalto.

Comparação com a agenda confidencial e a agenda oficial de Jair Bolsonaro no dia 4 de maio de 2022
Comparação com a agenda confidencial e a agenda oficial de Jair Bolsonaro no dia 4 de maio de 2022

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