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Biografia de Vinicius vai explorar 30 mil páginas sobre o Poetinha

Biografia escrita pelo jornalista Marcelo Bortoloti mergulha em acervo de Vinicius e deve ser lançada em 2026 pela Companhia das Letras

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Divulgação/Acervo/V.M. Empreendimentos Artísticos e Culturais LTDA
Vinicius de Moraes
1 de 1 Vinicius de Moraes - Foto: Divulgação/Acervo/V.M. Empreendimentos Artísticos e Culturais LTDA

O poeta, compositor, cantor e diplomata Vinicius de Moraes (1913-1980) vai ganhar uma nova biografia, escrita pelo jornalista Marcelo Bortoloti. O livro deve ser lançado pela Companhia das Letras em 2026.

Prevista para ser concluída por Bortoloti no fim de 2025, a obra vai mergulhar no vasto acervo documental de Vinicius. O arquivo sobre que o autor tem se debruçado, disponível na Fundação Casa de Rui Barbosa e digitalizado pela família do poeta, tem cerca de 30 mil páginas de documentos, entre correspondências, manuscritos, contratos e partituras, entre outros.

A riqueza documental da nova biografia de Vinicius de Moraes, a propósito, será o principal diferencial do livro em relação à lançada em 1994 pelo jornalista José Castello, vencedora do Prêmio Jabuti de melhor ensaio e biografia em 1995.

Além da dimensão artística de Vinicius, o trabalho também vai se aprofundar na vida de diplomata do Poetinha.

Amizade com Carmen Miranda em Hollywood

Da passagem de quatro anos de Vinicius pelos Estados Unidos, no primeiro posto diplomático que ocupou, no Consulado do Brasil em Los Angeles, nos anos 1940, por exemplo, a biografia vai mostrar o poeta entre o glamour da cidade, onde tinha casa em Hollywood, era amigo de Carmen Miranda e esbarrava com estrelas do cinema pelas esquinas, e suas angústias, tanto domésticas quanto ideológicas.

Em uma carta de maio de 1947 à poetisa chilena Gabriela Mistral, a que Marcelo Bortoloti teve acesso, Vinicius desabafa sobre o tamanho de sua casa em Los Angeles, onde vivia à época com Beatriz Azevedo de Mello de Moraes, a Tati, primeira das nove mulheres com as quais se casou.

“Minha casa é tão pequena que Tati e eu somos obrigados a sair todas as noites, para que a empregada possa dormir na sala. É um desconforto muito grande e Tati, embora não diga nada, se aborrece” escreveu o poeta à amiga chilena, em bom português, na carta em que se desculpava pela falta de contato com ela. Gabriela Mistral também vivia na Califórnia à época.

No mesmo documento, Vinicius, em sua fase mais inclinada ao comunismo e vivendo nos Estados Unidos em plena Guerra Fria, também manifestou a Gabriela aflições ideológicas e preocupações com o Brasil, à época governado por Eurico Gaspar Dutra.

“A situação política me abate ao extremo, pois não há como lutar. O fechamento do Partido Comunista no Brasil foi um golpe duro, sobretudo quando se sabe que é fruto da reação fascista que surge neste país sem cor, sem cheiro e sem sabor. Ando vendo tudo escuro e triste, e não consigo escrever ou ler uma linha”, relatou.

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Até a conclusão do livro, Marcelo Bortoloti deve passar pelos Estados Hnidos e outros países onde Vinicius serviu na diplomacia, como França e Inglaterra, para contar detalhes da trajetória dele no Itamaraty.

Vinicius de Moraes foi aprovado no concurso e se tornou diplomata em 1943, aos 30 anos, já então um reconhecido poeta, crítico de cinema e jornalista. Ficou até 1969 na carreira em que conciliava as liturgias itamaratecas com a produção artística, período em que pôde apresentar no exterior sua obra, sobretudo bossa nova, com os parceiros Tom Jobim e João Gilberto.

Vinicius foi exonerado compulsoriamente em 1969, no contexto do Ato Institucional Número 5 editado em dezembro de 1968, que endureceu a ditadura militar no governo do marechal Costa e Silva e promoveu expurgos de diplomatas. A vida boêmia foi um dos motivos para a expulsão dele do Itamaraty, classificada como “uma sacanagem” por Vinicius em entrevista concedida anos depois, em 1975.

“Considerando que a conduta do primeiro secretário Vinicius de Moraes é incompatível com as exigências e o decoro da carreira diplomática, mas em atenção aos seus méritos de homem de letras e artista consagrado, cujo valor não desconhece, a comissão propõe o seu aproveitamento no Ministério da Educação e Cultura”, disse a justificativa para sua expulsão, noticiada em reportagem do jornalista Marcelo da Fonseca em 2013.

Em junho de 2010, 30 anos após a morte de Vinicius de Moraes, o governo Lula o promoveu post mortem ao cargo de embaixador.

A biografia de Vinicius de Moraes será a terceira lançada por Marcelo Bortoloti. Jornalista formado pela PUC-Minas, mestre em Artes pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutor em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele é o autor de “Guignard: o anjo mutilado” e “Di Cavalcanti: modernista popular”, lançados em 2021 e 2023, respectivamente, pela Companhia das Letras.

 

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