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Bia Kicis propôs projeto de lei que pode aumentar circulação de opioides no Brasil

Projeto de lei foi apresentado por um médico que já deu aula para farmacêutica que causou crise dos opioides nos EUA

atualizado

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Metrópoles Entrevista a deputada Bia Kicis - metrópoles
1 de 1 Metrópoles Entrevista a deputada Bia Kicis - metrópoles - Foto: VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto

A deputada bolsonarista Bia Kicis propôs um projeto de lei que pode aumentar a circulação de opioides no Brasil. A proposta foi escrita e apresentada a Kicis pelo anestesiologista Carlos Marcelo de Barros, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos da Dor.

A informação foi revelada na série de reportagens Mundo da dor, uma colaboração do Metrópoles e mais dez veículos, entre eles o site americano The Examination e a revista alemã Der Spiegel. A investigação revela que a Mundipharma reproduz no Brasil, e ao redor do mundo, as mesmas táticas que levaram os Estados Unidos a uma das maiores crises de saúde pública de sua história: a crise dos opioides.

O Projeto de Lei nº 336/2024 está parado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a principal da Câmara dos Deputados, desde junho deste ano. A proposta pede a institucionalização da disciplina de dor nas faculdades; a criação do Dia Nacional de Conscientização e Enfrentamento da Dor Crônica, em 5 de julho; e o atendimento integral pelo Sistema Único de Saúde a pessoas que sofrem de dor crônica. Segundo especialistas, o projeto de lei pode ser uma janela para o aumento de prescrição e circulação de opioides no país.

Barros é considerado pela gigante farmacêutica Mundipharma, da Purdue Pharma, um médico “formador de opinião”. O anestesiologista afirmou ter recebido US$ 900 pela aula — cerca de R$ 4,9 mil na conversão de 16 de setembro de 2024. Segundo Barros, ele teve que mandar seu material para análise da Mundipharma, e 80% da aula apresentada foi de sua autoria e 20% foi orientação da farmacêutica.

Presidente da Sociedade Brasileira de Estudo de Dor, que recebeu R$ 200 mil da Mundipharma entre 2019 e 2023 para promover opioides no Brasil, Barros escreveu, em fevereiro de 2024, o projeto de lei que propõe ampliar o tratamento da dor crônica no Brasil.

 

A deputada Bia Kicis alegou à coluna que sabe dos riscos que o aumento de prescrição de opioides pode causar, mas que considera mais importante “as pessoas sofrendo”. A parlamentar afirmou também que a proposta ficará parada na CCJ para “maior discussão”. Segundo ela, haverá audiências públicas sobre o projeto de lei. Kicis afirmou também que não sabia que Barros — que lhe apresentou o projeto de lei — teve qualquer tipo de vínculo com a Mundipharma, mas considera que “não tem nada a ver” com isso e que o projeto de lei “se distancia” de qualquer interesse de grandes farmacêuticas.

À coluna, o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Dor defendeu o aumento da prescrição de opioides para pacientes com dor crônica não oncológica, mas considerou que o controle de substâncias como a oxicodona deveria ser mais rígido por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Brasil (Anvisa). Barros também disse que médicos deveriam ser mais bem orientados a manipular e reconhecer o uso abusivo de opioides para evitar uma crise como a dos Estados Unidos.

Lá, a crise dos opioides ganhou contornos dramáticos. Investigações de autoridades americanas mostraram que a Purdue Pharma, produtora dos medicamentos distribuídos pela Mundipharma, sabia, desde meados da década de 1990, que o OxyContin estava transformando milhares de pacientes em dependentes químicos, principalmente nos subúrbios da classe média americana. Analgésicos opioides passaram a ser prescritos, principalmente para adolescentes, para torções, retirada de dentes e dores nas costas, por exemplo.

Leia a reportagem: Farmacêutica de opioides repete no Brasil tática que matou milhares nos EUA

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