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Autor de “Como as democracias morrem” vê 2026 ruim para bolsonarismo

Daniel Ziblatt disse que bolsonarismo terá dificuldade em eleição e vê retorno de Trump “terrivelmente assustador”; veja entrevista

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Daniel Ziblatt
1 de 1 Daniel Ziblatt - Foto: Metrópoles

O cientista político americano Daniel Ziblatt, professor de Harvard e um dos autores do best-seller “Como as democracias morrem” e do recém-lançado “Como salvar a democracia”, afirmou em entrevista à coluna que seria “bem difícil” para Jair Bolsonaro eleger um aliado para presidente em 2026. Ziblatt disse também que um eventual segundo mandato de Donald Trump a partir de 2025 soa “terrivelmente assustador”.

“É muito difícil transferir carisma de um líder para outro. As pessoas geralmente voltam por causa do estilo particular e original do político. Quando essa transferência acontece, é por meio de um partido forte, quando um candidato não pode concorrer mas pede votos para um correligionário. Uma das diferenças entre Brasil e Estados Unidos é que o partido de Bolsonaro é fraco”, afirmou Ziblatt, comparando o PL ao Partido Republicano dos EUA, que costuma se revezar na Casa Branca com o Partido Democrata, do presidente Joe Biden.

No prefácio de “Como salvar a democracia”, Ziblatt e o colega Steve Levitsky sustentaram que os brasileiros agiram melhor do que os americanos para conter os arroubos golpistas quando seus últimos presidentes foram derrotados no voto.

Lá, Trump estimulou a invasão do Congresso em 6 de janeiro de 2021. Aqui, Bolsonaro incitou a invasão do bolsonarismo ao Congresso, Planalto e STF em 8 de janeiro de 2023. Mas, enquanto o ex-presidente americano é o favorito para ser o candidato do partido Republicano na eleição do ano que vem, e forte até para vencer a disputa, Bolsonaro está inelegível até 2030 por crimes eleitorais na campanha.

“Houve uma grande falha do Partido Republicano entre a derrota de Trump e a posse de Biden. Estava claro que Trump havia perdido a eleição, mas os líderes do partido Republicano não vieram a público e disseram ao Trump: ‘Afaste-se, acabou’. E Trump não foi condenado pelas suas ações no 6 de janeiro. Se houvesse algum consenso entre as elites políticas, teria sido muito possível isolar Trump. Perderam a chance e estamos todos sofrendo as consequências”.

O pesquisador disse ainda que as ameaças autoritárias dos últimos anos fizeram com que as sociedades dos dois países percebessem que a democracia não é uma “máquina automática”, e que precisa de organização para ser conservada.

“No Brasil e nos EUA, as pessoas começaram a perceber que não dá para tomar a democracia como algo garantido, que a democracia não é uma máquina automática. Os cidadãos precisam se engajar, votar nos candidatos que apoiam a democracia. Se eles não fizerem isso, riqueza e história não garantem nada”.

Ziblatt lembrou que Trump tem feito ameaças abertas de prender opositores se for eleito no próximo ano. O professor, contudo, avalia que Trump será rejeitado novamente nas urnas.

“Se acreditarmos no que Trump diz, soa terrivelmente assustador. Deveríamos estar muito preocupados. Ele disse claramente que vai armar o Estado, usar as instituições judiciais para perseguir opositores políticos e prender Joe Biden. Ele descreveu seus oponentes como vermes, em uma linguagem que ecoa políticos fascistas dos anos 1920 e 1930. Ele pode muito bem tentar fazer essas coisas. As pessoas não estão levando a sério ou não estão prestando atenção. Mas uma vez que os americanos levarem isso a sério, a maioria vai rejeitá-lo”.

Para o professor, Biden e Lula podem mitigar a alta polarização política em seus países por meio do crescimento econômico, mas ressaltou que a divisão social ainda persiste nos dois países.

“Para reduzir a polarização, Biden está focado em melhorar a economia, permitir a ascensão social e combater a privação. Lula pode se encaixar na mesma teoria. A polarização continua intensa, mas penso que a teoria do Biden vai funcionar o suficiente para ajudá-lo a se reeleger e, eventualmente, a polarização vai desaparecer. Mas até agora não desapareceu”.

Assista à íntegra da entrevista.

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