Análise: discurso de Arthur Lira foi fraco e irresponsável com a democracia
Arthur Lira elogiou quem foi à rua, como se fosse um protesto que reivindicasse algo justo e legal
atualizado
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O discurso de Arthur Lira a partir das manifestações golpistas deste 7 de setembro não foi só fraco: foi irresponsável com a democracia. Lira elogiou quem foi à rua, como se fosse um protesto que reivindicasse algo justo e legal. Não era.
Quem foi à rua ontem quer, em bom português, uma ditadura. Uma ditadura com tudo que tem direito: autoritarismo, violência, STF e Congresso amordaçados ou preferencialmente fechados.
Sim, Lira elogiou pessoas que hoje pedem o fechamento do STF e amanhã podem pedir, como queriam no ano passado, uma intervenção no Congresso. Em que mundo Lira vive para achar que ele e o Centrão teriam chance num regime desses?
A irresponsabilidade com a democracia, toada de Lira desde que tomou posse, seguirá cobrando um preço. A cada dia que Bolsonaro segue no cargo, sem ao menos o trâmite de um processo de impeachment que lhe intimide, temos mais e mais retrocessos em relação ao que conquistamos depois de 1985 e, em especial, depois de 1988.
Hoje, não há ambiente para um golpe como Bolsonaro sonha. Há resistência e há instituições que, mesmo combalidas, ainda estão vivas — aqui, claro, não me refiro à Câmara, que de fato parece morta. Mas o que sobrará depois? A PGR já não existe, a não ser para ajudar o projeto golpista de Bolsonaro. E as outras? Quanto tempo vão aguentar?
Movido por um poder que nunca sonhou ter, Lira brinca com a democracia. Só é ingênuo de achar que o coturno de Bolsonaro poupará sua cabeça.