Análise: covardia do Exército fará do Brasil uma Venezuela
Pazuello tinha que, no mínimo, ser advertido. O correto seria ter sido preso administrativamente
atualizado
Compartilhar notícia
O Alto Comando do Exército ficou todo empertigado há alguns meses quando o jornalista Luiz Fernando Vianna afirmou que a Força era sócia na matança dos brasileiros durante a pandemia. Publicaram uma carta exigindo a retratação da revista Época, publicação em que Vianna divulgou o artigo, e fizeram o texto viralizar nas redes sociais. Mas a decisão do comando do Exército nesta quinta-feira (3/6), de não punir Eduardo Pazuello, mostra que a Força é, sim, de certa maneira, sócia de todos os erros deste governo, das quase 500 mil mortes até o lamentável estado de definhamento da democracia brasileira.
O suposto cálculo político do comandante Paulo Sérgio, de não confrontar Jair Bolsonaro para permanecer no cargo e assim, em tese, permitir a nomeação de alguém ainda menos compromissado com a democracia, é um erro tremendo. General não tem que ter esse tipo de raciocínio. O regulamento é claro. Pazuello tinha que, no mínimo, ter sido advertido. O correto seria ter sido preso administrativamente.
Qualquer soldado agora está autorizado a fazer campanha para Jair Bolsonaro e, até, a ir mais longe. Por que não participar desses atos armado e de uniforme? O que o desencorajaria?
A semente desse tipo de atitude foi plantada na gestão de Eduardo Villas Bôas, o comandante do Exército que foi ao Twitter ameaçar o Supremo se não votassem contra Lula. Não à toa, o atual comandante também é fã dos 280 caracteres. Segue 24 pessoas lá, sendo quase todos integrantes do governo ou bolsonaristas da linha mais fanática. Deveria ter se inspirado em Edson Pujol, seu antecessor, que queria distância das redes sociais. Era o correto a fazer.
Apelidado no mundo da ciência política de Mr. Democracy, por ser um dos mais respeitados estudiosos das democracias no mundo, o americano Larry Diamond, professor em Stanford, me deu uma entrevista em 2018 e disse que, diante de militares alvoroçados pela política, cabe aos políticos profissionais, de todos os matizes, se posicionarem.
Disse Diamond em setembro de 2018.
“Nenhum oficial militar sênior em uma democracia liberal, na qual normas democráticas de supremacia civil sobre os militares estejam bem claras, deve fazer declarações políticas. Ponto. Quando você é um oficial militar, você perde algumas das liberdades de expressão. Um comandante militar não pode dar opiniões políticas, não pode sequer falar de política.”
Não será o que veremos nesta sexta-feira, 4 de junho. Rodrigo Pacheco, Arthur Lira e diversos outros políticos que deveriam vir a público neste momento vão provavelmente preferir o silêncio. Iludem-se que os coturnos também não pisarão em suas cabeças.