Aguinaldo Silva conta em memórias histórias de seus 40 anos de TV
O jornalista, escritor e autor de novelas Aguinaldo Silva lançará em julho um livro em que conta detalhes de sua trajetória
atualizado
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Aos 80 anos, o jornalista, escritor e autor de novelas Aguinaldo Silva lançará em julho um livro em que conta detalhes de sua trajetória, da juventude em Pernambuco ao estrelato como roteirista e novelista da TV Globo a partir do fim dos anos 1970, com sucessos como “Roque Santeiro”, “Vale tudo”, “Tieta” e “Senhora do destino”.
“Meu passado me perdoa”, que chegará às livrarias pela editora Todavia em 10 de julho, será lançado pouco mais de quatro anos depois da saída de Aguinaldo da Globo, no começo de 2020 – rompimento narrado por ele na obra. O autor vive atualmente em Lisboa.
Em suas 400 páginas, a obra passa pelos anos de Aguinaldo como repórter de polícia no jornal O Globo e conta o começo na televisão, o convívio com José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, e Daniel Filho, antigos mandachuvas da Globo, e as parcerias com o diretor de novelas Paulo Ubiratan.
Veja alguns tópicos do livro:
Prisão na ditadura
Aguinaldo Silva narrou no livro sua prisão pela ditadura militar, em 1969, depois do Ato Institucional nº 5, de 1968, por ter escrito o prefácio do livro “Diário de Che Guevara”, com o título “A guerrilha não acabou”. Ele havia acabado de começar a trabalhar como jornalista em O Globo e ficou setenta dias detido.
Influência de Jorge Amado
Aguinaldo Silva foi o responsável por adaptar três obras do escritor baiano para televisão: “Tenda dos Milagres” virou minissérie homônima e “Tieta do Agreste” e “Mar morto” basearam as novelas “Tieta” e “Porto dos Milagres”, respectivamente. O novelista disse ter sofrido influência de Jorge Amado em sua obra e guarda em seu escritório, emoldurada, uma carta enviada a ele pelo escritor em outubro de 1985, na qual Amado elogiou a adaptação de “Tenda dos Milagres”.
Governo influenciou rumo de novela
Aguinaldo contou que a novela “Duas caras”, de 2007, foi alvo de uma notificação do Ministério da Justiça do governo Lula sobre sua classificação indicativa, em razão de cenas de pole dance protagonizadas pela atriz Flávia Alessandra. Diante do ofício recebido de Brasília, que falava em remanejar a novela das 21h para as 23h, o autor incluiu no roteiro a explosão da boate que era cenário da pole dance e criou um assassino misterioso, responsável pelo ataque.
Tabu com beijo gay em novelas
Em 1999, segundo Aguinaldo Silva, diante de boatos de que ele escreveria uma cena com o primeiro beijo gay em novelas para aumentar a audiência de “Suave veneno”, em meio à briga por espectadores com o “Programa do Ratinho”, houve “momentos de grande ansiedade e alta tensão” com a então diretora-geral da Globo, Marluce Dias da Silva. “Durante muito tempo esse tipo de cena foi rigorosamente ‘não recomendado’”, escreveu.
Nome e mistério sobre vilã icônica
O novelista contou que ele, Gilberto Braga e Leonor Bassères, autores da novela “Vale tudo”, custaram a encontrar um nome para Odete Roitman, uma das mais icônicas vilãs das novelas brasileiras. O nome de Odete foi sugerido despretensiosamente por Aguinaldo Silva em uma madrugada, horário em que Braga preferia trabalhar, quando Aguinaldo já estava cansado e queria ir para casa. O assassino de Odete Roitman, conhecido só no final da novela, inicialmente seria Marco Aurélio (Reginaldo Faria), mas os autores mudaram o roteiro após um vazamento na imprensa e escolheram Leila (Cassia Kis) como assassina.
Susana Vieira como Nazaré Tedesco
A ideia inicial do autor, segundo ele relata no livro, era que a atriz Susana Vieira interpretasse outra vilã que marcou as novelas da Globo: Nazaré Tedesco, de “Senhora do destino”. O novelista contou ter tido a preferência ignorada pelo diretor da novela, Wolf Maya, que nos bastidores trabalhou para que Susana fizesse a protagonista, Maria do Carmo, e Nazaré, sua antagonista, fosse vivida por Renata Sorrah.
Novela fracassada
Aguinaldo Silva classifica sua última novela, “O sétimo guardião”, de 2019, como a “mais problemática” de suas produções. O autor apontou problemas nos bastidores, divergências entre ele e a direção e contou que não fez questão nem de assistir aos últimos capítulos da novela.