Aliados de Toffoli dizem que advogado de Lula concordou com decisão sobre enterro do irmão do petista; advogado nega
Decisão de Dias Toffoli, do STF, para que Lula não fosse ao enterro de irmão foi acertada com advogado do então ex-presidente preso
atualizado
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A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) José Dias Toffoli para que o então ex-presidente Lula não fosse ao enterro de seu irmão Vavá, em janeiro de 2019, quando o petista estava preso, foi tratada antes pelo ministro com o advogado de Lula, Eugênio Aragão. Na ocasião, segundo relatos de pessoas próximas a Toffoli, o advogado teria garantido ao ministro que Lula estava de acordo com o desenho proposto. Aragão confirma ter falado com Toffoli, mas nega que tenha concordado com a decisão. “Não cabia a mim concordar com nada”.
A autorização de Toffoli para que Lula se reunisse com a família, mas, com a negativa de ir ao sepultamento, é apontada pelo próprio presidente em conversas privadas como a razão para o petista não querer mais uma relação próxima com Toffoli, que foi seu ministro, na Advocacia-Geral da União, e indicado por ele ao STF.
Na ocasião, Toffoli decidiu, em um plantão judicial, que Lula poderia deixar a prisão para se encontrar com os familiares em uma unidade militar, com a possibilidade de que o corpo de Vavá fosse levado até lá, mas não participar do sepultamento no Cemitério Paulicéia, em São Bernardo do Campo.
Lula acabou desistindo de ir ao enterro, e seus aliados reclamaram de que a decisão teria sido dada muito tarde para viabilizar a viagem do ex-presidente. A Polícia Federal havia sido contra a viagem, devido à suposta falta de tempo de organizar a logística.
Até hoje, Lula guarda mágoa de Toffoli em relação ao episódio. Interlocutores de ambos analisam que o presidente até poderá, racionalmente, manter um canal de diálogo com Lula, mas sem proximidade. “O coração nunca vai perdoar”, disse um ministro sobre a relação.
De acordo com esses aliados, porém, Lula não tem conhecimento da versão propagada por aliados de Toffoli.
Após a publicação da reportagem, Aragão entrou em contato com a coluna e disse que, nas duas vezes em que falou com Toffoli na ocasião, para tratar do pedido de Lula, não concordou com nada. “Não cabia a mim concordar e nem poderia dizer que Lula havia concordado, porque eu não tinha acesso ao Lula. Estava em Brasília e ele injustamente preso em Curitiba”, explicou.
Segundo Aragão, o primeiro telefonema para Toffoli foi às 3h da madrugada. O advogado explicou o pedido a Toffoli e o ministro disse que eles falariam novamente mais tarde. No segundo telefonema, Toffoli comunicou que o momento de Lula com a família e o corpo do irmão seria num quartel da PM. Aragão reafirma que não concordou com nada, apenas levou à assessoria de Lula a decisão.
“Coube a mim ligar para o ministro de madrugada. E ele retornou. Mas a resposta jamais poderia ser minha. Disse ao ministro Toffoli que encaminharia a decisão. Minha função era de um mensageiro apenas, até porque não tinha poderes para requerer nada. Era um irmão muito querido de Lula e somente ele poderia responder. O Brasil chorou com a impossibilidade de Lula se despedir”, afirmou Aragão.
O advogado declarou que “a corrida pelas vagas no STF e na PGR mostrou o pior das pessoas” e que nada irá abalar sua amizade de longa data com Lula.