“Vamos ter que tirar o atraso de 2020 em 2021”, diz Ibaneis Rocha
Ao Metrópoles, governador falou sobre os piores momentos da pandemia, as investigações na Saúde, citou obras e projetou retomada da economia
atualizado
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A poucas semanas de completar metade de seu mandato como governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB) avalia o período que passou, projeta os próximos dois anos à frente do Executivo e faz um desabafo do momento mais dramático de sua vida, que coincidiu com a condução do DF no auge da pandemia pelo coronavírus: “Posso garantir que quase chego à loucura”.
Em entrevista ao Metrópoles, o governador do DF diz que 2021 será um ano decisivo para sua gestão e que o Executivo aturará na potência máxima: “Vamos ter que tirar o atraso de 2020 em 2021, acelerando o máximo possível para mostrar a essa cidade que é possível fazer e nós vamos fazer”.
Sobre a fase mais frágil de seu governo – quando integrantes da cúpula da Saúde foram presos acusados de cometer graves irregularidades em processos referentes a compras na pandemia –, Ibaneis defende os ex-gestores e afirma que não se arrepende de nenhuma indicação.
Ele diz que, se cometeu algum erro, foi “ter feito demais”. Para o chefe do Executivo no DF, a pressão “desmedida” que imprimiu em sua equipe para obter respostas e atendimento às demandas em meio ao pânico da infecção da Covid-19 pode ter desencadeado os procedimentos agora questionados judicialmente.
Com quase 3,8 mil mortes provocadas pela Covid-19, o governador diz que o DF chora reclama e lamenta suas mortes, mas sustenta que, diferentemente de outros estados, a população teve acesso ao sistema público de Saúde. Ele admite o drama recente da comunidade que padece para conseguir cirurgias e atendimento básico nos hospitais e alega que os problemas estão sendo corrigidos.
Estado mínimo
Ibaneis fala do desempenho de sua equipe, cita as obras que pretende deixar prontas até o fim de seu governo, enumera os preparos para o ano letivo de 2021 e posiciona o futuro de algumas das empresas públicas ligadas ao GDF: “Sou do Estado mínimo. Agora, nesse Estado mínimo, tem algumas coisas que podem funcionar”.
Sobre Bolsonaro, não deixa margem de dúvida: “Eu me considero um apoiador do Bolsonaro. Gosto do que o presidente vem fazendo, da maneira dele de governar”. Ibaneis afirma que a proximidade com o presidente da República abriu portas para o DF, que, segundo o governador, é muito bem tratado por ministros do governo Bolsonaro.
Apesar da tragédia que se abateu no DF, parte de um contexto mundial, o governador afirma que a capital federal brasileira está pronta para retomar a rota de crescimento em 2021 e que a população notará, em breve, melhoras no sistema público de Saúde e a retomada da atividade econômica. “Estamos fazendo tudo o que está ao nosso alcance”.
Confira a entrevista com o governador Ibaneis Rocha (MDB):
Como o senhor vai agir no Distrito Federal, quando houver uma vacina disponível contra a Covid-19?
Meu entendimento – e vou cobrar isso do presidente da República – é que essa vacina seja incluída no programa nacional de vacinação, o que deve ocorrer a partir de regras claras, com prioridade para grupos de maior risco. Mas isso tem de ser feito pelo governo federal. Acho que não dá para tratarmos um tema destes como sendo de um estado ou de uma região só. Até porque vamos continuar tendo a disseminação do vírus, caso a imunização não ocorra de forma bastante organizada.
A vacina contra a Covid-19 virou centro de uma disputa político-ideológica. Como o senhor se posiciona?
É preciso despolitizar o máximo possível essa questão. Eu vi um embate entre o governador de São Paulo (João Doria) e alguns outros governadores, colegas nossos, tentando trazer a discussão para o campo da política. O próprio presidente da República deu respostas a isso. O país quer saber se nós vamos ter vacina, se os grupos de risco, inicialmente, serão vacinados e se todos os cidadãos vão ter acesso a essa vacina no menor prazo possível. O resto não deveria ser objeto da nossa atenção.
Se o DF precisar adquirir essas vacinas, haverá dinheiro?
Insisto que o melhor caminho é o governo federal incluir a vacina da Covid-19 no programa nacional de vacinação. Se o encaminhamento não for nesse sentido, nós vamos ter que fazer o nosso esforço financeiro e comprar as vacinas para distribuir à nossa população. De maneira nenhuma, deixaríamos a comunidade sem acesso à imunização, tão logo esteja disponível.
Poderia fazer um diagnóstico do DF depois de tudo o que passamos neste ano?
Nós tivemos aqui no DF, graças ao acerto das equipes e o destemor na tomada de decisões, uma situação de atendimento aos cidadãos acometidos pelo vírus bem melhor do que na grande maioria dos estados. Interrompemos o fluxo de pessoas e as aulas logo no início da pandemia. E, com isso, criamos condições, dentro da saúde, de acolher os doentes. Em vários estados, nós vimos valas abertas e milhares de pessoas sendo enterradas sem a condição sequer das famílias identificarem os corpos. Não vivemos isso em Brasília.
Estamos próximos de atingir 3,8 mil mortes por Covid-19. É um número muito alto.
Choramos as nossas mortes, reclamamos e lamentamos muito por terem acontecido, mas tivemos atendimento à população dentro de um bom padrão de qualidade para a rede pública. Sabemos as deficiências do sistema, mas conseguimos atendimento para a população. Dificilmente alguém vai dizer que chegou a unidade de saúde com Covid-19 e não foi acolhido aqui no Distrito Federal.
De um lado, o DF sofreu com as perdes irreparáveis de vidas. De outro, instalou-se um cenário de crise. Como lidar para o retorno da normalidade?
Tivemos queda de arrecadação e um empresariado bastante sofrido, neste ano, por conta dessa drástica interrupção das atividades. Colocamos todos os instrumentos de governo à disposição do setor produtivo para tentar manter, o máximo possível, o nível de emprego.
O BRB, um banco público, colocou ao alcance dos empresários do DF, até agora, R$ 4,4 bilhões no âmbito do programa Supera-DF. O suporte tem sido fundamental para as empresas criarem condições de recontratar funcionários.
Mantivemos o nível da indústria da construção civil bem alto, tanto que, hoje, está faltando material. Com a sanção do projeto do Refis, temos a expectativa de que empresas em dificuldade consigam quitar suas dívidas e retomem suas atividades. Todos os nossos esforços estão voltados para que, em 2021, a gente consiga ter um nível maior da atividade econômica no DF.
O que ficará de aprendizado para o DF com a tragédia da pandemia?
Teremos um bom legado na Saúde, porque tudo aquilo que foi utilizado, como os leitos, estão sendo reaproveitados nas unidades hospitalares do DF. Então, teremos mais equipamentos e mais pessoal trabalhando. Este ano, foram contratados, através de concurso público, mais de 1,5 mil servidores da Saúde. Tudo isso permanecerá.
Entre o fim deste ano e início do próximo, teremos a entrega de mais sete UPAs. E vamos deixar ainda uma unidade, que é a do Hospital Materno Infantil de Ceilândia, preparada para os casos de Covid-19, caso ocorra uma segunda onda. As outras, começaremos a entregar a partir do início do ano que vem. Isso vai nos ajudar a desafogar os hospitais, de modo que se tornem centros cirúrgicos para atendimento de alta complexidade.
O DF enfrenta, recorrentemente, dificuldades para lidar com seus doentes. Há filas de cirurgias, faltam insumos e, às vezes, condições básicas de atendimento. Uma situação agravada ultimamente. Por que o governo não consegue curar esta chaga?
Estávamos com essa questão quase solucionada no ano passado. Fizemos um grande investimento, tanto nas unidades de pronto atendimento, quanto no Hospital de Santa Maria e no Hospital de Base. Estávamos com as filas bastante regulares e tínhamos a previsão de zerar as demandas por cirurgias. Mas aí veio a pandemia, tive que redimensionar todos os hospitais e houve uma queda no atendimento de casos não relacionados à Covid-19, o que gerou esse acúmulo. Isso ocorreu, justamente, no momento em que quase todos os estados estão comprando insumos, medicamentos. Enfrentamos falta de insumos. Eu acredito que, para o próximo ano, vamos ter a regularidade de todos esses procedimentos.
Estamos redimensionando a nossa capacidade de cirurgias e fazendo vários mutirões, exatamente para reduzirmos essas filas. Taguatinga, semana passada, foi exemplo disso nas cirurgias ortopédicas.
As cirurgias cardíacas são um problema à parte. Muitas pessoas estão padecendo à espera do procedimento. Como o governo vai resolver o problema?
Temos parceria com o Instituto do Coração, mas a unidade vem apresentando uma deficiência administrativa muito grande, talvez insuperável. Essa unidade médica tem arrecadação entre R$ 5 milhões e R$ 6 milhões por mês, paga pela Secretaria de Saúde. E um gasto de quase R$ 9 milhões. Então, ou o instituto adequa a capacidade de arrecadação com a de despesa ou, realmente, eles (os gestores) terão dificuldades.
No caso dos pacientes adolescentes, estamos transferindo as cirurgias pendentes para o Hospital da Criança. E redimensionando também, no caso das crianças, a capacidade de atendimento do Hospital de Base para suportar a necessidade de operações.
Mas temos de lembrar que Brasília sempre passou, e vai continuar, durante um bom tempo, vivenciando esse problema de saúde. Tive oportunidade de andar no Entorno, nestas eleições, em cidades com 150 mil, 200 mil habitantes que não têm hospital. São municípios que dependem em tudo do DF. Quando eu falo em tudo, é em tudo mesmo. Toda população da região Sul vem para o Hospital Regional de Santa Maria; quem mora na região Oeste, vem para o Hospital de Ceilândia ou para o Hospital de Brazlândia. É uma situação grave que precisa ser redimensionada, inclusive, junto ao Ministério da Saúde, para o pagamento dos procedimentos que nós realizamos. Não podemos deixar de atender, a saúde é única e o sistema é o SUS, mas precisamos ser reembolsados para termos capacidade maior de atendimento.
Houve avanço neste sentido com o Ministério da Saúde?
Houve. O Ministério da Saúde tem cadastrado os procedimentos, o sistema está rodando e já começamos a receber pelos atendimentos que são realizados no DF. Isso nos dá uma condição bem melhor e essa condição de atendimento vai se refletir daqui para frente. Conseguimos esse cadastramento tem dois ou três meses.
O Iges-DF acumula dívida de R$ 196 milhões e episódios que colocam em dúvida o uso correto do dinheiro público. O sistema será revisto?
Penso que o Iges precisa ser mais bem gerido. Acredito no sistema. Nós exigimos muito do Iges durante essa pandemia. Parte desse déficit é exatamente por conta dessa situação. A cobrança da população era por atendimento e a melhor maneira de se contratar, e de forma mais rápida, era exatamente através do Iges. Houve cobrança de contratações, um nível maior de compra de medicamentos, insumos, colocação de mais profissionais.
Precisávamos suprir a necessidade de profissionais dentro do Hran [Hospital Regional da Asa Norte] e a melhor maneira de se fazer isso era por meio da contratação desses profissionais pelo Iges.
As circunstâncias geraram esse descontrole nas contas, mas a situação será totalmente sanada. Os pagamentos estão programados. Há convênios assinados entre a Secretaria de Saúde e o Iges para suprir essas questões. Agora, o que precisamos, realmente, é ter um sistema de gerenciamento dentro da normalidade que seja o melhor possível. E o Paulo Ricardo, que assumiu o Iges, vem com essa característica. É um excelente gestor e está trabalhando junto com a equipe de diretores e superintendentes para equilibrar essas contas.
Integrantes da cúpula da Secretaria de Saúde do DF estão detidos há quase três meses, respondendo a processo que aponta fortes indícios de irregularidades em compras da secretaria durante a pandemia. Depois deste tempo todo em que os acusados seguem presos, o senhor admite que houve problemas?
Sou advogado, li toda a petição do Ministério Público e a denúncia apresentada. A denúncia não trata de desvio de recursos, é bom que isso fique bem claro. A denúncia trata de desvio dentro da licitação, mas não aponta corrupção. O que se diz ali é que houve procedimentos que não deveriam ter sido feitos da maneira como foram realizados. Só que a ação esquece que estávamos, e ainda estamos, no meio de uma pandemia com lei federal que garantia, inclusive, a compra direta. Isso está na Justiça. Eles (os ex-gestores) apresentaram os habeas corpus que serão julgados.
O senhor se sentiu traído por sua equipe que estava no comando da Saúde?
Não me senti, de modo nenhum, traído por eles. O momento, também, era muito difícil. Todo mundo na cidade queria que fossem comprados testes. Foram abertos oito procedimentos e nenhum conseguiu chegar ao fim porque as empresas não tinham testes para entregar. As empresas que tinham os testes para entregar foram essas onde foram realizadas as compras. Olhar daqui e dizer que, lá atrás, foi feito errado porque o teste foi comprado a R$ 150 ou R$ 160 e, hoje, é vendido a R$ 79, é não ter vivência do que passamos. Não tínhamos muitas alternativas no meio de uma pandemia, com todo mundo querendo comprar equipamentos, testes, montar equipes cirúrgicas, hospital, com cobrança da população e da imprensa. A Justiça vai julgá-los e eles serão condenados ou absolvidos, de acordo a sua culpabilidade ou não.
Agora, viver o que nós vivemos aqui dentro desse gabinete, na sala de crise, na sala de gestão… só quem estava lá dentro é que pode dizer. Eu posso garantir que quase chego à loucura. E eu cobrava dos meus assessores, do secretário de Saúde, de todo mundo, um atendimento à população. Cobrava deles que fizessem porque era necessário acudir naquele momento. Não queria ver aqui no Distrito Federal o que eu vi em outros estados.
O senhor se arrepende de alguma decisão tomada neste contexto?
De uma coisa só: de ter feito demais. Fiz muito, coloquei uma força muito grande e, talvez, seja exatamente por essa força que eles tenham feito os procedimentos da maneira como foram feitos. Eu cobrava deles todos os dias eficiência e entregas à população. E essas entregas deram no que deram por conta desses processos que estão andando. Mas, até hoje, não tenho como me arrepender de nenhuma das indicações que eu fiz.
Considera que a Justiça extrapolou em decisões recentes que desautorizaram medidas do Executivo na gestão da educação, por exemplo?
Aqui, você tem algumas decisões de primeiro grau, e eu respeito todas, que tratam de intervenção muito direta no poder de administrar. Tenho deixado claro em entrevistas que acho não ser esta a melhor maneira de se resolver as coisas, porque é muito simples um juiz, na sua solidão, baixar caneta em petição ou numa decisão judicial e querer movimentar uma estrutura como é a estrutura da educação no DF. São 600 mil alunos, envolvendo 80 mil professores e pessoas que trabalham na área de educação. E ter que colocar isso tudo para funcionar no prazo de 20 dias… Eu até reclamei com minhas equipes que a gente tem que estar preparado, porque qualquer hora pode sair uma outra decisão. Então, nós estamos nos preparando para o retorno às aulas de forma segura e adequada.
Um exemplo que dou sobre a questão da judicialização são os impasses das UTIs. Estamos diminuindo o prazo de internação em UTIs. O fato é que sai uma liminar mandando internar uma pessoa, mas tem outras 50 que também estão ali na fila. Como é que eu vou tratar essa que tem decisão judicial? E as outras 50? É muito complicado. A judicialização no Brasil tem se tornado uma medida comum. Graças a Deus, a gente tem encontrado nos tribunais um amparo muito maior para governar. E eu quero deixar bem claro: a gente governa com o melhor que a gente tem, com o que a gente pode fazer e com os elementos que temos. Eu respeito as decisões judiciais, mas, graças a Deus, a gente tem recorrido de algumas delas e tem ganhado os processos, prova de que estamos do lado correto.
O DF está preparado para o recomeço das aulas?
Sim. Estamos trabalhando dentro da área de Comunicação para fazer a locação de estúdios e promover as videoaulas. Além disso, vamos buscar o apoio de televisões abertas para que todos os alunos possam ter acesso ao conteúdo, no caso daqueles que não têm computadores ou smartphones.
Agora, faz um comparativo entre a realidade de uma escola particular e a de uma escola pública. No colégio particular, a mesma aula que é dada presencialmente, quem está em casa a assiste. Isso porque existe um dispositivo que torna esta conexão possível. No caso da rede pública, não sei nem calcular quantas salas de aula eu tenho no DF. Mas são quase 800 escolas. Então, imagine o custo para fazer essas videoaulas. Teremos que realizar licitação para contratação de empresa que vai preparar as videoaulas. Vou ter que preparar todo o conteúdo e montar um grupo de professores por conteúdo. Há ainda os cuidados com alunos e professores do grupo de risco. E a demanda por repor profissionais em sala de aula. Precisamos lidar com a compra de EPIs [equipamentos de proteção individual], e a sanitização na entrada da sala de aula. Cuidar dos locais para lavar as mãos, álcool na entrada, máscara para todos os alunos, colocação de carteiras com separação mínima. Tudo isso passa dentro do sistema público. Então, não queiram comparar a operação que é feita dentro da rede pública de educação com o que ocorre dentro de uma escola privada, onde o proprietário cuida somente de uma unidade escolar. Temos todas essas dificuldades e esperamos que as circunstâncias sejam compreendidas pelo Poder Judiciário. Vamos fazer de tudo para que todos os protocolos sejam colocados à disposição da comunidade. Em março, a gente volta com tudo.
Qual é a expectativa do desfecho para a venda da CEB? E quais outras empresas públicas vão entrar nesse rol de privatização?
Privatização mesmo, na acepção da palavra, somente a CEB.
Na Caesb, o que se estuda é uma abertura de capital, sem privatização, até porque a Caesb é uma empresa que está com suas contas regulares.
Já na CEB, não. Ou a gente fazia a privatização ou perderíamos a concessão por falta de capacidade de investimento e pelo endividamento da empresa. Ouço reclamações dos sindicalistas e de servidores no sentido de que vão ficar desempregados e de que a venda da CEB não dará certo. O modelo que existia já não dava certo e a alternativa que os críticos davam era vender o patrimônio da empresa, os terrenos para pagar uma dívida que era infindável. Então, o caminho da CEB é um caminho da privatização, realmente. E, graças a Deus, estamos sendo compreendidos por todos os órgãos. Contratamos consultoria responsável, do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), o edital está publicado e a venda será nas próximas semanas.
A gente espera que o leilão seja vitorioso para o DF, porque não adianta só pensar ali no grupo de trabalhadores da CEB. Nós temos que pensar na cidade como um todo, no que é bom para o coletivo. Será que nós vamos parar de ter apagões? Será que vamos ter uma empresa com capacidade de investir? Porque a cidade, toda vez que chove, é uma reclamação total. São inúmeras as quedas de energia. Temos que fazer investimentos em diversas áreas do Distrito Federal, áreas de expansão, e não temos recursos para fazer isso.
E no caso do Metrô? Quais são os planos? Os trens envelheceram antes que o governo conseguisse aumentar a malha.
Temos um programa de modernização da cidade. Para colocar o metrô minimamente viável, teríamos que investir entre R$ 2,5 bilhões e R$ 3 bilhões, dinheiro que não existe na esfera pública. Então, precisamos fazer a concessão do metrô. Isso não quer dizer que vamos deixar de subsidiar o metrô. Todo sistema de transporte no mundo é subsidiado. O metrô vai continuar tendo passagem subsidiada, mas através de uma empresa. O estudo que foi aprovado fala em renovar todos os trens, a malha e o sistema de energia. A concessão do serviço está bem adiantada e deve ocorrer no 1º semestre de 2021.
Da mesma forma, nós temos a Rodoviária do Plano Piloto. É um escândalo que todo mundo mostra todos os dias. Por maior que sejam os esforços que tenhamos feito ao longo deste ano e do ano passado para melhorar a rodoviária, ali é uma situação de tremendo vandalismo, de muito abandono. Tem o trabalho maravilhoso realizado pelo Josué (Martins de Oliveira), que está lá na rodoviária. Mas ninguém dá conta. Vândalos cortam as borrachas das escadas rolantes, quebram os vasos sanitários. Ali é um ponto que precisa ser administrado pelo privado, de modo a transformar o espaço em um grande shopping a céu aberto, onde as 700 mil pessoas que frequentam a rodoviária tenham condições de passar por um ambiente de dignidade, coisa que o poder público não consegue fazer.
O senhor é um entusiasta das privatizações, certo?
Sou do Estado mínimo. Agora, nesse Estado mínimo, tem algumas coisas que podem funcionar. A Caesb está funcionando. O BRB está funcionando e muito bem. Ali, a administração é tocada como se fosse privada, a diferença é que recebo parte dos lucros. A administração do BRB hoje, nas mãos do Paulo Henrique, é bastante tranquila. Eu não conheço nenhum dos diretores dele, ele indicou todos, não tenho um emprego lá dentro. Eu só indiquei ele. E tem dado certo.
Quais obras o senhor vai deixar prontas até o fim do mandato, em 2022?
Sempre gostei desse negócio de atuar na solução dos problemas. Você vai para o lado de Taguatinga e tinha ali um viaduto que estava parado. Nós fomos atrás, conseguimos solucionar o problema com a empresa, o viaduto foi liberado e entregamos pronto. Aí, olhando de cima do viaduto, eu disse: ‘Eita, quando vamos soltar esse túnel?’ Me disseram que o processo estava pronto, mas com alguns problemas jurídicos. Fui atrás e consegui resolver os problemas jurídicos e a obra do túnel de Taguatinga está andando muito bem. Os técnicos da Caixa Econômica Federal já tiveram lá para fazer a primeira medição e ficaram muito satisfeitos.
Não deixei a cidade parar. E escolhi várias obras menores, mas que estão caminhando. No Gama, por exemplo, a avenida principal está sendo totalmente refeita. Tem diversas intervenções que fizemos para recuperar as tesourinhas do Plano Piloto. Estamos terminando o Trevo de Triagem Norte: o último viaduto fica pronto em dezembro.
Tínhamos, lá no FNDE [Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação], desde 2014, 14 creches que não saíam. Conseguimos a liberação dos recursos e a licitação está nas ruas. Semana passada, o Tribunal de Contas do DF liberou a licitação do viaduto da EPIG, do Sudoeste. Tudo para ser entregue dentro do nosso governo. O viaduto do Recanto das Emas já foi liberado. Temos um grupo de obras que reúne desde o secretário de Governo, Zé Humberto, o secretário de Obras, o pessoal da Terracap, Codhab, Novacap, DER. Nós nos reunimos quase semanalmente para acompanhar o andamento de todas as ações e ver até onde os nossos recursos dão conta de alcançar.
Para o próximo ano, tem muita coisa prevista: na DF-140, estamos com a licitação pronta; viaduto do Riacho Fundo I; viaduto do Itapoã; e o viaduto da Esaf.
Além disso, tem uma obra que, para mim, é de suma importância: conseguimos a liberação e já está na fase de licitação o Hospital Oncológico de Brasília. Quando a gente juntar o Hospital Oncológico com a radioterapia, que nós entregamos em Taguatinga, vamos ter aqui no DF um grande centro de tratamento de câncer.
O senhor vai brigar pela reeleição?
Ainda não sei. Sou muito tranquilo em relação a essa questão da reeleição. Primeiro, porque tenho tempo para pensar neste assunto. Segundo, porque só irei para uma reeleição se eu tiver uma aprovação da comunidade. E isso a gente mede através de pesquisas mais no fim do ano que vem e início de 2022. Não adianta querer remar contra a maré. O Distrito Federal é pioneiro em não reeleger seus governantes. Só o Roriz foi reeleito. Mas eu acho que essa situação é muito mais pela insistência dos governantes de quererem ser reeleitos. Então, se tem aprovação abaixo de 20%, não pode nem pensar em reeleição. Tem que pensar em terminar o mandato e ir para casa. Pelo menos, eu tenho esse pensamento. Então, vou aguardar, não tenho apego a cargo público. Quando fui presidente da OAB-DF [Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Distrito Federal], tinha 90% de aprovação e não fui para reeleição.
Tenho uma mentalidade contra a reeleição. Acho que é um instrumento que não funcionou e não funciona no Brasil. Mas eu vou avaliar isso. Dizem que quando a gente entra na política, entra pelos amigos, permanece pelos amigos, mas olhando para os inimigos. Mas não é nenhuma determinação minha, não. Quero trabalhar. O cargo de governador que a população me deu muito me honra e eu espero honrar a população até o último dia deste mandato.
O senhor vai apoiar o deputado distrital Rafael Prudente (MDB) na reeleição para a Presidência da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF)?
Eu tenho que apoiar. Ele é o presidente do meu partido e tem feito um bom trabalho. Falo em relação a ele como condutor da Câmara Legislativa e em relação a como trata todos os seus colegas deputados distritais. Ele tem conduzido muito bem os trabalhos na Câmara Legislativa. A Câmara tem ajudado muito na governabilidade do Distrito Federal, não posso negar. A gente discute, conversa os projetos e as pautas estão andando. Nos momentos de maior dificuldade, a Câmara Legislativa tem sido muito positiva com o Executivo do Distrito Federal. E eu entendo que o Rafael tem todas as características para continuar presidindo a Casa. Ele é jeitoso.
O governo fez acordos com vários deputados para que não prosperasse a CPI da Pandemia. O senhor entrou em campo e cedeu politicamente, dando os espaços que eram exigidos pelos distritais. Isso foi correto?
Vivemos no Brasil e aí é uma coisa que está na nossa Constituição: temos, no governo federal, o presidencialismo de coalizão. Aqui não é diferente, nós seguimos a mesma Constituição e a Lei Orgânica trata dessa maneira. Então, o governo tem que ser compartilhado. Isso só não pode afrontar princípios e, em momento nenhum, eles me afrontaram. Então, tudo que foi tratado com os deputados distritais foi tratado dentro da normalidade. Aconteceu, realmente, de uma forma muito pacífica. A gente governa juntos. Não tem como governar sem a Câmara Legislativa, assim como o presidente Bolsonaro não consegue governar sem o Congresso. É legítimo da democracia que nós escolhemos, com viés muito mais parlamentarista do que presidencialista.
O senhor se considera um franco apoiador de Bolsonaro?
Sim, eu me considero um apoiador do Bolsonaro. Gosto do que o presidente Bolsonaro vem fazendo, da maneira dele de governar. Tenho algumas restrições a algumas falas dele, mas que não me fazem desgostar da postura dele. Gosto do Bolsonaro, acho que ele está fazendo bem ao Brasil e teria feito muito melhor se não fosse essa pandemia. Ele sofreu com a pandemia.
Esse apoio é mais ideológico ou estratégico? O alinhamento garantiu melhor condição para o DF na distribuição de recursos durante a pandemia?
Não só durante a pandemia. Nós temos acesso aqui a todos os ministros do presidente Bolsonaro. Para se ter uma ideia, na semana passada, assinamos um termo de acordo para receber as terras de Vicente Pires. Então, as nossas coisas tramitam, graças a Deus, muito bem, sem nenhum tipo de problema.
No FNDE, a gente tem uma boa entrada, tanto que conseguimos as creches e os veículos. O Ministério da Saúde, na semana passada, nos doou 150 mil testes para que a gente enfrente esse período ou, talvez, faça até prevenção contra uma segunda onda. Temos sido bem atendidos. O presidente Bolsonaro tem nos chancelado um apoio que nos deixa muito satisfeitos.
Como o senhor avalia a postura de Bolsonaro ao evitar, até agora, cumprimentar Joe Biden, presidente eleito dos Estados Unidos?
No momento correto, o presidente Bolsonaro vai dar os seus parabéns, vai felicitar e desejar boa sorte ao novo presidente dos Estados Unidos. Até porque as relações comerciais entre Brasil e os Estados Unidos são muito fortes e o presidente sabe da importância dessas relações.
O senhor gostou da eleição do Biden ou preferia que o Trump tivesse sido reeleito?
Tenho um pensamento muito mais efetivo em relação a isso: não vai mudar nada na vida do brasileiro. As relações comerciais vão continuar as mesmas, nós vamos continuar vendendo nossos produtos para os Estados Unidos, vamos continuar sendo para os Estados Unidos um local de apoio dentro da América Latina.
Pensa em fazer reforma administrativa?
A minha reforma vai acontecendo aos poucos. Havendo necessidade, a gente troca. Não tenho problema com caneta. Mas eu estou muito satisfeito com a minha equipe de secretários. Eles conseguiram ultrapassar essa fase mais dura da crise trabalhando, mantendo suas secretarias em funcionamento, com seus projetos em andamento. Não posso nem cobrar mais deles diante das circunstâncias. Espero que a humanidade não viva isso nunca mais. Do ponto de vista pessoal, sofri um abalo. Não só pela Covid-19, que eu tive, mas um abalo psicológico muito grande, porque a cobrança em cima da gente é muito alta.
Só tenho a agradecer aos meus secretários e aos presidentes de empresas que nos ajudaram e continuam nos ajudando a passar por tudo. A nossa expectativa é fecharmos o ano com muitas iniciativas engatilhadas, licitações em curso, para que a gente possa entrar em 2021 acelerando o máximo possível.
O que eu tenho dito para o meu time é o seguinte: vamos ter que tirar o atraso de 2020 em 2021, acelerando o máximo possível para mostrar a essa cidade que é possível fazer e nós vamos fazer.