Vacinação de oficiais: associação diz que PMs foram “trapaceados”
O Metrópoles revelou, nesta sexta-feira, que o comandante-geral da PMDF e oficiais do alto-comando tomaram vacina antes de 8 mil praças
atualizado
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O presidente da Caserna – associação que reúne policiais militares do Distrito Federal –, cabo Carlos Victor Fernandes Vitório, disse que PMs foram “trapaceados” com a vacinação do comandante-geral e de oficiais, antes de profissionais da linha de frente.
Em reportagem publicada nesta sexta-feira (2/4), o Metrópoles revelou que integrantes de alta patente da PMDF, incluindo o comandante-geral, coronel Julian Rocha Pontes (foto em destaque), de 47 anos, receberam a vacina contra a Covid-19 – antes que, pelo menos, 8 mil praças da corporação pudessem ser imunizados. Julian Rocha Pontes foi exonerado do cargo, horas depois.
“Enquanto, por mais de um ano, os policiais operacionais se sacrificaram – alguns com a própria vida (estes jamais serão esquecidos, são verdadeiros heróis), outros pisando em espinhos e dividindo o peso da cruz pandêmica –, aqueles que deveriam liderar, dar exemplo, elevar o glorioso nome da Polícia Militar, subvertem todos os valores hierárquicos e disciplinares em busca da ‘xepa'”, disse o presidente da Caserna. A associação é composta por, aproximadamente, 2 mil PMs, dos quais 200 são contribuintes da entidade.
“Hoje, talvez, o sentimento dos militares do Distrito Federal seja o mesmo terem sidos feridos no tórax pela ‘Lança do Destino’, encontrando-se em sangue e a um passo da morte. Triste descobrir em, uma Sexta-Feira Santa, tantos judas. Que Deus faça justiça, porque, na dos homens, eu custo a acreditar”, declarou Vitório da Caserna, como ele é conhecido.
A Associação dos Oficiais da Polícia Militar do Distrito Federal (Asof-DF) informou ao Metrópoles que aguarda o pronunciamento do coronel Julian Pontes sobre o fato.
Entenda
Na tarde de quarta-feira (31/3), o comandante-geral da PMDF, de 47 anos, tomou uma dose da vacina na UBS 1 da Asa Sul. Ao ser questionado pelo Metrópoles, o Centro de Comunicação Social da PM confirmou a informação e acrescentou que “outros policiais militares” foram imunizados, de acordo com a circular vigente da Saúde do DF, que passou a valer na segunda-feira (29/3).
A comunicação da PM, no entanto, não especificou quem foram os outros policiais vacinados. Mas a reportagem apurou que, além de Pontes, os seguintes integrantes do alto-comando receberam o imunizante:
- o subcomandante-geral, coronel Cláudio Fernando Condi, 47 anos; e
- o subcomandante operacional do 2º Comando de Policiamento Regional, tenente-coronel Eduardo Condi, 48 anos.
Repercussão
Líder do governo na CLDF e policial militar da reserva, o deputado distrital Hermeto (MDB) emitiu uma nota em que se diz “revoltado” com o caso: “Quem está morrendo, em sua maioria, não são os oficiais do alto comando, são os praças que estão na ponta. Faltou bom senso”.
“Espero que tenhamos mais vacinas para os policiais militares e que nossos comandantes tenham mais senso em relação ao momento. O governo também repudia a falta de sensibilidade praticada por esses oficiais. Não é hora de desespero e individualismo. É hora de nos unirmos e salvarmos a tropa. A polícia está sendo chacinada pela Covid-19”, afirma Hermeto.
Bombeiro militar da reserva e presidente da Comissão de Segurança da CLDF, o deputado distrital Roosevelt Vilela (PSB) divulgou um vídeo em que fala que o comandante-geral furou a fila da vacinação e pede a exoneração dele.
“Isso não vai ficar em branco. Estaremos acionando o artigo 101, A, da Lei Orgânica do DF, que prevê, por meio da Câmara Legislativa, o afastamento imediato dos gestores que atentem contra a coisa pública. Estaremos, também, representando, no Ministério Público, uma queixa-crime, e exigiremos que a Corregedoria da Polícia Militar abra conselho de justificação contra esses oficiais”, declara Roosevelt Vilela.
Em transmissão ao vivo no Facebook, o deputado distrital Chico Vigilante (PT) defende que os 8 mil praças que estão na rua, fazendo a segurança da população, deveriam ter a prioridade. “Isso é uma vergonha. É a desmoralização completa do plano de vacinação do Distrito Federal”, ressalta.
Esta matéria foi atualizada às 13h45 e o nome do chefe do Estado Maior da PMDF foi retirado da relação inicial de oficiais vacinados com a xepa. Ele alegou estar com suspeita de Covid-19, afastado das funções e, portanto, inapto clinicamente para receber o imunizante.