Secretário diz que acusação de racismo feita por deputado sobre campanha é “injusta e precipitada”
Deputado Fábio Felix tirou de contexto uma das quatro peças da campanha do GDF de conscientização sobre os riscos das queimadas à saúde
atualizado
Compartilhar notícia
O secretário de Comunicação do Distrito Federal, Weligton Moraes, afirmou que a acusação feita pelo deputado distrital Fábio Felix (PSol) de racismo em campanha institucional para conscientização sobre as queimadas durante a seca é “injusta” e “precipitada”.
A primeira fase da campanha consiste na sobreposição de uma árvore em chamas na cabeça de quatro pessoas, com o seguinte recado escrito: “Ligue 193 e denuncie. Combater queimadas é preservar a nossa própria natureza”.
A divulgação ocorre em meio à explosão do número de incêndios florestais durante o período de seca no DF, que aumentaram 521%. Em abril, o Grupamento de Proteção Ambiental do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (CBMDF) atendeu a 94 ocorrências de queimadas. Em junho, 584.
A campanha publicitária usa quatro personagens para conscientização sobre os efeitos das queimadas à saúde das pessoas, dos animais e do meio ambiente: um pardo, um negro, uma mulher branca e um homem branco.
Veja abaixo:
A imagem da árvore pegando fogo sobre a cabeça de humanos e a mensagem de conscientização acerca das queimadas são as mesmas em todas as peças — apenas os modelos mudam.
Embalado por críticas infladas nas redes sociais que retiraram do contexto da campanha a peça publicitária com o homem negro, Fábio Felix chamou a iniciativa de “criminosa” e levou o caso ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), que já ouviu a Secretaria de Comunicação.
A primeira fase da campanha, com objetivo de humanizar o tema por meio das fotos dos personagens, foi concluída. Agora, a publicidade se concentrará na conscientização sobre as queimadas, com imagens de bichos para representar o prejuízo do fogo à fauna.
Weligton Moraes, um homem negro que está no cargo de secretário de Comunicação do DF pela oitava vez, rechaça a acusação de racismo e diz ter a preocupação de inserir representantes de diferentes etnias em todas as campanhas publicitárias do Governo do Distrito Federal (GDF).
“Não houve qualquer intenção da nossa parte de ser racista. Nosso histórico prova isso: sempre tivemos a preocupação de nossas campanhas serem humanizadas e envolverem todas as etnias e representantes da diversidade dos povos”, afirmou. “Foi uma atitude injusta e política do deputado, que poderia vir aqui para que a gente esclarecesse [o assunto].”
O Núcleo de Enfrentamento à Discriminação (NED) do MPDFT informou que vai rever a continuidade do procedimento de investigação sobre a campanha após o secretário de Comunicação explicar a publicidade.
“Antes de dar continuidade a uma ação com viés político, o MPDFT agiu isentamente, como é o papel do órgão, e permitiu que a gente esclarecesse a campanha. Ficou claro que não houve qualquer desejo de manifestação racista”, completou Weligton.
O que diz o deputado
Em nota, Fábio Felix disse que é “atribuição constitucional de um deputado acionar os órgãos da Justiça e de controle”. Leia o posicionamento do parlamentar na íntegra:
“É necessário fazer alguns esclarecimentos sobre peça publicitária do GDF alusiva às queimadas. A imagem faz um paralelo entre as queimadas e o cabelo crespo de uma pessoa negra. Primeiro, é importante destacar que é atribuição constitucional de um deputado acionar os órgãos de justiça e de controle; neste caso, a referida publicidade causou incômodo e indignação nacional, inclusive do movimento negro, razão pela qual nosso mandato foi provocado a acionar o Ministério Público.
Também é fundamental destacar que associar o cabelo de uma pessoa negra a algo ruim e criminoso como as queimadas é inaceitável tendo em vista a sociedade racista em que vivemos. Mesmo que a campanha tenha outras peças, é preciso ter consciência sobre a diferença entre usar estereótipos de pessoas brancas e de pessoas negras de uma forma negativa. Pessoas brancas não sofrem racismo.
Esperamos que o debate provocado gere sempre reflexão e cuidado por parte do poder público local. Como tudo que fazemos na política, não se trata de um ataque a uma pessoa ou órgãos, mas o compromisso com o enfrentamento ao racismo no Brasil.“