Secretário de Segurança sobre Rui Costa: “Essa visão explica dificuldade no acordo salarial”
Chefe da pasta de Segurança Pública do DF, Sandro Avelar afirmou que ataque de Rui Costa a Brasília “é pensamento pautado no preconceito”
atualizado
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O secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Sandro Avelar, afirmou à coluna Grande Angular que a visão do ministro da Casa Civil, Rui Costa, sobre Brasília “explica a dificuldade no cumprimento do acordo salarial das nossas forças de segurança”.
Rui Costa declarou, durante evento no interior da Bahia na sexta-feira (2/6), que Brasília é “ilha da fantasia” e que capital do país não deveria ter sido transferida para o local escolhido por Juscelino Kubitschek.
“Essa visão explica a dificuldade no cumprimento do acordo salarial das nossas forças de segurança. É o pensamento pautado no preconceito e no atraso, infelizmente, [de alguém] em uma posição muito importante na escala decisória do país, embora não represente a opinião do governo federal”, declarou Avelar.
O secretário de Segurança Pública acrescentou que “enquanto tantos lutam para se criar a estabilidade na capital, outros ajudam a fomentar instabilidade social, insatisfação e revolta entre os profissionais da segurança pública e, consequentemente, insegurança para a população”.
As forças de segurança do DF reivindicam reajuste salarial de 18%. Contrariando expectativas de policiais e bombeiros, além do acordo fechado com a bancada distrital no Congresso, o governo federal apresentou proposta para pagar a recomposição em três anos.
No entanto, a notícia provocou insatisfação entre os servidores. Na Polícia Civil, o clima é de descontentamento e indica uma greve a caminho.
Um levantamento da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) revela que os salários dos delegados do último nível da carreira no DF, por exemplo, estão defasados em relação a 19 estados do país.
Além de questões que envolvem os salários de bombeiros, policiais civis e militares, as corporações lidam com menos profissionais nos quadros do que tinham há anos e em quantitativo menor do que o previsto em lei.
No caso da Polícia Militar, a previsão era haver 18 mil servidores, mas hoje a corporação tem apenas 10 mil.
Regime fiscal
Além dos desdobramentos no descumprimento do acordo, outro tema preocupa autoridades da capital federal. Há risco de o Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF) — que custeia a segurança e outras áreas essenciais da capital — perder R$ 87 bilhões, em 10 anos.
Essa é a projeção feita pelo Governo do Distrito Federal (GDF) caso o FCDF seja incluído no novo regime fiscal, aprovado pela Câmara dos Deputados e em discussão no Senado.
“Espero que o Senado repare esse equívoco e dê à Câmara a oportunidade de se reposicionar sobre o assunto, entendendo a realidade que coloca nossas forças entre as mais mal remuneradas do país, apesar de só elas protegerem autoridades federais oriundas de todos os lugares do Brasil e do mundo, que residem, por força do ofício, na capital da República”, completou Sandro Avelar.
Entenda
Durante evento em Itaberaba (BA), na sexta-feira (2/6), o ministro Rui Costa disse que Brasília é uma “ilha da fantasia”. “Aquele negócio de botar a capital do país longe da vida das pessoas, na minha opinião, fez muito mal ao Brasil”, declarou.
“Era melhor [a capital federal] ter ficado no Rio de Janeiro ou ter ido para São Paulo, para Minas ou Bahia. Para que quem fosse entrar em um prédio daqueles, ou na Câmara dos Deputados ou Senado, passasse, antes de chegar ao local de trabalho, em uma favela, embaixo de viaduto, com gente pedindo comida, vendo gente desempregada”, completou o ministro.
As falas provocaram reações negativas entre autoridades do DF. Além de deputados do próprio Partido dos Trabalhadores (PT), o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e a vice, Celina Leão (PP), criticaram a fala do ministro.
“Ele é um idiota completo. Não merecia estar onde se encontra. Agora, sabemos de onde vem o ataque contra o Fundo Constitucional”, afirmou Ibaneis à coluna Grande Angular.