Robson Cândido deu celular “espião” para rastrear suposta ex-amante
Ex-delegado-geral da PCDF também monitorava a mulher por meio da placa do carro dela, segundo consta em denúncia do MPDFT
atualizado
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O ex-delegado-geral da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) Robson Cândido, denunciado por causa de uma série de crimes praticados contra uma suposta ex-amante, monitorava a mulher por meio de um celular “espião” e da placa do carro dela.
Em um documento de 67 páginas ao qual o Metrópoles teve acesso, o homem foi acusado de perseguir a vítima depois de ela terminar o relacionamento com ele, em abril último.
Conforme consta no arquivo, Cândido chegou a presentear a suposta ex-amante com um aparelho celular modelo iPhone 11 Pro Max, “intencionando em ter acesso à localização dela em tempo real por meio da ferramenta ‘buscar do telefone’”, segundo as apurações do Ministério Público.
No processo, é relatado que entre 6 de agosto e 22 de setembro, Robson utilizou, indevidamente, acesso restrito ao banco de dados a que tinha acesso, por conta do cargo que ocupava, para verificar por onde andava o veículo da suposta ex-amante.
Em 21 de agosto, por exemplo, Robson perseguiu a vítima, na condução de uma viatura oficial da frota da PCDF. Segundo consta no processo, ele dirigia “perigosamente pelas ruas de Águas Claras e fechou outros veículos, até parear a viatura com o automóvel” da amante.
“Com o semáforo fechado, o ex-delegado desceu do veículo em direção à mulher e tentou abrir a porta do carro dela para retirá-la, o que só não ocorreu em razão de o ofensor ter notado que vítima estava filmando a abordagem criminosa. Assim, Robson regressou para a viatura da PCDF que utilizava ilegalmente na ocasião e não foi mais visto”, consta no processo.
Veja:
De acordo com a ação movida pelo Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT), a perseguição com viaturas oficiais foi registrada pela vítima em ao menos outra ocasião. Por conta da placa dos veículos, promotores conseguiram comprovar que os automóveis utilizados por Robson pertenciam à PCDF.
O ex-delegado geral, inclusive, surpreendeu a amante na delegacia enquanto ela tentava denunciá-lo. Após a situação, conforme o processo, a vítima passou a desconfiar que Cândido estaria utilizando ferramentas da polícia para conseguir saber o paradeiro dela em tempo real, uma vez que “ele passou a “encontrá-la” pelo trânsito e em locais que estava visitando”,
Rastreamento de placa
Para conseguir ter acesso à rota da vítima, Robson teria dito que o automóvel dela estaria envolvido em esquema de estelionato relacionado a leilões. Em seguida, foram encaminhadas informações sobre o proprietário do carro, bem como ocorrência policial vinculada àquela placa.
Novamente, em 22 de agosto, Robson teria solicitado o optical character recognition (OCR) do veículo. O OCR é um leitor automático de placas veiculares utilizado para fins de segurança, controle, geração de estatísticas, rastreabilidade.
Robson e a vítima teriam iniciado um caso em janeiro de 2022, segundo o processo. O relacionamento teria sido marcado por episódios de “controle e manipulação por parte do ex-delegado, tais como: comportamentos possessivos e ciumentos de forma habitual”.
Além disso, o ex-delegado-geral pedia frequentemente que a denunciante conectasse o WhatsApp dela ao celular dele, para ter acesso ao conteúdo das mensagens trocadas pela vítima no aplicativo.
Réu na Justiça
O arquivo ao qual o Metrópoles teve acesso reúne os elementos que embasaram a denúncia apresentada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) contra o delegado aposentado e, atualmente, preso. Nesta sexta-feira (17/11), a Justiça local aceitou as acusações, e Robson Cândido se tornou réu.
Ele é acusado de cometer diversos crimes contra a suposta ex-amante, como stalking (perseguição); violência doméstica; grampo ilegal; peculato; e corrupção passiva. O sigilo do processo foi derrubado pelo Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Águas Claras nesta sexta.
O ex-delegado-geral da PCDF teria começado a perseguir a vítima depois de ela terminar o relacionamento com ele, em abril último.
Dias após o rompimento, segundo detalhes do processo, Robson passou a usar outros números telefônicos, inclusive linhas corporativas e de servidores da PCDF, para fazer chamadas e encaminhar mensagens à vítima, pois havia sido bloqueado por ela.