Presidente de sindicato visitou escritório de pré-candidata à OAB-DF 7 vezes antes de greve
O presidente do Sindecof-DF, Douglas Cunha, encontrou-se com o sócio da pré-candidata Thais Riedel: “Questões pessoais”
atualizado
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Embora a eleição para a OAB-DF seja em novembro, a campanha pelo comando da entidade que representa 67 mil advogados já ferve. Nesse contexto, uma greve deflagrada na segunda-feira (10/5) injetou combustível nas prévias da sucessão.
O movimento constrange a atual gestão, liderada por Délio Lins e Silva Júnior, que é pré-candidato à reeleição. Os bastidores de como foi construída politicamente a paralisação, entretanto, expõem um grupo de oposição: o presidente do sindicato que representa os empregados da OAB se reuniu, pelo menos, sete vezes nos últimos três meses com representantes do escritório de Thais Riedel, já declarada pré-candidata à presidência da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional do Distrito Federal (OAB-DF).
Poucos dias antes de a greve dos empregados da OAB-DF ser deflagrada, o presidente do Sindicato dos Empregados em Conselhos e Ordens de Fiscalização Profissional e Entidades Coligadas e Afins do DF (Sindecof-DF), Douglas de Almeida Cunha, visitou o escritório de Thais Riedel. A advogada é sócia de Antônio Alves, ex-tesoureiro das duas gestões anteriores à atual.
O escritório Riedel Advocacia fica no 13º andar da Torre A, no Edifício Libert Mall. Segundo consta no gerenciador de ponto do condomínio, o presidente do Sindecof-DF compareceu ao endereço nos dias 8, 10, 23 e 25 de março. Em 14 abril, Douglas Cunha também esteve no local e, por último, há um registro de sua entrada no dia 3 de maio. Nas ocasiões, o representante se reuniu com o sócio de Thais, Antônio Alves.
Viagem ao Ushuaia
Em contato com a coluna, o presidente do Sindecof-DF, Douglas Cunha, afirmou não ter havido qualquer encontro com Thais Riedel, e enfatizou que todas as visitas foram para o sócio dela, Antônio Alves.
“Não conversei com a dra. Thais em nenhum momento. Fui ao escritório para tratar de questões pessoais. Estou organizando uma viagem com o dr. Antônio para o Ushuaia (na Argentina). Nos encontramos para tratar disso. Nunca falamos de paralisação. A greve foi uma escolha dos empregados devido ao descumprimento do acordo coletivo da categoria”, frisou Douglas Cunha.
Segundo o sindicalista, no último dia 30 de abril, a OAB-DF emitiu comunicado dizendo que estava implementando progressões salariais sem negociação com o sindicato.
Cliente
Por meio de nota, o escritório Riedel disse não ter qualquer envolvimento com o movimento paredista do sindicato. “A Riedel Advocacia é um escritório especializado em direito trabalhista, com mais de 60 anos de atuação. Atendeu, atende e sempre atenderá trabalhadores e todos aqueles que buscam o abrigo da lei. Entre seus clientes, esteve, há mais de oito anos, o Sindicato dos Empregados em Conselhos e Ordens de Fiscalização Profissional e Entidades Coligadas e Afins do DF (Sindecof-DF) e da OAB-DF e, portanto, é natural que dirigentes da entidade procurem o escritório para tratar de processos ainda em andamento”, disse a assessoria da empresa de advocacia.
Ainda segundo os integrantes do escritório, “querer atribuir ao processo eleitoral da entidade, previsto para novembro e, portanto, distante seis meses dos dias que correm, a responsabilidade pela atual paralisação é se esquivar de responsabilidades trabalhistas e diminuir a legítima reivindicação dos trabalhadores, que com tanto zelo atendem à OAB-DF”.
O movimento começou na segunda-feira (10/5) e, conforme anunciou a OAB, teve adesão de 10% dos empregados. De acordo com o sindicato, a adesão é de 50%.
A coluna tentou entrar em contato com o advogado Antônio Alves, mas o celular estava desligado.
“Cunho político”
O escritório Riedel Advocacia é especializado em causas trabalhistas e tem atraído funcionários da OAB-DF que foram demitidos na atual gestão de Délio.
No último pleito, no qual Délio Lins e Silva Júnior saiu vitorioso, a advogada Thais Riedel candidatou-se à vice-presidência da OAB-DF, na chapa liderada por Jacques Veloso.
Sobre os encontros entre o presidente do Sindecof e o sócio de Thais Riedel, o presidente da OAB-DF, Délio Lins e Silva Júnior, declarou “que parecem ser de cunho político e podem estar diretamente ligadas à greve”.
“Não entendíamos o porquê de o Sindicato sequer levar à votação a proposta da OAB/DF, que era muito mais benéfica aos nossos funcionários do que a prevista do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), e declarar a greve com o voto de menos de 10% do nosso quadro. Agora, com a descoberta da estranha relação entre o sindicato e uma das candidatas de oposição, tudo isso se torna claro”, afirmou o atual presidente da OAB-DF ao Metrópoles.
Ele ainda ressaltou que a OAB/DF “analisará as medidas administrativas e judiciais contra os envolvidos”.
Greve
A paralisação inclui funcionários da Caixa de Assistência dos Advogados do DF (CAA-DF) e da Fundação de Assistência Judiciária do DF (FAJ-DF). O movimento foi aprovado durante assembleia em 7 de maio, pelo Sindecof-DF.