Plano de saúde deixará 50 crianças autistas sem atendimento no DF
A Amil comunicou que irá interromper a cobertura do tratamento domiciliar do protocolo Denver, indicado para crianças autistas de até 5 anos
atualizado
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Um grupo de aproximadamente 50 crianças autistas ficará desassistido permanentemente, a partir de 20 de março, com o anúncio repentino da Amil de que cancelará a cobertura do tratamento domiciliar do método Denver.
A advogada Ingrid Meichtry Fortes Câmara, que representa as mães das crianças afetadas pela decisão da Amil em Brasília, explica que apenas uma clínica com as credenciais necessárias para realização desse tratamento atende por meio do plano de saúde no Distrito Federal.
O método Denver objetiva desenvolver competências cognitivas e sociais em crianças Transtornos do Espectro Autista (TEA) de até 5 anos de idade. “Demorou para as assistentes terapêuticas conseguirem prender a atenção dos filhos e dar tratamento de qualidade a eles. Quando finalmente conseguimos tratamento de qualidade, o plano de saúde corta. É um absurdo o que eles estão fazendo. É o único plano em Brasília que possuía isso, e agora ele corta no meio do tratamento das crianças”, criticou.
Na última segunda-feira (4/3), a proprietária da clínica informou aos responsáveis das crianças que a Amil comunicou que o atendimento domiciliar não está incluído no rol de obrigatoriedade da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e, por isso, iria encerrar a cobertura do serviço até o dia 20 de março. Com a decisão do plano de saúde, os atendimentos serão interrompidos.
Ingrid é mãe de Davi, que iniciou o tratamento com 1 ano e 11 meses. Hoje, ele tem 2 anos e 6 meses. A advogada disse que a interrupção irá “gerar prejuízo eterno na vida das crianças”.
“São cerca de 50 crianças que fazem tratamento do método Denver, naturalista, que envolve questões diárias da criança, ensina à criança atípica a fazer aquilo que as crianças típicas fazem naturalmente, que é contar, ter mais contato visual, falar. É extremamente importante”, enfatizou. O tratamento particular custa, aproximadamente, R$ 5 mil mensais.
“Há todo um trabalho desenvolvido com a criança com uma carga bem intensiva, de 15 horas semanais. E esse trabalho seria interrompido, segundo foi comunicado, nessa segunda-feira, à dona da clínica. Dia 20 acabou. Não haveria tempo para avaliação dessas crianças, para fazer laudo sobre quais habilidades ela adquiriu para passar para próxima clínica e não haveria desvinculação gradual”, destacou a mãe de outra criança que também tem o plano de saúde da Amil e que pediu para não ser identificada.
Ingrid afirmou que as mães irão levar o caso à Justiça para impedir o descredenciamento do tratamento domiciliar. “Caso não cedam, todas iremos judicializar, com pedidos de liminares. Por lei, não podem interromper tratamento em andamento. Estão descumprindo totalmente”, enfatizou.
O outro lado
Em nota, a Amil disse que “oferece o tratamento de Transtornos do Espectro Autista (TEA) para milhares de beneficiários em todo o país seguindo expressamente as definições do órgão regulador em que a execução da prescrição do médico assistente – balizada pelos procedimentos com cobertura prevista no rol – seja realizada por profissional habilitado e em estabelecimento de saúde ou por meio de telessaúde”.
“O método Denver, classificado como um Modelo de Intervenção Precoce, possui autorização pela operadora com a orientação de que esse cuidado seja realizado em ambiente clínico, conforme regulamentação. Dessa forma, o método Denver, tal qual outros métodos e terapias para TEA, continuam com cobertura integral na rede credenciada especializada da Amil em todo o país, incluindo o Distrito Federal”, declarou, sem explicar o motivo da interrupção da cobertura do tratamento domiciliar.