Pacientes ficam até 120h sem avaliação no HRG, dizem médicos: “Realidade desumana”
Um grupo de 19 médicos assinou memorando que revela a situação precária no HRG, com superlotação de pacientes e déficit de profissionais
atualizado
Compartilhar notícia
Médicos do Hospital Regional do Gama (HRG) se reuniram para denunciar a situação precária de trabalho e de atendimento na unidade de saúde do Distrito Federal. Os profissionais relatam problemas como déficit de profissionais, desvio de função, falta de materiais essenciais para o pronto socorro no auge da pandemia de Covid-19 e superlotação de mais de 200% na sala vermelha, destinada a casos graves e com risco iminente de morte.
No total, 19 médicos do pronto-socorro adulto assinaram, entre terça (3/8) e esta quinta-feira (5/8), o memorando no qual detalham as dificuldades enfrentadas no HRG diariamente. A coluna Grande Angular teve acesso ao documento.
Os servidores descrevem que os pacientes são submetidos a “condições desumanas”. Alguns já ficaram até 120 horas sem qualquer avaliação médica, mesmo estando internados, segundo os médicos, “o que reflete o gritante desequilíbrio entre servidores e demanda populacional”.
“É triste e realmente inaceitável a realidade enfrentada pelos usuários citados que, muitas vezes, chegam ao pronto-socorro do HRG e não conseguem atendimento. Pior ainda a realidade dos que vencem a barreira da porta e são internados para se depararem com condições tão precárias a ponto de não terem avaliação e ou prescrição diárias”, escreveram.
Segundo os médicos, o box de atendimento “não possui área de isolamento de contato respiratório”. “Quando algum paciente da enfermaria, em isolamento, apresenta descompensação clínica grave e precisa de cuidados intensivos ou intermediários, o mesmo é trazido e conduzido no box, com espaço reduzido e habitualmente superlotado, o que é insalubre para toda a equipe e demais pacientes assistidos”, relataram.
De acordo com os servidores, 13 médicos emergencistas foram nomeados no HRG durante a pandemia, porém, mais da metade deixaram os cargos “por não suportarem ou tolerarem as péssimas condições de trabalho”.
Os médicos dizem que o quantiativo mínimo de profissionais previstos no manual da Secretaria de Saúde para o pronto-socorro do HRG seria de 10 médicos. No entanto, a realidade está aquém do necessário: de um a três médicos ficam, por turno, para atendimento e responsabilização de todos os pacientes internados, bem como para cuidar da demanda ativa de porta.
Confira imagens do HRG lotado:
O memorando é direcionado ao diretor do HRG, ao superintendente da Região de Saúde Sul, ao Sindicato dos Médicos do DF (SindMédico-DF), ao gerente de apoio aos Serviços de Urgência e Emergência, ao Conselho Regional de Medicina do DF (CRM-DF) e ao Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT).
“Mais preocupante”
O SindMédico-DF disse que “óbitos evitáveis estão ocorrendo no HRG e pedidos de demissão por falta de condições de trabalho”.
Após receber a denúncia dos profissionais, o presidente do SindMédico-DF, Gutemberg Fialho, foi ao HRG, na manhã de quarta-feira (4/8). “Não há o menor exagero no que foi descrito. É ainda mais preocupante quando se vê a situação in loco“, disse.
Segundo o SindMédico-DF, problemas na estrutura física e falta de materiais e equipamentos básicos, como medicamentos simples, dificultam ainda mais o atendimento. “A Sala Vermelha conta com quatro leitos oficiais e outros quatro leitos de estabilização, mas a ocupação chega a 12 ou 13 pacientes. O local tem goteiras na época de chuvas”, destacou.
O sindicato disse que vai encaminhar a denúncia à Secretaria de Saúde, ao MPDFT e ao CRM-DF, além de realizar uma reunião com órgãos de controle, gestores do hospital e médicos para a solução da crise, na segunda-feira (9/8).
Fialho alertou que a situação tende a se agravar com “o provável aumento do número de casos de Covid-19, em função da circulação da variante Delta no DF”.