Moradores fecham faixas de via em protesto por falta de água no Rio
Há relatos de casas sem água há um mês no morro Santa Marta, na Zona Sul. Moradores reclamam que a situação piorou após privatização
atualizado
Compartilhar notícia
Enviada especial ao Rio de Janeiro – Moradores da comunidade Santa Marta, na Zona Sul do Rio de Janeiro, protestaram contra a falta de água na comunidade, nesta quarta-feira (22/11).
Há relatos de casas desabastecidas há um mês no morro que fica próximo do Cristo Redentor, em meio ao calor com sensação térmica que chegou a 60ºC. Indignados com as constantes interrupções no sistema de distribuição da comunidade, de responsabilidade da Águas do Rio, os moradores fecharam duas das três faixas da rua que passa em frente à Praça Corumbá, próximo ao bairro de Botafogo.
“Não consigo nem cozinhar em casa. Lá tem um mês que falta água”, contou Luiz Cláudio Ferreira dos Santos, 48 anos, que trabalha em uma escola no Jardim Botânico. Segundo Santos, algumas casas têm recebido água, mas de forma insuficiente. “Tem lugar onde ela chega, mas é mijando [pingando]. Estamos sofrendo. Piorou muito depois que a Águas do Rio entrou”, reclamou.
A Creche Mundo Infantil, que funciona no morro Santa Marta, não abriu nesta quarta-feira, justamente por falta d’água. “São 60 crianças atendidas. Os pais chegaram para deixar os filhos, mas tiveram que voltar para casa com eles ou arrumar alguém para cuidar das crianças”, disse a funcionária administrativa da instituição Maria Helena Rodrigues, 54 anos.
Os moradores do morro reivindicam tratamento igualitário, já que regiões vizinhas, como Botafogo, não têm problema com o fornecimento de água. “Somos favelados, mas temos direito a uma vida digna. Temos direito à água”, enfatizou Maria Helena.
Adriana Neves, 44, disse que não chega água na casa dela há uma semana. Ela conta que cuida do filho que tem Síndrome de Down e autismo, e tem sofrido muito sem água, especialmente porque ele usa fralda e precisava do recurso para limpá-lo com frequência. “Tenho recebido ajuda das pessoas que gostam de mim. Hoje pingou um pouco de água, mas só porque sabiam que teria manifestação”, queixou-se.
Os residentes do Santa Marta dizem que a região tinha duas bombas de água, mas, recentemente, apenas uma tem abastecido a comunidade. “A água não tem força para chegar ao pico”, afirmou uma moradora durante o protesto.
O ativista e guia de turismo Thiago Firmino, 42, disse que o problema na comunidade é histórico. “Todo ano a gente tem duas ou três manifestações, e nada é resolvido. Toda onda de calor que chega é uma desculpa”, afirmou.
Em 2021, a Águas do Rio assumiu serviços de saneamento básico antes realizados pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), por meio de um contrato de concessão.
O outro lado
Em nota enviada à coluna, a Águas do Rio disse que “o abastecimento da comunidade do Santa Marta foi afetado por um vazamento de grandes dimensões em Botafogo, nesta terça-feira”.
Segundo a empresa, “o reparo já foi finalizado e o abastecimento está sendo retomado de forma gradativa”. “A concessionária reforça que foi um problema pontual e que o abastecimento na comunidade é regular”, disse. Os moradores, porém, reclamam que a falta de água é constante.