Jardineiro da plantação de maconha de delegado recebia R$ 700 por semana
Delegado da Polícia Civil do DF, a esposa e os dois filhos foram presos nessa sexta-feira (4/12) e indiciados por tráfico
atualizado
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O jardineiro Antônio José Carlos da Silva, do lote onde foi encontrada grande plantação de maconha que seria de um delegado da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), disse em depoimento aos investigadores que recebia R$ 700 por semana em dinheiro para cuidar do jardim e das plantas cannabis, da qual é feita a droga.
O delegado Marcelo Marinho de Noronha; a esposa dele, Teresa Cristina Cavalcante Lopes; e os filhos, Ana Flavia Rubenich e Marcos Rubenich Marinho de Noronha, foram presos nessa sexta-feira (4/12). O Metrópoles revelou o caso neste sábado (5/12). Pela manhã, após audiência de custódia, o juiz Evandro Moreira da Silva converteu em preventiva a prisão em flagrante da família.
O caseiro da chácara, localizada em São Sebastião, deu detalhes sobre o processo realizado pelo delegado para crescimento da planta e produção da maconha. Segundo Antônio, após a planta crescer, o delegado retirava o caule e o levava para a estufa refrigerada. “Depois, Marcelo retira a planta da estufa e ele mexe até ficar pronta para o consumo”, diz trecho do depoimento obtido pelo Metrópoles.
O empregado ainda disse que sabia do consumo próprio do entorpecente pela família, mas afirmou não ter conhecimento do destino do restante da droga. Ele negou ainda ter contato com o produto final da produção. Antônio concordou, durante o depoimento, que é uma grande quantidade de droga somente para uso.
O delegado, a esposa e os dois filhos foram indiciados por tráfico e associação para o tráfico.
Entenda
Noronha é delegado da 1ª classe. Ele já atuou na 10ª Delegacia de Polícia (Lago Sul) e atualmente integrava a Comissão Permanente de Disciplina (CPD) da PCDF. O delegado-geral da PCDF, Robson Cândido, pediu a exoneração do policial.
Durante as buscas feitas na noite dessa sexta-feira (4/12), foi localizada uma estrutura para produção de maconha em “escala industrial”, conforme o processo. Cômodos foram projetados para servirem de estufas.
A polícia apreendeu pés de maconha, grandes e pequenos; fertilizantes; uma pistola da marca Taurus, calibre .40, de propriedade da PCDF; uma espingarda calibre .12; diversas munições calibre .40; contas de água e luz da referida chácara em nome de Teresa Cristina Cavalcante Lopes; rolo de saco plástico para provável ensacamento da droga, entre outros materiais.
Informações apuradas pela Corregedoria-Geral da PCDF apontam que os filhos mantinham um escritório especializado na comercialização de skunk, tipo mais puro da maconha, vendido na Europa.
De acordo com o relatório policial, Marcelo Noronha contou ter viajado entre os dias 14 e 21 de novembro, na companhia de sua companheira, para a Colômbia, para aquisição de sementes de cannabis. Ele admitiu, ainda segundo o documento, que fornecia a substância entorpecente para amigos próximos.
“Vale ressaltar, que na data de hoje, durante o trajeto entre a chácara e sua residência, Marcelo mencionou que a viagem entre os 14 e 21 de novembro, na companhia de sua companheira, esteve na cidade de Bogotá na Colômbia para aquisição de sementes de cannabis, bem como mencionou que fornecia a substância entorpecente para amigos próximos”, diz trecho da investigação.
O outro lado
Advogado da família, Cleber Lopes disse que a plantação era para consumo próprio e como parte de um projeto do delegado para desenvolver tecnologia referente à produção do canabidiol – substância medicinal à base de cannabis – para uso terapêutico. A defesa refuta a ligação com crime: “A polícia não reuniu nenhum elemento externo que pudesse relevar tráfico”.
Lopes pontuou que “não tem nenhum laudo nos autos dizendo que a quantidade de planta seria capaz de produzir determinada quantidade de entorpecente para consumo”. “Não há nenhuma informação de que eles se dedicassem ao tráfico de entorpecente. O Marcelo é delegado de polícia de classe especial, já foi diretor de presídio. Ele tem receita recebida nos Estados Unidos para uso da cannabis com finalidade terapêutica e achou melhor produzir do que comprar”, afirmou.
Segundo o advogado, o delegado tinha propósito de desenvolver tecnologia a fim de produzir o canabidiol para tratamento contra doenças. “É uma realidade mundial e os juízes no Brasil já estão deferindo liminares para que pessoas façam uso do canabidiol. Ele enxergou nisso uma possibilidade interessante, passou a estudar o assunto, viajou para os EUA várias vezes, participou de congresso sobre o tema. O Marcelo chegou a fazer minuta de contrato social de empresa e estava procurando uma forma de regularizar isso na Anvisa para poder fazer pesquisa. Errou em começar antes da autorização”, assinalou Cleber Lopes.