Izalci Lucas emprega parentes e contrata empresas de familiares para servirem ao PSDB
Na condição de presidente do PSDB-DF, o deputado federal contratou os mais diversos serviços oferecidos por empresas ligadas a parentes
atualizado
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O presidente local do PSDB, deputado federal Izalci Lucas, tem o hábito de empregar parentes e contratar empresas da própria família na estrutura do partido que comanda. Uma prática que não é ilegal — porque as legendas são entidades de natureza privada —, mas frontalmente contestada por integrantes da própria agremiação. A conduta, mantida desde sempre na gestão Izalci, ultimamente inflamou o grupo que disputa poder com o presidente tucano.
Izalci Lucas mantém em cargo estratégico da direção partidária Nair Lelis de Sousa, a irmã de sua mulher, Ivone Fernandes Ferreira. A cunhada do presidente recebe salário de R$ 7.413,53 para ser uma espécie de braço direito do político na administração da sigla. Além do valor que consta em contracheque, o Metrópoles teve acesso a uma série de cheques de R$ 2 mil nominais a Nair e assinados por Izalci. Os pagamentos desse valor, em geral, ocorrem, segundo demonstram as cópias dos cheques, uma vez ao mês.
Além de alugar a van de familiares, o parlamentar, na condição de presidente do PSDB, negociou com os próprios parentes o aluguel de um trio elétrico e de um utilitário. O carro de som chegou a pertencer ao deputado, mas ele acabou colocando o veículo sob o guarda-chuva da empresa do cunhado. E o utilitário, o Mercedes-Benz Sprinter de placa JHP 8145-DF, está em nome de Renato Fernandes Ferreira, um dos filhos do parlamentar.
Toyota Hilux
Entre os itens contratados pelo presidente do partido, também há uma Toyota Hilux (JIA 3181). O aluguel, acertado logo após o deputado ser alçado à presidência da agremiação, data de outubro de 2015. E o pagamento de R$ 7.250,00 foi feito, na época, à vista. O endereço da nota fiscal é o da residência de Izalci: na QL 12 do Lago Sul.
A contabilidade do PSDB local fica a cargo da Consulthabil Contadores, empresa fundada por Izalci e hoje administrada por irmãos e filhos do parlamentar. Entre as notas que comprovam despesas realizadas pelo partido ao longo de 2016, há recibos no valor de R$ 1.880 referentes a serviços contábeis contratados pela sigla e prestados pela firma pertencente aos familiares do deputado. A Consulthabil funciona, aliás, no mesmo bloco e edifício da sede do PSDB no DF: “D” do Eldorado, no Conic. A legenda recebe, em média, entre R$ 70 mil e R$ 80 mil do fundo partidário.
Gastos das mais diversas naturezas se cruzam com negócios mantidos por parentes de Izalci. O PSDB-DF contratou, em abril do ano passado, a Tendas Park Way Locações para o fornecimento de duas coberturas no valor de R$ 800. A firma também pertence a pessoas próximas de Izalci. No perfil que a empresa mantém no Facebook, o contato para o aluguel dos itens é o de Newton Fernandes, um dos irmãos da mulher do deputado. Na página, há várias fotos dos familiares de Izalci em meio a postagens de divulgação da marca.
No dia 17 de abril de 2016, data em que a Câmara dos Deputados aprovou o pedido de abertura do processo de impeachment contra a então presidente Dilma Rousseff, Izalci Lucas ofereceu uma paella para receber integrantes de seu partido, que, na ocasião, comemoravam a vitória política. O buffet foi servido pela Pacheco Paella e custou R$ 4.845. Uma despesa colocada na conta do PSDB, como mostram os comprovantes fiscais.
Críticas tucanas
Os gastos promovidos pelo deputado federal despertaram a antipatia dos próprios pares. Deputado distrital pelo PSDB, Robério Negreiros disparou contra as práticas do presidente de seu partido. “Considero esses atos ilegais, imorais e ímprobos. Como é que você, sendo o presidente de uma instituição, vai contratar familiares e empresas da qual faz parte do quadro societário para prestar serviços?”, questionou.
O ex-secretário-geral da legenda Virgílio Neto defendeu a apuração das denúncias: “Tem que ser verificado se há algum crime e, caso haja ilegalidades, onde é que estão”.
Uma das representantes mais tradicionais do PSDB no DF, a ex-governadora Maria de Lourdes Abadia também se posicionou contra o estilo de Izalci de tocar a legenda. “A partir do que se tem falado nas conversas internas do partido, pelo menos sete pessoas que trabalham ou no PSDB ou no gabinete de Izalci seriam parentes dele. Essa é mais uma evidência da forma autoritária como o deputado conduz a legenda no DF”, disse.
Abadia atribuiu a divisão de posicionamento de integrantes da sigla a um desejo “incontrolável” do deputado pela tomada de decisões,
Ele quer disputar o governo, mas não entende que primeiro tem de ser o candidato do partido, não basta ser o candidato de si próprio.
Maria de Lourdes Abadia
Outro lado
Izalci Lucas admitiu que o PSDB local se vale dos serviços prestados por empresas de seus familiares em diversas frentes. O deputado, no entanto, afirmou que não cometeu nenhuma ilegalidade e que as contratações sempre beneficiaram o partido porque os preços, segundo afirmou, são mais baixos do que os praticados no mercado.
O parlamentar citou, por exemplo, o aluguel da van que foi colocada à disposição da legenda durante o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, no ano passado. “Pode pesquisar no mercado e vocês vão ver que o valor cobrado foi muito mais em conta do que o pago pelo partido”. No caso, R$ 600 por dia em 2016. O Metrópoles apurou que há empresas oferecendo o mesmo serviço, em veículo compatível, com aluguel a R$ 350/dia.
O deputado ainda defendeu a atuação de sua cunhada na presidência do partido. “Ela é uma máquina, trabalha muito, cuida de tudo o que é importante. Numa posição dessas, precisamos de uma pessoa de confiança. Afinal de contas, o partido terminou a gestão passada com um rombo absurdo aberto pelo então candidato ao governo”.
Ele afirmou que o salário de sua cunhada Nair é o mesmo pago antes de ela integrar a equipe. E explicou que os cheques emitidos também para ela no valor de R$ 2 mil são referentes a suprimentos de fundos, “um expediente muito comum em qualquer empresa que lida com pequenas despesas todos os dias”.
Quanto ao trio elétrico, o deputado confirmou que era o dono do veículo, mas que há cerca de dois anos passou o automóvel para a empresa do cunhado, o mesmo que manteve em 2016 contratos com o PSDB local. Sobre a contratação da firma de contabilidade tocada por filhos e irmãos, ele expôs que o serviço vem sendo prestado ao partido, inclusive em âmbito nacional, desde a década de 1990. Atividades que, segundo salientou, estão devidamente comprovadas por meio de notas e cujo balanço foi objeto de órgãos internos de controle.
O parlamentar disse que está sendo alvo de correligionários alinhados com o governo de Rodrigo Rollemberg (PSB) e ávidos por exercer o poder dentro do partido. “Não vou ceder a essas pressões, não aceito aliança. O que meus críticos querem é mamata, boquinha no governo, mesmo pertencendo a um partido que se colocou na oposição”, afirmou Izalci. Em sua opinião, se há dívidas, são do partido com ele: “Eu sirvo muito mais ao PSDB, do que o PSDB a mim”.