Iphan reprova proposta de nova ponte, idêntica à Costa e Silva
Para justificar novo elevado, Secretaria de Obras alega que há muitos condomínios em vias de regularização, com fluxo enorme de trânsito
atualizado
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O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan-DF) emitiu parecer no qual desaprova proposta da Secretaria de Obras e Infraestrutura de construir um elevado idêntico à Ponte Costa e Silva, que seria erguido sobre o Lago Paranoá ao lado do original.
A intenção da pasta era utilizar o projeto arquitetônico e urbanístico da Ponte Costa e Silva a fim de “construir harmoniosamente a obra de arte especial idêntica à concebida inicialmente”.
A justificativa usada pela pasta é que há “grande quantidade de condomínios em vias de regularização, com fluxo enorme de trânsito usando as pontes que acessam a região do Jardim Botânico, Jardins Mangueiral e Altiplano Leste, entre outros”.
O Parecer Técnico nº 16/2020, de 28 de janeiro, diz que a posição do instituto é “contrária, não devendo prosperar nem a ideia de reprodução do mesmo projeto nem a de construir outra ponte ao lado daquela, obstruindo-lhe a visibilidade e com ela interferindo negativamente”.
“Caso o GDF conclua pela necessidade de um novo acesso ao Lago Sul, em respeito à presença da ponte monumental, que é referência na imagem mental da cidade, deve ser escolhida outra localização”, recomendou.
O documento foi encaminhado à Secretaria de Obras e Infraestrutura em 3 de fevereiro.
Argumentos
Segundo o Iphan-DF, do ponto de vista urbanístico, o argumento é semelhante ao que alicerçou o lançamento da Ponte JK.
Esta nova expansão do sistema viário demonstra, segundo o órgão, “mais uma vez”, que a multiplicação de estruturas destinadas ao trânsito preferencial de veículos particulares “tem nos conduzido a soluções insustentáveis, exigindo sempre novas ampliações – como se estivéssemos enxugando gelo, como popularmente se diz”.
Na avaliação do Iphan-DF, a proposta conflita com outras ocupações existentes ou projetadas na vizinhança da Ponte Costa e Silva. O órgão cita que há interferências importantes em ambos os lados da ponte.
Na margem leste, estão o Pontão do Lago Sul e a Área 1 do Masterplan da Orla do Lago Paranoá, que está em desenvolvimento. Na margem oeste, há clubes e a Prainha/Praça dos Orixás.
“Reputamos como inadequado impactar esses lugares com uma obra de tamanha envergadura. Igualmente lamentável é o fato de que a obra, se edificada neste local, inviabilizará a implantação do espaço de lazer denominado Área 1”, disse o Iphan-DF.
“Como a vocação histórica do lago, e do resto de toda a área bucólica que circunda o conjunto tombado, é para a contemplação e o lazer, sob esse ponto de vista, a construção de uma nova ponte é contraindicada nesse local”, opinou.
O Iphan-DF destacou, ainda, que a proposta analisada não é uma demanda criada por situações não controladas, “como guerras”, nem por projetos de grande porte, “como usinas”, que “por vezes levam a destruições, demolições ou desaparecimentos forçados, obrigando-nos ao debate sobre a relocação ou reconstrução do objeto”.
“No caso presente, a ponte monumental de Oscar Niemeyer é o próprio monumento original, autêntico, que ali permanecerá, porém enfraquecido em seu valor cultural de referência, caso a proposta prospere”, assinalou.
O Iphan-DF também disse que sentiu “falta da menção à necessidade desta obra no Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT) ou no Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCub)”.
O que diz a Secretaria de Obras e Infraestrutura
À coluna, a Secretaria de Obras e Infraestrutura informou que a segunda ponte, paralela e idêntica à Costa e Silva, está em fase de estudo e é um dos projetos de melhoria viária da região. O elevado seria independente, com estrutura própria, calçada e ciclovia.
“O que a secretaria fez foi uma consulta ao Iphan sobre a possibilidade de construção desta nova ponte, nada além disso. Ademais, nós ainda estamos em constante contato com o instituto a fim de encontrar a melhor solução viária possível para a região”, disse.
A pasta afirmou que a consulta ao Iphan-DF foi a primeira etapa de todo o processo, “porque as obras em região tombada precisam de total concordância do órgão”. “Não há definição de prazo nem de como será. Trata-se, apenas, de uma ideia que foi apresentada ao instituto”, pontuou.