“Ideia era tirar Ibaneis e eu”, diz Celina sobre intervenção no 8/1
Celina Leão lembra o que viu e fez no dia 8 de janeiro. Em entrevista à coluna, conta que governo federal queria intervir em todo o GDF
atualizado
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Eram 3 horas da manhã do dia 9 de janeiro de 2023 quando a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP), foi acordada com a notícia de que assumiria o Governo do DF porque o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou o imediato afastamento de Ibaneis Rocha (MDB) do cargo de governador.
Fabrício Faleiro acordou a esposa, Celina, e disse que a deputada federal Margarete Coelho (PP-PI) precisava falar com ela urgentemente. A notícia que Margarete deu para a amiga foi essa: “Celina, acorda, pelo amor de Deus, afastaram o Ibaneis. Você é a governadora e precisa se levantar agora”.
O relato é da própria Celina, que contou, em entrevista à coluna Grande Angular, como foi o fatídico 8 de janeiro de 2023 e os meses seguintes no qual atuou como governadora interina. No total, ela ficou 66 dias à frente do Palácio do Buriti. Assista:
Celina disse que estava em casa com amigos quando recebeu um telefone, no início da tarde de 8/1. Era o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). “Me ligou e pediu ajuda. Rapidamente, fiz contato com o governador Ibaneis e fui até a casa dele. Da casa do governador Ibaneis eu me desloquei ao Ministério da Justiça”, lembrou.
A vice-governadora – que, atualmente, está no exercício do cargo de governadora diante das férias de Ibaneis Rocha – disse que, dentro do Ministério da Justiça, recebeu a informação de que o governo federal queria decretar intervenção total no Governo do DF.
“Com certeza, foi o dia mais difícil da minha vida. Quando eu cheguei no Ministério da Justiça, a ideia do governo federal era de uma intervenção geral, retirar eu e o Ibaneis do poder. A informação que me foi passada era essa. Mas o governador Ibaneis continuou trabalhando e eu também para ajudar na retirada [dos golpistas que invadiram a sede dos Três Poderes]. Quando nós terminamos nossa missão, eles voltaram atrás e falaram: ‘Vamos fazer intervenção somente na segurança pública'”, contou Celina.
E assim foi feito. O secretário executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, virou interventor na segurança do Distrito Federal. Ele ocupou a função por 23 dias. Depois, o delegado da Polícia Federal Sandro Avelar assumiu o cargo de secretário de Segurança Pública do DF, onde está até hoje.
Segundo Celina, Ibaneis não deu ordens no período em que ela estava na chefia do GDF. “O Ibaneis não deu uma ordem nos 66 dias que eu fiquei à frente do Buriti. Não mandou mensageiros nem nada. Trabalhei com nossa equipe, fiz mudanças pontuais”, afirmou.
A vice-governadora assumiu que todo político do DF tem pretensão de se tornar governador, mas ponderou que, naquelas circunstâncias, o exercício de chefiar o Poder Executivo local virou “um desafio muito doloroso”.
“Foi um dia muito difícil. Um político que cresce nessa cidade quer se tornar governador, mas não da forma como eu me tornei. Aquilo não é presente pra ninguém, aquilo é um desafio muito doloroso que, graças a Deus, a gente cumpriu com muita tranquilidade, serenidade, lealdade. E passou, graças a Deus.”
Aniversário
Durante a entrevista, Celina disse que irá ao evento em defesa da democracia no Congresso Nacional nesta segunda-feira, aniversário de um ano do 8 de janeiro.
A governadora em exercício afirmou que o GDF vai participar institucionalmente de duas formas. “A nossa ausência poderia soar para as pessoas como: ‘A governadora não está nem aí ou eles concordaram com o quebra-quebra'”.
Celina enfatizou que não há manifestação pública prevista para a Esplanada dos Ministérios, mas os Três Poderes estarão isolados. O trânsito será bloqueado a partir da avenida em frente ao Congresso Nacional. Apenas os carros dos convidados serão autorizados a passar pelo local, segundo a governadora em exercício.
“Os pontos de revista irão acontecer dentro da entrada do Senado. As pessoas que irão acessar o Senado passarão por revista, como já passam normalmente, mas será mais reforçada a revista”, explicou.