Exclusivo. E-mail revela quem são os beneficiados com aumento de hotéis no plano: “Muito dinheiro gasto”
Uma das mudanças mais drásticas permitida pelo PPCub é o aumento de 3 para 12 andares em 16 hotéis localizados a poucos metros da Esplanada
atualizado
Compartilhar notícia
Uma das mudanças mais drásticas na área tombada permitidas pelo Plano de “Preservação” Urbanístico de Brasília (PPCub) é o aumento de três para 12 andares de prédios no centro da capital federal, a poucos metros da Esplanada dos Ministérios. A medida, que não traz vantagem aparente à população do DF, beneficia pouquíssimas famílias de empreiteiros de Brasília. Dos 16 lotes que serão agraciados com a mudança da lei, oito pertencem ao mesmo clã: os Bittar.
As informações constam em documentação registrada em cartório, à qual a reportagem do Metrópoles teve acesso.
Os hotéis Planalto Bittar, Monumental Bittar Hotel, Plaza Bittar Hotel e Bittar Inn Hotel pertencem ao patriarca Salim Ibrahim Bittar e aos herdeiros dele. Além desses, o Brasília Imperial e o Imperial Hotel são de propriedade de empresários ligados à família Bittar. Também são interessados na alteração da lei os empresários Mitri Moufarrege (hotel Casablanca); Nabil e Iblen Chater (donos do Byblos); Roberto e Emília Ortega Pedrosa (El Pilar); e Nijed Zakhour (Econotel).
O Metrópoles teve acesso a uma carta de empresários que representam os interesses dos proprietários dos hotéis de três andares no centro da cidade. O documento enfatiza que a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) atendeu a um pedido de 10 anos dos empresários. Eles pedem audiência ao secretário Marcelo Vaz para “encontrar uma forma de derrubar esta emenda”.
O texto é tão explícito sobre a quem interessa a mudança que seus autores admitem que vão perder muito dinheiro com a derrota: “Se a emenda for aprovada, teremos um retrocesso imenso de 10 anos de debates, estudos, discussões, convencimentos e muito dinheiro gasto”. O e-mail é assinado por Renato Lima de Oliveira, que se identifica como porta-voz dos empresários. Veja na íntegra:
A capital federal do Brasil ganhou o título de Patrimônio da Humanidade em 1987, por características únicas, como as grandes áreas verdes e prédios com limitação de altura. O principal diferencial dos setores hoteleiros Norte e Sul, cortados pelo Eixo Monumental, é a diversidade no tamanho das edificações, algumas maiores e outras menores, o que possibilita um horizonte livre e uma paisagem que virou a cara de Brasília.
O PPCub prevê justamente acabar com os hotéis mais baixos, para permitir mais andares, hóspedes e espaços de eventos nos empreendimentos. A alteração não melhora a qualidade de vida do brasiliense – pelo contrário, já que aumenta o adensamento em uma região que, em função da pouca oferta de estacionamento, traz transtornos aos motoristas.
A permissão de mais 16 espigões no miolo do Plano Piloto virou polêmica instalada na cidade, já que nem os deputados da base do governo (responsável pela autoria do projeto) são consensuais sobre o tema. Diferentes especialistas ouvidos pelo Metrópoles avaliam que a medida atende a interesses privados. A bancada de oposição ao governo na Câmara tem entendimento parecido e decidiu se posicionar contra a medida.
Na semana passada, o distrital Thiago Manzoni (PL), da base do governo, chegou a apresentar uma emenda desautorizando as mudanças no gabarito dos hotéis no centro da cidade. Mas, na manhã desta terça-feira (18/6), Manzoni acabou retirando o texto.
“Na medida em que esse era um dos pontos de grande divergência entre os deputados e que há no texto da proposição garantia de que a implantação dos novos parâmetros se dará somente após os estudos e a deliberação nos órgãos de planejamento e de preservação, concluímos que o mais adequado para o momento atual seria retirar a emenda e possibilitar que a votação no Plenário ocorra da maneira menos conturbada possível”, disse Manzoni.
O revés de Manzoni provocou estranhamento entre os colegas, que agora querem que seja reaberto prazo para a apresentação de emendas. “O governo já havia sinalizado que toparia esta emenda; agora, o deputado a retira e quebra o acordo”, alertou Fábio Felix (PSol).