Dono do Alub é alvo da PF em meio à grave crise vivida por escola
O empresário Arthur Machado foi um dos seis alvos da Operação Grand Bazaar, que investiga fraudes em fundos de pensão e pagamento de propina
atualizado
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Proprietário da Rede Alub, o empresário Arthur Machado foi alvo, nessa segunda-feira (21/10/2019), da Operação Grand Bazaar. A Polícia Federal (PF) cumpriu mandados de busca e apreensão no âmbito da investigação que apura fraudes em fundos de pensão.
Arthur é suspeito de articular pagamentos de propina ao deputado federal Sergio Souza (MDB-PR), também na mira dos policiais e do Ministério Público Federal (MPF). Segundo a investigação, o esquema funcionava para proteger os ex-executivos Wagner Pinheiro e Antônio Carlos na CPI dos Fundos de Pensão.
Antes da Grand Bazaar, Arthur fora alvo de outras quatro operações ligadas à Lava Jato. Na ação dessa segunda-feira (21/10/2019), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello negou os pedidos de prisão dos acusados, mas determinou o bloqueio de R$ 3,25 milhões dos investigados. O dinheiro refere-se aos valores que teriam sido usados em pagamento de propina, segundo os investigadores.
Alub sem aulas
A operação da PF ocorre em meio à mais grave crise enfrentada pela Rede Alub. O grupo tem atrasado o pagamento de salário de seus quase 400 funcionários, entre professores e diretores. A dívida com os contracheques já soma R$ 3 milhões. Apreensivos com as indefinições, pais de alunos protestam alegando falta de informação e de documentos essenciais para a transferência de seus filhos.
Nas últimas semanas, representantes de Arthur têm trabalhado na fusão da Rede Alub a outros grupos interessados na escola. Uma parte dos alunos (aqueles que estudam nas unidades do Gama e da Asa Norte) serão recebidos pelo Colégio JK. O Sagarana vai retomar a sede de Vicente Pires. Ceilândia, Taguatinga e Guará serão operadas pelos proprietários dos imóveis onde funcionam as instituições de ensino.
Apenas o pré-vestibular, que equivale a 20% da operação da Rede Alub, ficará sob a gestão de Arthur Machado. Diante do cenário de adversidade, cresce a hipótese, inclusive, de uma saída via recuperação judicial.
Com os bens bloqueados desde a Operação Rizoma, o empresário se queixa de não ter condições para honrar com os compromissos financeiros da Rede Alub e alega perda do valor de mercado de seu negócio no DF. No auge, a escola chegou a ter 12 mil alunos e ser avaliada em R$ 319 milhões por consultoria externa. Com as denúncias de corrupção que tragaram o empresário carioca, a rede entrou em crise e viu seu faturamento despencar. Atualmente, estão matriculados nas escolas Alub perto de 3 mil estudantes.
João Bernardo Kappen, que defende o empresário Arthur Machado, disse que move na Justiça ação pedindo o desbloqueio dos bens para pagamento dos funcionários da rede. O advogado afirmou ainda que seu cliente é credor de R$ 30 milhões devidos por pais de alunos inadimplentes.
Trajetória
Nascido no Rio de Janeiro, Arthur Mario Pinheiro Machado ganhou visibilidade no mercado financeiro da capital a partir de articulações políticas com integrantes do MDB, PT e PP. Durante esse período, desenvolveu projetos sociais em regiões carentes, deu aulas e ensaiou uma candidatura ao Congresso Nacional.
O empresário é formado em engenharia mecânica na PUC-Rio e teve o primeiro contato com finanças em um estágio no banco de investimentos Opportunity. Durante a carreira, operou na Postalis, Petros, Serpros, Infraprev e em mais de 30 regimes próprios de Previdência Social (RPPS), que assistem servidores públicos.
Machado é um dos criadores da ATG (American Trading Group), uma bolsa de valores no mercado brasileiro de capitais associada à Bolsa de Valores de Nova York (Nyse). Ele foi desligado após as ações conduzidas pelo Ministério Público Federal.
Investigado em apurações que são um desdobramento da Operação Lava Jato, Arthur Machado chegou a ficar 60 dias preso, em 2018. Ele é apontado como parte de um esquema criminoso de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e corrupção por meio de fraudes que teriam gerado prejuízos aos fundos de pensão.
Os investigadores estimam que o esquema teria movimentado R$ 20 milhões em propinas.