Desembargador que declarou ilegal greve da polícia fez defesa rasgada de paralisação no Judiciário
“Sem pressão neste país, nós não conseguiremos absolutamente nada”. Essa foi a frase de motivação de Sebastião Coelho aos servidores dos tribunais. O posicionamento defendido na gravação indignou os policias civis
atualizado
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O desembargador Sebastião Coelho da Silva foi quem declarou ilegal, na madrugada desta quinta-feira (4/8), a greve da Polícia Civil por meio de liminar. Ele atendeu a um pedido do Núcleo de Controle da Atividade Policial (NCAP) do Ministério Público do DF e Territórios. A decisão proíbe manifestações nas proximidades do Mané Garrincha e determina que os servidores voltem imediatamente às suas atividades.
O espantoso é que, em junho de 2015, o mesmo desembargador protagonizou um vídeo em que faz uma defesa rasgada do instituto da greve, do tipo radicalizada. Na época, os servidores da Justiça estavam parados, em busca de melhorias para a categoria. Na gravação, Coelho faz um discurso motivador. “Sem pressão neste país, nós não conseguiremos absolutamente nada”, reflete. E segue: “No primeiro dia da greve de vocês, eu encaminhei e-mail a todos os magistrados pedindo a compreensão sobre o movimento e posso afirmar que, embora alguns se incomodem com os apitos, eu acho muito legal, a grande maioria entende que não deve trabalhar com o servidor insatisfeito”.Do alto da autoridade do cargo de desembargador, Sebastião Coelho ainda orienta que os funcionários de seu gabinete estavam autorizados a cruzar os braços. “Sou a favor da greve, não sou hipócrita, sou inclusive a favor da greve de juiz, especialmente se tiver algo que tire prerrogativas da magistratura eu sou o primeiro a encabeçar uma greve. Greve pra valer é fechar as portas.”
Os policiais, obviamente, acharam esse vídeo que registrava o posicionamento do desembargador e estão indignados com o tratamento diferenciado com a categoria.
Permissão constitucional
Ao Metrópoles, o desembargador, que é presidente da Associação dos Magistrados do Distrito Federal, declarou que a paralisação dos servidores do Judiciário é permitida pela Constituição. “A greve não foi, em nenhum momento declarada, ilegal. Já nos órgãos de segurança, sim”, argumentou. Sebastião Coelho justificou a posição sobre a suspensão do trabalho e a manifestação organizada pelos policiais civis. “O grave disso é que são policiais armados para ir a evento internacional com risco grave de confronto e morte de pessoas inocentes ou até eles mesmos.”