Coronel Márcio de Vasconcelos é o novo comandante-geral da PMDF
Márcio Cavalcante de Vasconcelos assume a chefia da Polícia Militar do Distrito Federal após a exoneração do coronel Julian Rocha Pontes
atualizado
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O coronel Márcio Cavalcante de Vasconcelos (foto em destaque) foi nomeado comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), na tarde desta sexta-feira (2/4). A mudança na chefia da PMDF consta no Diário Oficial do DF (DODF).
Vasconcelos assume a função após a exoneração do coronel Julian Rocha Pontes, que, junto a outros oficiais de alta patente, recebeu a vacina contra a Covid-19 antes de policiais da linha de frente. O Metrópoles revelou o caso em reportagem publicada na manhã desta sexta-feira.
A saída do coronel Pontes do cargo de comandante-geral já era esperada, em função da troca no comando da Secretaria de Segurança Pública do DF, mas acabou acelerada depois da revelação de que ele e outros comandantes haviam sido vacinados – o que gerou manifestações de repúdio na Câmara Legislativa (CLDF) e dentro da própria corporação.
No início desta semana, Anderson Torres deixou a Secretaria de Segurança Pública para assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Depois da exoneração de Anderson Torres, Márcio Cavalcante de Vasconcelos era o mais cotado para assumir a PMDF.
Antes de ser alçado ao cargo de comandante-geral da Polícia Militar, o coronel Vasconcelos atuava como subsecretário de Operações Integradas, da Secretaria de Segurança Pública.
Confira a troca na chefia da PMDF:
Entenda
Na tarde de quarta-feira (31/3), o comandante-geral da PMDF, coronel Julian Rocha Pontes (foto em destaque), de 47 anos, tomou uma dose da vacina na UBS 1 da Asa Sul. Ao ser questionado pelo Metrópoles, o Centro de Comunicação Social da PM confirmou a informação e acrescentou que “outros policiais militares” foram imunizados, de acordo com a circular vigente da Saúde do DF, que passou a valer na segunda-feira (29/3).
A comunicação da PM, no entanto, não especificou quais foram os outros policiais vacinados. Mas a reportagem do Metrópoles apurou que, além de Pontes, os seguintes integrantes do alto-comando receberam o imunizante:
- o subcomandante-geral, coronel Cláudio Fernando Condi, 47 anos;
- o subcomandante operacional do 2º Comando de Policiamento Regional, tenente-coronel Eduardo Condi, 48 anos.
Circular
A norma em vigor desde o dia 29 de março alterou as regras até então adotadas para a distribuição de “xepas” da vacina. Antes dessa data, valia o que estava previsto na Circular nº 9, também editada pela Secretaria de Saúde do DF. O documento estabelecia que as sobras de imunizantes deveriam ser aplicadas de acordo com as seguintes prioridades: trabalhadores de saúde, idosos, pessoas com comorbidades, pessoas com deficiência, pessoas em situação de rua, funcionários do sistema de privação de liberdade, trabalhadores da educação e, por fim, integrantes das forças de Segurança. Ou seja, sete grupos tinham preferência na vacinação, anteriormente.
Com a mudança nas regras, essa dinâmica foi totalmente alterada. As sobras das vacinas foram integralmente destinadas às forças de segurança. A Circular nº 67 apresenta, como uma das justificativas para a decisão, a transparência no uso das doses.
“Dar maior transparência ao uso dessas doses, mitigar as pressões sofridas pelas equipes vacinadoras, reduzir as aglomerações que se formam na espera dessas doses, no momento final das atividades vacinais, atender a recomendação do Ministério da Saúde de contemplar grupo prioritário e não desperdiçar doses”, diz o documento.
E a circular segue apontando quais são as novas determinações: “O uso das doses remanescentes de vacina contra Covid-19 nos profissionais das forças de Segurança Pública do Distrito Federal, que exercem atividades de rua, que prestam serviços essenciais de excelência neste momento de enfrentamento à Covid-19, com apoio nas fiscalizações diuturnamente no combate às aglomerações, nas distribuições e escoltas das vacinas, na segurança e manutenção da ordem nos postos de vacinas, na organização dos trânsitos dos drives, nos atendimentos pré-hospitalares, dentre outras ações, para aqueles que estejam em serviço, prestando apoio na segurança local nos minutos finais que antecedam o término das atividades de todos os postos de vacinas contra Covid-19, seguindo sempre a ordem de prioridade por idade desses profissionais”, reforça o comunicado.
Com a utilização de termos como “que exercem as atividades de rua”, ” com apoio nas fiscalizações diuturnamente no combate às aglomerações”, “distribuições e escoltas das vacinas”, “segurança e manutenção da ordem nos postos de vacinas”, “organização dos trânsitos dos drives”, “para aqueles que estejam em serviço”, “prestando apoio na segurança local”, a própria circular da Saúde estabelece que a prioridade é para os policiais da linha de frente.
Não há, no texto, nenhum trecho indicando que oficiais que exercem cargos administrativos teriam preferência no recebimento dessas doses.
Repercussão
Deputados distritais e a associação Caserna, que representa PMs, repudiaram a vacinação antecipada dos policiais militares do alto comando da PMDF.
Líder do governo na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) e policial militar da reserva, o deputado distrital Hermeto (MDB) emitiu uma nota em que se diz “revoltado” com o caso: “Quem está morrendo, em sua maioria, não são os oficiais do alto comando, são os praças que estão na ponta. Faltou bom senso”.
“Espero que tenhamos mais vacinas para os policiais militares e que nossos comandantes tenham mais senso em relação ao momento. O governo também repudia a falta de sensibilidade praticada por esses oficiais. Não é hora de desespero e individualismo. É hora de nos unirmos e salvarmos a tropa. A polícia está sendo chacinada pela Covid-19”, afirma Hermeto.
Bombeiro militar da reserva e presidente da Comissão de Segurança da CLDF, o deputado distrital Roosevelt Vilela (PSB) divulgou um vídeo em que fala que o comandante-geral furou a fila da vacinação e pede a exoneração dele.
“Isso não vai ficar em branco. Estaremos acionando o artigo 101, A, da Lei Orgânica do DF, que prevê, por meio da Câmara Legislativa, o afastamento imediato dos gestores que atentem contra a coisa pública. Estaremos, também, representando, no Ministério Público, uma queixa-crime, e exigiremos que a Corregedoria da Polícia Militar abra conselho de justificação contra esses oficiais”, declara Roosevelt Vilela.
Em transmissão ao vivo pelo Facebook, o deputado distrital Chico Vigilante (PT) defende que os 8 mil praças que estão na rua fazendo a segurança da população devem ter a prioridade. “Isso é uma vergonha. É a desmoralização completa do plano de vacinação do Distrito Federal”, ressalta.
O presidente da Caserna, cabo Carlos Victor Fernandes Vitório, disse que PMs foram “trapaceados” com a vacinação do comandante-geral e de oficiais, antes de profissionais da linha de frente.
“Enquanto, por mais de um ano, os policiais operacionais se sacrificaram – alguns com a própria vida (estes jamais serão esquecidos, são verdadeiros heróis), outros pisando em espinhos e dividindo o peso da cruz pandêmica –, aqueles que deveriam liderar, dar exemplo, elevar o glorioso nome da Polícia Militar, subvertem todos os valores hierárquicos e disciplinares em busca da ‘xepa'”, disse o presidente da Caserna. A associação é composta por, aproximadamente, 2 mil PMs, dos quais 200 são contribuintes da entidade.