Coronavírus: reitora da UnB diz que “não é hora de hesitar”
O calendário acadêmico da instituição está suspenso por tempo inderterminado. Márcia Abrahão destacou, no texto, importância da ciência
atualizado
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Em carta à comunidade acadêmica, a reitora da Universidade de Brasília (UnB), Márcia Abrahão (foto em destaque), afirmou que “não é hora de hesitar”. “Temos de nos proteger e ficar muito atentos aos que estão à nossa volta. Todo cuidado, agora, sempre será pouco. Não duvidem disso”, afirmou a gestora no texto.
A UnB decidiu, na última segunda-feira (23/03), suspender completamente e por tempo indeterminado o calendário acadêmico por causa do risco de contaminação pelo novo coronavírus.
Márcia, no entanto, ponderou que a universidade não está parada e destacou que a instituição está sendo reconhecida como “porta-voz da verdade científica”.
“Em tempos de avanço do negacionismo, este é um grande aprendizado para a sociedade brasileira: compreender a importância da universidade, o lugar imprescindível da ciência, do conhecimento, do saber”, disse.
Confira a íntegra da carta:
Queridas(os) docentes, técnicas(os) e estudantes,
Na impossibilidade do encontro presencial, escrevo. Espero que, na medida do possível, estejam todos bem. Com saúde e em paz.
Estamos chegando ao fim da terceira semana do que seria nosso primeiro semestre letivo de 2020. Mal começamos, tivemos de interrompê-lo. Primeiro, foram as atividades presenciais. Em seguida, a suspensão do calendário. Não foi bom, eu sei. Mas foi necessário.
Não é hora de hesitar. Temos de nos proteger e ficar muito atentos aos que estão à nossa volta. Todo cuidado, agora, sempre será pouco. Não duvidem disso.
Tenho alternado entre trabalho na UnB e em casa, sem parar um minuto sequer. Pelo contrário. Cheguei a ouvir reclamações de colegas da Reitoria: “Estamos trabalhando mais!”. De fato, a vida on-line não para. Meu celular treme o dia inteiro.
Isso porque a Administração Superior tem feito todos os esforços possíveis para dar conta desse novo cenário, para manter a comunidade informada, para dar prosseguimento aos processos internos e externos.
Nem sempre conseguimos fazer do jeito que gostaríamos ou do jeito que deixaria todo mundo satisfeito. Mas não tenham dúvida de que o desejo por fazer o melhor está no nosso horizonte.
Vamos tentando corrigir as deficiências na velocidade permitida pelas circunstâncias do momento. Dia após dia, descobrimos como lidar com essa pandemia e o que ela nos impõe no cotidiano. Ela nos assusta, é verdade. E também nos transforma de várias maneiras.
Por força das circunstâncias, por exemplo, passamos a fazer reuniões virtuais. O mais importante é que esses encontros pela internet servem para tomar as decisões que não deixam a Universidade paralisada. Estamos em quarentena, mas não parados.
Antes mesmo do início do semestre, estávamos atentos ao coronavírus. Para nos orientar, formamos um comitê com especialistas, que começou a se reunir em dezembro. E esse diálogo tem sido muito proveitoso.
As decisões procuraram dar eco aos anseios de diretores, conselheiros, gestores, docentes, técnicos, terceirizados e estudantes. Na tentativa de dar respostas corretas e constantes à comunidade universitária, resoluções são escritas e atos são publicados.
A imprensa nos procura todos os dias e a temos abastecido com informações claras e objetivas. Esse é parte do nosso papel. Melhor ainda saber que a mídia tem reconhecido a Universidade como porta-voz da verdade científica.
Em tempos de avanço do negacionismo, este é um grande aprendizado para a sociedade brasileira: compreender a importância da Universidade, o lugar imprescindível da ciência, do conhecimento, do saber.
Vivemos, sim, tempos incertos e algo obscuros. Não tenho segurança neste momento para afirmar o que nos espera, quanto tempo precisaremos ficar isolados. Nossos pesquisadores estão conectados em redes mundiais em busca dessas respostas. Seja como for, gostaria de compartilhar uma certeza, sendo geóloga e com a devida permissão do poeta: vamos tirar essa pedra do caminho.
É isso. Aproveitem para ler muito, estudar bastante. E cuidar da família, descansar, ver filme, arrumar a casa, entrar nas redes, fazer bate-papo virtual, quando possível, com a família ou com o grupo querido de amigos.
Não posso passear pelos corredores do Minhocão como costumo fazer, cumprimentando e abraçando as pessoas. Não devo descer ou subir a rampa da Reitoria e parar para conversar. Não posso admirar de perto nossos gramados e me aproximar dos estudantes conversando animadamente ou estudando. Não devo ir aos nossos campi no Gama, na Ceilândia e em Planaltina e conversar com a nossa comunidade. Mas gostaria de enviar, na prudência da distância, meu abraço caloroso aos que fazem da UnB um lugar lindo de se estar.
Sejamos fortes e fiquemos unidos, mesmo temporariamente separados. Vai passar.
Márcia Abrahão
Reitora da UnB