Com mais 3 meses, CPI quer aprofundar investigação sobre financiadores
A CPI dos Atos Antidemocráticos da CLDF quer esclarecer quem são os financiadores do 8/1 e individualizar as condutas de agentes públicos
atualizado
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A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), deve focar os próximos quase três meses de trabalho no aprofundamento da investigação sobre a participação agentes públicos na tentativa de golpe e na identificação de financiadores das ações contra as instituições democráticas.
O presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT), disse que a CPI vai avançar na apuração sobre as pessoas que deram dinheiro para manter o grupo golpista em Brasília. “Queremos deixar claro, também, quem da Polícia Militar do Distrito Federal e do Exército ajudou para que tudo, de fato, acontecesse”, afirmou.
O próximo a ser ouvido na CPI é o coronel da PMDF Paulo José Ferreira de Sousa Bezerra, que era o responsável pelo Departamento de Operações (DOP) no 8 de Janeiro. Em relatório obtido pelo Metrópoles, a Polícia Federal disse que a competência para elaborar o planejamento de contenção dos manifestantes era dele.
Bezerra assumiu a chefia interina do DOP na semana anterior aos atos antidemocráticos, quando o titular, coronel Jorge Eduardo Naime, saiu de licença. Tanto Bezerra quanto Naime foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e estão presos.
O presidente da CPI disse que precisa esclarecer se foi Bezerra que determinou a abertura da Esplanada dos Ministérios para os vândalos no dia 8 de janeiro.
Veja imagens da invasão à sede dos Três Poderes em 8/1:
“Ovo da serpente”
No cronograma da comissão, em seguida, está prevista a oitiva de Ana Priscila Azevedo, em 28 de setembro. Ela é apontada com organizadora do acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, e da invasão e depredação das sedes dos Três Poderes.
Ana Priscila aparece em vários vídeos e fotos incitando e comemorando os atos antidemocráticos. No dia 8 de janeiro, fez imagens prestando continência e sorrindo dentro do Congresso Nacional após a invasão.
O relator da CPI, deputado distrital Hermeto (MDB), disse que o acampamento em frente ao QG era “o ovo da serpente”. “Os responsáveis que poderiam ter retirado o acampamento, mas decidiram mantê-lo, têm que ser indiciados. O acampamento é o berço da depredação, do ataque do dia 8”, afirmou.
Segundo o relator, as oitivas realizadas pela CPI até o momento confirmam que a PMDF foi impedida pelo Exército de retirar os manifestantes da área.
“Houve resistência do Comando Militar do Planalto, que intimidou a PM com armamentos e tanques, como se quisesse medir forças. Isso tem que estar no relatório, além de individualizar as condutas”, enfatizou Hermeto, que é subtenente da reserva da PMDF.
O relator da CPI disse que também “ficou claro” que a PMDF errou, “principalmente o chefe do Departamento de Operações, que tinha o dever de planear e fazer o policiamento”. “O GSI [Gabinete de Segurança Institucional] também errou. No relatório vai constar isso”, afirmou.
O deputado distrital Fábio Felix (PSol), integrante da CPI, reforça que o acampamento em frente ao QG foi o “embrião das ações violentas de 12 e 24 de dezembro e de 8 de Janeiro”.
Agora, a CPI quer descobrir qual foi a motivação para a obstrução dos militares em relação à tentativa de desmobilização do acampamento golpista.
“Está claro que o Exército tentou obstruir a ação da PM na desmobilização do acampamento. Eles [militares] alegam que não tinham condições jurídicas de desocupar a área, mas, para além disso, atuaram deliberadamente para proteger manifestantes que pediam golpe de Estado”, reforçou Fábio Felix.
Próximos passos
Depois de ouvir as testemunhas e realizar as diligências previstas, o último passo da CPI é a aprovação do relatório, o que deve ser feito até o dia 8 de dezembro. O documento poderá conter indiciamento de responsáveis pelos atos antidemocráticos.
Em seguida, o relatório será entregue ao Ministério Público, que poderá apresentar as denúncias contra os alvos da CPI.
“A CPI não vai acabar em nada. Pessoas serão indiciadas, os indiciamentos serão encaminhados ao MP, a quem cabe fazer a denúncia que depois vai à Justiça para aplicar as penas necessárias aos criminosos”, prometeu o presidente da comissão.
Veja as próximas oitivas previstas da CPI dos Atos Antidemocráticos da CLDF:
- 21/09: Paulo José Ferreira Souza Bezerra. É coronel da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e estava à frente do Departamento de Operações (DOP) no dia 8 de janeiro. Foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e preso em 18 de agosto.
- 28/09: Ana Priscila Azevedo. É apontada como organizadora do acampamento em frente ao Quartal-General do Exército em Brasília e dos atos golpistas de 8/1. Foi presa em 11 de janeiro.
- 05/10: Cláudio Mendes dos Santos. É major da PMDF e foi líder do acampamento. Chegou a comemorar, em mensagem no WhatsApp, que ainda não tinha sido preso. Ele acabou detido pela Polícia Federal (PF) em 23 de março.
- 09/10: José Eduardo Natale de Paula Pereira. É major do Exército e atuava como coordenador de Segurança das Instalações Presidenciais de Serviço do GSI no dia 8/1. Vídeo mostra o major interagindo com invasores no Palácio do Planalto e distribuindo garrafas de água.
- 19/10: Saulo Moura da Cunha. Era diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
- 26/10: Reginaldo Leitão. É coronel da PMDF e atuava como chefe do Centro de Inteligência da PMDF.