Clínica com 137 doentes renais alega calote da Saúde do DF e fecha
A MSF Tratamento Renal informou o encerramento das atividades nessa segunda-feira (31/1). “Falta de condições financeiras”, diz dono
atualizado
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Uma clínica de hemodiálise, que atende a 137 pacientes da rede pública, informou o encerramento de todas as atividades nessa segunda-feira (31/1), no Distrito Federal. A MSF Tratamento Renal funcionava em Samambaia Norte, e o dono da empresa, Edson da Silva Santos, disse que o fechamento do local ocorreu “por falta de condições financeiras”.
O empresário alegou que não conseguiu superar as dificuldades financeiras que acometeram severamente a MSF desde 2021. Ele disse que a clínica está “na iminência de sofrer despejo judicial, assim como de ver suspenso o fornecimento de energia e de água, por inadimplência”.
Representantes da Associação dos Pacientes Renais Crônicos e Transplantados do DF (Apart-DF) se reuniram com o proprietário da clínica nessa segunda-feira. A associação questionou o porquê de a paralisação ocorrer “repentinamente”, e Santos disse que tentou resolver as pendências com a Secretaria de Saúde “até o último momento”.
À coluna o dono da MSF afirmou que a Secretaria de Saúde deve aproximadamente R$ 1,5 milhão para a clínica. “As mudanças de gestão na SES fizeram com que várias diferenças de 2020 e de 2021 ficassem perdidas em diversos processos SEI”, disse. A pasta nega a dívida de tal valor.
Questionado pela coluna sobre o destino dos 137 pacientes, o empresário disse que “é esse ponto que a associação de pacientes está discutindo agora com o secretário de Saúde, porque a MSF não tem mais recursos financeiros, mas há vagas em outras clínicas”.
O que diz a Secretaria de Saúde
A Secretaria de Saúde disse à coluna que a pasta não deve R$ 1,5 milhão à MSF, conforme alegou o dono da clínica. “Há um valor em aberto de R$ 52.928,41 referente à prestação de serviço sem a devida cobertura contratual. Geralmente são pacientes acometidos pela Covid. Cabe ressaltar que a mesma empresa recebeu um repasse da Portaria MS 3882/2020 para auxiliar nas despesas Covid de R$ 254.276,94. Os demais pagamentos estão regulares”, afirmou.
Segundo a pasta, mensalmente, a clínica recebe repasses de R$ 535 mil. Todo mês, há vagas na MSF para 256 pacientes da rede pública, mas são atendidos, em média, 188 doentes.
A Secretaria de Saúde disse que não foi comunicada sobre o encerramento das atividades da MSF. “A Secretaria de Saúde informa que não foi notificada oficialmente sobre o fechamento da clínica. Além disso, a pasta esclarece que possui contratos com oito empresas, de forma que, caso a informação de fechamento seja verídica, os pacientes serão remanejados, impedindo a desassistência”, afirmou.
Dívidas de gestões anteriores
A Associação Brasileira de Centros de Diálise e Transplante (ABCDT) informou que “lamenta profundamente o fechamento de mais uma clínica de diálise que atende pacientes da rede pública de saúde, como a MSF Tratamento Renal, no Distrito Federal. A clínica vinha atendendo 137 doentes renais crônicos por meio de convênio com o SUS, mas a falta de repasse por parte do Governo do Distrito Federal, do que restou de dívida de gestões anteriores, no valor de R$ 1,5 milhão, inviabilizou a continuidade do atendimento.”
Segundo a ACBDT, “perdem dezenas de profissionais de saúde extremamente qualificados, que é o que o tratamento de alta complexidade exige. Mas perdem sobretudo os pacientes renais, que não podem ficar sem o tratamento pelo menos três vezes na semana, para garantir a vida, já que não possuem mais a função renal.”
“Já tivemos 39 clínicas fechadas nos últimos 5 anos em todo o país. Estamos há anos lutando por um valor justo da Tabela SUS e pagamentos em dia por parte dos gestores públicos, além de pedidos de cofinanciamento em estados. Mas, infelizmente, nem sempre somos ouvidos, e a situação financeira de muitas clínicas hoje é crítica, beirando à falência. Os custos aumentaram muito com a Covid e a desvalorização do real. Esperamos que outras clínicas da região consigam oferecer o atendimento, ao menos recebendo em dia porque o paciente renal não pode ficar sem diálise”, destacou o médico nefrologista Marcos Alexandre Vieira, presidente da ABCDT.