Circus Maximus: delator diz ter embalado propina em papel de presente
Henrique Leite Domingues relatou a promotores do MPF que o dinheiro foi entregue por Ricardo Leal, ex-arrecadador de campanha de Rollemberg
atualizado
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Delator no âmbito da Operação Circus Maximus, o ex-diretor de Gestão de Terceiros da BRB Distribuidora de Títulos e Valores Imobiliários (BRB/DTVM) Henrique Leite Domingues contou aos promotores do Ministério Público Federal (MPF) ter recebido R$ 200 mil de propina embalados em papel de presente.
O dinheiro ilícito, segundo ele, foi entregue pelo arrecadador da campanha eleitoral do ex-governador Rodrigo Rollemberg (PSB), Ricardo Leal. De acordo com Henrique Leite Domingues, os maços foram embrulhados em um “saco brilhante, que parecia papel de presente” porque ele não havia levado uma mochila ou sacola para carregar as notas.
O encontro no escritório de Ricardo Leal, no Setor de Rádio e TV Sul, é narrado por Henrique Leite no Anexo 2 da delação premiada. A colaboração foi homologada nessa quarta-feira (12/06/2019) pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, titular da 10ª Vara Federal Criminal do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1).
Confira o trecho:
O valor seria referente ao pagamento de propina em troca de investimentos do Banco de Brasília (BRB) no LSH Lifestyle Hotel, antigo Hotel Trump, construído no Rio de Janeiro. O aporte no empreendimento carioca não se mostrava bom negócio, mas foi realizado mesmo assim – na base de vantagem indevida, como apontam as investigações e os delatores.
Para construir o hotel, a LSH foi ao mercado e lançou debêntures (títulos de dívida) junto a instituições financeiras para a captação de recursos. A operação totalizou R$ 80 milhões, em valores corrigidos. Desse total, 42% foram adquiridos pelo BRB, ou seja, R$ 33,6 milhões. O banco entrou de cabeça no negócio, administrando e custodiando o fundo por quase quatro anos, entre 2013 e 2017.
Henrique Leite Domingues afirma que o pagamento descrito teria ocorrido entre outubro e novembro de 2015. Alegou que essa teria sido a única vez em que recebeu dinheiro ilícito das mãos de Ricardo Leal.
O pai do ex-diretor do BRB, o empresário Henrique Domingues Neto, também assinou acordo de delação premiada. Ele terá que pagar R$ 9,2 milhões e o filho, R$ 8 milhões. Os dois também se submeteram à condenação de penas máximas de 16 e 14 anos de reclusão, respectivamente. Eles foram presos, mas Henrique Leite foi solto, enquanto o pai está em prisão domiciliar.
Quem são
Na colaboração, Henrique Neto contou que tinha relação comercial com o BRB desde 2000, mas só em 2013 estreitou os laços, a partir do ingresso do filho Henrique Leite como diretor da BRB DTVM. Segundo o empresário, a escolha do então governador do DF, Agnelo Queiroz (PT), para o cargo se deu “exclusivamente em virtude das aptidões técnicas” do filho.
Henrique Neto ajudou a captar clientes para o fundo da BRB DTVM sob justificativa de trabalhar com mercado de capitais há muitos anos, ter expertise no assunto e conhecer pessoas do ramo. Ele é sócio e gerente da corretora BI Asset Management (BIAM DTVM).
Por outro lado, Henrique Leite, de acordo com as investigações, exercia a função primordial na autorização dos investimentos requeridos pelas empresas, na qualidade de diretor de Gestão de Terceiros da BRB/DTVM, com decisiva atuação em prol do Fundo SIA Corporate e LSH Hotéis. Ao mesmo tempo, atendia a pedidos do pai e ordens de Ricardo Leal.
Histórico
A Operação Circus Maximus foi deflagrada em 29 de janeiro de 2019, mirando na cúpula do banco da gestão de Rodrigo Rollemberg. A ação apura irregularidades praticadas no BRB envolvendo fundos de investimentos, com a atuação de agentes públicos, empresários e agentes financeiros autônomos.
O ex-presidente do BRB Vasco Cunha Gonçalves, Ricardo Leal e mais 15 pessoas foram denunciadas à Justiça Federal. Os réus responderão por crimes contra o sistema financeiro, corrupção, lavagem de dinheiro, gestão temerária, entre outros.
As investigações apontam para prejuízos de, aproximadamente, R$ 348 milhões ao BRB, participantes de fundos de pensão e Regime Próprio de Previdência Social (RPPS), poupadores e ao sistema financeiro nacional. O suposto grupo criminoso teria movimentado R$ 40 milhões em propina.
O outro lado
O advogado de defesa de Ricardo Leal, Rafael Carneiro, afirmou que não irá se manifestar sobre o conteúdo das delações. Já o Banco de Brasília reiterou que apoia e coopera integralmente com todos os órgãos competentes que conduzem as investigações.
Advogada dos Henriques, Tathiana de Carvalho Costa detalhou ao Metrópoles os motivos que levaram os alvos da Circus Maximus a procurarem o escritório a fim de fazerem a colaboração. “O pai, que tem uma condição frágil de saúde, e o filho, por razões de foro íntimo, foram ao escritório decididos a formar os acordos.”
O LSH Lifestyle Hotel afirmou, em nota, que os fatos investigados se referem a um período anterior à atual administração. “Os atuais gestores têm colaborado com a PF e o MPF nas investigações. A direção está comprometida com uma gestão técnica, com o objetivo de, cada vez mais, melhorar a taxa de ocupação e o faturamento.”