Chefe do MPGO fala em “interesses inconfessáveis” e antecessor reage
O procurador-geral de Justiça de Goiás disse que repasses financeiros eram usados como “moeda de troca” para “interesses inconfessáveis”
atualizado
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Uma declaração pública do procurador-geral de Justiça de Goiás, Cyro Terra Peres (foto em destaque), deu o que falar entre colegas do Ministério Público e provocou até mesmo questionamento de um antecessor.
Durante evento de inauguração da sede das promotorias de Planaltina (GO), na terça-feira (18/6), Peres elogiou o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), por efetuar repasses financeiros ao órgão, conforme determina a Constituição Federal, sem necessidade de “pedir ou dialogar”.
Mas o que causou a polêmica foi a parte em que o chefe do MPGO contou de um episódio ocorrido dentro da instituição, no qual foi dito a Caiado que o duodécimo era usado como “moeda de troca” por ex-governadores para “submeter o procurador-geral ou o Ministério Público a interesses inconfessáveis”.
“Uma vez ele até se assustou, secretário, ao ir na nossa instituição, e um dos nossos servidores, o diretor-geral que já trabalha lá há quase duas décadas, dizer: ‘Governador, obrigado, porque o senhor repassa religiosamente o duodécimo do Ministério Público todo dia 20’. Ele disse assim: ‘Uai, mas não está escrito na Constituição que é para repassar, não?’. Ele falou: ‘Sim, mas nunca ninguém antes do senhor repassou. Nunca. Usaram como moeda de troca para ir lá com pires na mão para submeter o procurador-geral ou o Ministério Público a interesses inconfessáveis. E isso nunca mais vai acontecer'”, disse o procurador-geral de Justiça de Goiás. Veja:
O promotor Lauro Machado Nogueira, que foi o procurador-geral de Justiça de Goiás entre 2013 e 2017, enviou um ofício a Peres, na sexta-feira (21/6). No documento, o antecessor disse que o atual chefe do MPGO, “ao não nominar quem exigiu e quem se submeteu a ‘interesses inconfessáveis’ em troca de repasses orçamentários, de forma direta e genérica, joga suspeita” contra membros da instituição.
Nogueira pediu para que o procurador-geral de Justiça de Goiás tome as providências necessárias para identificar e apurar responsabilidades, a fim de “preservar a honra daqueles que lutaram para a consolidação e fortalecimento da instituição de acusações e insinuações que, caso não sejam especificadas, importam em leviandade”.
“Na data de ontem [20/6], circulou na classe do Ministério Público, especialmente por meio do aplicativo WhatsApp o vídeo anexo, no qual, aparentemente em solenidade oficial e pública, vossa excelência discursa e, no afã de registrar o respeito do governador do Estado ao Ministério Público no que tange ao repasse regular de duodécimo orçamentário, assevera assertivamente (1min e 25s) que tal situação nunca teria ocorrido anteriormente e que era usada como ‘moeda de troca’ para que os procuradores-gerais que o antecederam ‘de pires na mão, se submetessem e ao Ministério Público a interesses inconfessáveis'”, escreveu Nogueira.
“A par da gravidade da afirmação, que pode ter reflexos na seara criminal e na da improbidade administrativa, constata-se que vossa excelência, ao não nominar quem exigiu e quem se submeteu a ‘interesses inconfessáveis’ em troca de repasses orçamentários, de forma direta e genérica, joga suspeita sobre homens e mulheres que edificaram uma história de luta e superação que caracteriza a construção do Ministério Público do Estado de Goiás, a qual é louvada e repassada diariamente no hall do gabinete do procurador-geral de Justiça, inclusive”, enfatizou o promotor.
A coluna acionou o MPGO sobre o episódio, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria. O espaço permanece aberto para eventuais manifestações.