metropoles.com

Chamada de ilha da fantasia por ministro, Brasília tem 3 mil moradores em situação de rua

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse que a capital do país é uma “ilha da fantasia”. Realidade, porém, é outra para famílias pobres

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Hugo Barreto/Metrópoles
Pessoas em situação de rua (3)
1 de 1 Pessoas em situação de rua (3) - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

A capital do país, chamada de ilha da fantasia pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, não tem nada de mágico para 2.938 pessoas que estão em situação de rua. O levantamento dessa população é da Companhia de Planejamento (Codeplan).

Não é preciso se afastar dos Três Poderes – que abriga, inclusive, o gabinete do ministro – para ver essa realidade. A apenas dois quilômetros do Palácio do Planalto, famílias vivem debaixo de barracas improvisadas em frente ao gramado da Rodoviária do Plano Piloto, logo no início da Esplanada dos Ministérios.

Distância de barracas improvisadas de pessoas em situação de rua do Palácio do Planalto, onde fica o gabinete do ministro Rui Costa

Duas barracas feitas de lonas e paus abrigam a família de José Alexandre Silva, de 33 anos. Ele vive no local com a mulher, Elindinalva da Silva Lima, de 34, e os quatro filhos, de 19, 14, 6 e 1. Eles saíram de Pernambuco em busca de uma vida melhor, mas acabaram sem emprego e dependendo da assistência do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) e de doações para sobreviver.

“Já passamos em várias cidades e, em todas, havia tanto alimento que a gente doava o que ganhava. E, aqui, para ser o centro do país, não vi ajuda desse jeito. Se não fosse o Centro POP, a gente estava passando fome. Eu queria era meu canto. Mas, até agora, está difícil demais para ganhar a casa da gente”, contou Alexandre à coluna Grande Angular.

8 imagens
José Alexandre
Família espera passagem para mudar-se para o Rio de Janeiro, onde matriarca tem família
Pessoas em situação de rua na Esplanada dos Ministérios
Vulnerabilidade social a metros do Congresso
Família vive de doações
1 de 8

José Alexandre Silva, 33 anos, e família vivem debaixo de barracas improvisadas com lona e paus, a dois quilômetros do Palácio do Planalto

Hugo Barreto/Metrópoles
2 de 8

José Alexandre

Hugo Barreto/Metrópoles
3 de 8

Família espera passagem para mudar-se para o Rio de Janeiro, onde matriarca tem família

Hugo Barreto/Metrópoles
4 de 8

Pessoas em situação de rua na Esplanada dos Ministérios

Hugo Barreto/Metrópoles
5 de 8

Vulnerabilidade social a metros do Congresso

Hugo Barreto/Metrópoles
6 de 8

Família vive de doações

Hugo Barreto/Metrópoles
7 de 8

Situação é precária

Hugo Barreto/Metrópoles
8 de 8

Pessoas em situação de rua na Esplanada

Hugo Barreto/Metrópoles

A declaração do ministro da Casa Civil de que Brasília é “ilha da fantasia” e que “aquele negócio de botar a capital do país longe da vida das pessoas, na minha opinião, fez muito mal ao Brasil” repercutiu negativamente entre autoridades do DF, incluindo deputados do PT. O governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), chegou a chamá-lo de “idiota completo”.

“Era melhor [a capital] ter ficado no Rio de Janeiro, ou ter ido para São Paulo, para Minas ou Bahia, para que quem fosse entrar num prédio daquele, ou na Câmara dos Deputados ou Senado, passasse, antes de chegar ao seu local de trabalho, numa favela, embaixo de viaduto, com gente pedindo comida, vendo gente desempregada”, disse o ministro, em agenda na Bahia, na última sexta-feira (2/6).

Alexandre, um dos moradores em situação de rua, riu, sem acreditar, quando soube da declaração do ministro. Em vídeo gravado pela coluna, ele disse: “Esse ministro está com mentira. Se ele der uma voltinha dentro de Brasília, direitinho, aí ele vai ver, realmente, o que é pobreza. Isso aqui [Esplanada] não é Brasília. Brasília é tudo. Acho que o senhor nunca passou fome e não sabe o que é pobreza”. Veja:

Quem quiser ajudar a família de José Alexandre pode entrar em contato pelo telefone 71 9 8421-0129.

Maior favela do país

Um pouco mais adiante, a exatos 30 quilômetros, encontra-se a maior favela do país. Sol Nascente ultrapassou a Rocinha e assumiu o ranking, segundo a prévia do Censo 2022, divulgado pelo Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com informações preliminares da pesquisa, atualmente o Sol Nascente tem 32.081 domicílios, enquanto na Rocinha há 30.955.

Trinta quilômetros separam a Praça dos Três Poderes do Sol Nascente, maior favela do país

A marca de maior favela do país é a cara do abandono por parte do Estado e do crescimento populacional na região administrativa do DF, que acumula problemas sociais, como falta de escolas, segurança e postos de saúde.

16 imagens
População do Sol Nascente (DF), a maior favela do Brasil, enfrenta graves problemas de infraestrutura e muita lama nos dias de chuva
Sem asfalto e calçadas, dona Silvani Leite de Oliveira e sua filha Emily Roberta driblam poças de lama
Cidade sofre com o crime, especialmente o tráfico de drogas
População conta com poucas escolas região
Wilson deseja uma escola na vizinhança para garantir melhor educação e conforto para o filho William e a filha Wany
1 de 16

Claiton Rocha, 50 anos, tem problema para se locomover em cadeira de rodas em meio à lama no Sol Nascente

Reprodução
2 de 16

População do Sol Nascente (DF), a maior favela do Brasil, enfrenta graves problemas de infraestrutura e muita lama nos dias de chuva

Breno Esaki/Metrópoles
3 de 16

Sem asfalto e calçadas, dona Silvani Leite de Oliveira e sua filha Emily Roberta driblam poças de lama

Breno Esaki/Metrópoles
4 de 16

Cidade sofre com o crime, especialmente o tráfico de drogas

Breno Esaki/Metrópoles
5 de 16

População conta com poucas escolas região

Breno Esaki/Metrópoles
6 de 16

Wilson deseja uma escola na vizinhança para garantir melhor educação e conforto para o filho William e a filha Wany

Breno Esaki/Metrópoles
7 de 16

Desempregada, Josilene busca acesso aos programas sociais e uma vaga na creche para a filha Helena

Breno Esaki/Metrópoles
8 de 16

O chão tomado por sujeira, entulho e buracos impede o uso de carrinhos para bebês

Breno Esaki/Metrópoles
9 de 16

Arenilton cobra melhorias no transporte público e sonha em um futuro melhor para o filho Benjamim

Breno Esaki/Metrópoles
10 de 16

Nonato não vê melhorias na região, onde nascentes morreram após o crescimento desordenado

Breno Esaki/Metrópoles
11 de 16

Cavalos em péssimas condições de saúde são vistos na maior favela do Brasil

Breno Esaki/Metrópoles
12 de 16

População cobra mais equipamentos públicos na região, como postos de saúde e uma delegacia

Breno Esaki/Metrópoles
13 de 16

Cães também são vistos vagando pelas ruas do Sol Nascente

Breno Esaki/Metrópoles
14 de 16

Segundo a prévia do Censo 2022, o Sol Nascente superou a Rocinha (RJ) e se tornou a maior favela do Brasil

Breno Esaki/Metrópoles
15 de 16

Devido a falta de saneamento e a casas abandonadas, a população teme surtos de dengue

Breno Esaki/Metrópoles
16 de 16

A região tem apenas um conselho tutelar. Situação sobrecarrega conselheiros e coloca em risco o atendimento à vítimas de diversos problemas socias

Breno Esaki/Metrópoles

Os buracos nas ruas sem asfalto viram poças de lama após as chuvas. De cadeira de rodas, Claiton Rocha, 50, precisa desviar dos açudes que se formaram na rua onde mora. Para o cadeirante, a falta de infraestrutura fere a cidadania do povo.

“Não tem como atravessar a rua por causa das poças de água e lama. Isso aqui é terrível. Para mim, que sou cadeirante, é inviável ir a uma padaria para comprar um pão ou até mesmo um remédio, se precisar. Até para uma ambulância vir prestar socorro de madrugada é complicado”, afirmou Rocha, morador do Sol Nascente há 13 anos. O cenário é caótico e, frequentemente, adultos e crianças sofrem banhos de lama.

O frentista Wilson Leomar da Silva, 38, gostaria de ter uma escola na vizinhança para garantir o futuro da filha Wany Rebeca de Lima da Silva, 7, e do filho William Ryan de Lima da Silva, 12. “Educação é a principal demanda do Sol Nascente. Meus filhos estudam no Córrego da Coruja, um colégio rural”, contou. Os pequenos vão para o colégio no transporte escolar. A estrada precária, cheia de lama, preocupa William e as demais famílias da região.

Santa Luzia

A aproximadamente 15 quilômetros da Praça dos Três Poderes fica a Chácara Santa Luzia, na Cidade Estrutural (DF). A região é extremamente carente, não conta com serviço de saneamento básico, asfalto ou infraestrutura.

Na Chácara Santa Luzia, como a presença do Estado não é suficiente, 200 mães em situação de vulnerabilidade se uniram e formaram uma aliança para vencer a fome.

Tudo começou em 2020. Com a chegada da pandemia, a situação das famílias que moram no local se agravou. A comunidade recebeu apoio de duas mães, moradores de outras regiões do DF. Inspiradas pelo carinho, as mães de Santa Luzia decidiram montar um ponto de apoio. E assim nasceu a Associação Mães Guerreiras da Cidade Estrutural. A instituição comunitária é responsável pela criação e pelo sustento de 380 crianças e adolescentes.

Atendimento

A Secretaria de Desenvolvimento Social do DF (Sedes) disse que há 70 unidades de acolhimento institucional destinadas para população em situação de vulnerabilidade social, com 2.032 vagas. As unidades de acolhimento institucional ofertam cinco refeições por dia aos acolhidos.

“Dois Centros POP funcionam diariamente a partir das 7h e servem como ponto de apoio para quem vive ou sobrevive nas ruas. Nesse centro é possível acessar espaços para guarda de pertences, higiene pessoal, alimentação (café da manhã, almoço e lanche) e provisão de documentação, além de prestar informações, orientações sobre os direitos e viabilizar o acesso a outros serviços, benefícios socioassistenciais e programas”, informou a pasta.

A Sedes disse que, atualmente, 28 equipes do Serviço Especializado em Abordagem Social (Seas) atuam em todo o território do Distrito Federal. Segundo o órgão, a área próxima da Rodoviária do Plano Piloto, onde vive a família de Alexandre, é “quase que diariamente fruto da atuação dessas equipes”.

“É importante destacar, porém, que a Sedes não retira compulsoriamente pessoas em situação de rua; realiza, sim, atendimento nos espaços públicos da rua para inserção na Política de Assistência Social e demais políticas públicas, tais como: Saúde, Justiça, Educação, dentre outros”, informou.

Brasília é o DF?

O ministro da Casa Civil criticou Brasília. Mas você sabe o que é Brasília? É só a região central, que abriga as sedes dos Três Poderes e o Plano Piloto, ou todo o Distrito Federal?

O presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Leandro Grass, disse que, conceitual e administrativamente, Brasília é todo o território. “Brasília é uma só, com 35 territórios diferentes. É o que se considera do ponto de vista administrativo e de gestão urbana”, explicou.

“Pode-se usar o termo Área Metropolitana de Brasília, que envolve as regiões administrativas”, pontuou Grass.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?