Arthur Bernardes mentiu ao explicar casa popular comprada pela mulher
Apesar de ter garantido, por meio de nota, que estava desempregado quando a mulher foi contemplada com uma casa no Jardins Mangueiral por meio de um programa habitacional do GDF, o Metrópoles apurou que o secretário de Economia exercia cargo comissionado na Câmara Legislativa
atualizado
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Embora ocupe o cargo de secretário de Economia do Distrito Federal, Arthur Bernardes parece distraído quando o assunto são suas próprias finanças. O advogado, que ocupa espaço no primeiro escalão de Rodrigo Rollemberg (PSB), mentiu quanto ao fato de estar desempregado na ocasião em que a mulher dele foi contemplada com um imóvel de programa habitacional do GDF.
Em nota enviada ao Metrópoles referente às circunstâncias do benefício conquistado por sua esposa em 2012 junto à Companhia de Desenvolvimento Habitacional do DF (Codhab-DF), disse Bernardes: “O atual secretário era desempregado naquele ano, não ocupando nenhum cargo no GDF, que à época era administrado pelo governador Agnelo Queiroz (PT), candidato contrário ao apoiado pelo ex-governador Rogério Rosso em 2010”.
Isso não é verdade. Bernardes estava nomeado na Câmara Legislativa desde janeiro de 2012, de onde só saiu em novembro de 2013.
Em janeiro de 2012, o advogado foi nomeado para exercer um cargo na liderança do PSD, partido do qual ele é vice-presidente no DF. Só saiu da Casa em novembro de 2013. Durante o período, passou da liderança do partido para trabalhar no gabinete da deputada Liliane Roriz, que hoje está filiada ao PTB. Na época em que ficou lotado na liderança, Bernardes ganhava o valor referente ao cargo comissionado CL 6, o que lhe remunerava com salário de R$ 4.348,99.
Quando passou da liderança para o gabinete, seu salário caiu para R$ 3.522,67. A partir de maio de 2013, Bernardes teve um pequeno ajuste no contracheque (R$ 3.804,49).
Mas o homem dos números do governo Rollemberg não se lembrava de nada disso. Ao menos foi o que ele disse na noite de terça-feira (22/3). Bernardes assegura ter se esquecido de que trabalhava na Câmara na época em que a mulher foi contemplada no programa de habitações populares, cujo pagamento é facilitado pelo governo.
“Olha, para ser muito sincero eu não me lembrava mesmo que estava trabalhando nesse período”, afirmou Bernardes à reportagem. Ele também não soube dizer nem quanto tempo passou em cada um dos cargos. Tampouco precisou o valor do salário que recebia nessas funções da Câmara Legislativa. “Na verdade, eu quis dizer que não trabalhava no governo, e aí ficou parecendo que eu estava desempregado”, tentou esclarecer o secretário.
Jardins Mangueiral
Em reportagem publicada na terça-feira (22/3), o Metrópoles revelou que Bernardes, a mulher, Aline Bernardes de Miranda, e o filho do casal moram em uma casa no bairro Jardins Mangueiral. Cadastrada na Codhab, Aline foi sorteada com o direito de adquirir o imóvel quando os dois já eram casados.
Um dos pré-requisitos para conseguir esses imóveis é ter renda familiar de, no máximo, 12 salários-mínimos — o que, em valores atuais, corresponde a R$ 10.560. Em 2012, significaria R$ 7.464. Atualmente, o salário dos secretários do GDF é de R$ R$ 18.038,12.
Segundo afirmou Arthur Bernardes, mesmo a renda de sua mulher somada ao salário dele não ultrapassariam o estipulado pelo programa. Se isso for verdade, Bernardes não tem nada o que esconder, já que não é ilegal fazer uso de um benefício desde que os pré-requisitos sejam atendidos, como o critério da renda.
Mas, como o secretário de Economia demonstrou ser um pouco desatento com os números, o Metrópoles pediu, com base na Lei de Acesso à Informação, todo o processo referente à concessão do benefício de Aline Bernardes (já que na época eles eram casados) no programa da Codhab. Só por precaução.
Com reportagem de Kelly Almeida e Lilian Tahan