Após acionar PCDF, advogada faz representação criminal no MP contra colega por injúria racial
Thayrane da Silva Apóstolo Evangelista registrou denúncia na polícia e fez representação no MPDFT contra advogada Isabela Bueno de Sousa
atualizado
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A advogada Thayrane da Silva Apóstolo Evangelista, 30 anos, disse que foi apresentada ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), nesta quinta-feira (14/1), uma representação criminal contra a colega de profissão Isabela Bueno de Sousa, por injúria racial. Isabela teria se referido à Thayrane com mensagens de cunho racista no grupo de WhatsApp chamado Liga da Justiça.
Thayrane (foto em destaque) pede que o Núcleo de Enfrentamento à Discriminação (NED), do MPDFT, abra um procedimento para investigar o caso. Os advogados Antônio Carlos de Almeida Castro – conhecido como Kakay –, Pedro Ivo Velloso, Roberta Cristina de Castro Queiroz e Liliane de Carvalho Gabriel assinam a representação.
“Os fatos graves, infelizmente, se deram em um grupo de WhatsApp de advogados, o que potencializa a força da injúria. Esperamos a manifestação do Núcleo de Enfrentamento à Discriminação do Ministério Público do Distrito Federal”, afirmaram os advogados, em nota.
Na conversa ocorrida na noite de segunda-feira (11/1), Isabela enviou emoji de bananas após Thayrane mandar uma figurinha. Depois de Thayrane dizer não ter entendido, Isabela escreveu: “Reserva de pensamento. Pensei alto, sorry (desculpa, em inglês)”. Logo em seguida, Thayrane enviou informações sobre o delito de injúria racial. Isabela, então, respondeu: “Banana é a fruta que mais gosto, mas ela representa pessoas sem personalidade. Acho fácil de entender”.
Denúncia
Segundo a representação criminal, “simulando falsa ingenuidade”, Isabela afirmou que utilizou a imagem de bananas “apenas porque ela representaria pessoas sem personalidade”. Mas, em seguida, escreveu que preconceito “não é só de raça”, “raça não é só a negra”, e que também sofre preconceito “por ser loira”.
“Ora, as manifestações acima demonstram o dolo intenso da representada, bem como sua vã tentativa de escapar à persecução penal, após ter sua conduta apontada publicamente pela representante. Tentativa esta, sublinhe-se, completamente inútil, pois a associação feita entre pessoas negras e macacos é, lamentavelmente, uma das formas mais abomináveis e comuns de expressar o racismo”, diz trecho do documento direcionado ao órgão de investigação.
A denúncia cita, ainda, que “diversos membros” do grupo de WhatsApp demonstraram indignação a respeito da situação e que 15 pessoas decidiram deixá-lo. Isabela enviou uma mensagem privada à Thayrane na qual informou que não houve nenhuma intenção de ofendê-la, “muito menos qualquer insinuação de caráter racial” e que abomina qualquer tipo de racismo.
A representação ressaltou, contudo, que o reconhecimento de responsabilidade não resulta na extinção da punibilidade: “Impondo-se, portanto, a instauração de investigação criminal, sobretudo em face da intensa gravidade da ofensa.”
Confira trechos da conversa citados na denúncia feita ao MPDFT e à polícia:
O caso também foi parar na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Na terça-feira (12/1), Thayrane registrou um boletim de ocorrência contra Isabela por injúria racial. Segundo a corporação, a Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou Contra a Pessoa Idoso ou com Deficiência (Decrin) vai iniciar o processo de apuração.
As comissões de Igualdade Racial da Seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF) e da Subseção de Águas Claras divulgaram uma nota de repúdio à “ofensa racista direcionada à dra. Thayrane Evangelista”. “Maldosamente, atribui-se aos negros a imagem animalesca dos símios (primatas) a fim de promover a sua desumanização”, diz trecho do texto.
O que diz Isabela
À coluna, Isabela negou que tenha sido racista. Segundo ela, o emoji de banana foi utilizado com outra finalidade: “Fui procurar uma figura que simbolizasse uma pessoa discípula, mole, que se deixa levar pelas outras e, quando vi a banana, achei que representaria isso”.
Disse, ainda, que a denúncia contra ela é fruto de perseguição política, devido a ações que faz “em desfavor” da atual gestão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Isabela afirmou que a advogada e conselheira federal da OAB Daniela Teixeira, dona do escritório onde Thayrane trabalha, a escalou para “que fosse aos embates comigo, a fim de me desqualificar”.
“Daniela e o grupo que participa da gestão me veem como adversária política devido a diversas ações que fiz e sabem que farei em desfavor da gestão, como, por exemplo, a ação do quinto constitucional e meu auxílio político para os funcionários da OAB-DF indevidamente demitidos”, pontuou.
A advogada acrescentou que viu Thayrane “umas três vezes” em sua vida e nunca se atentou quanto à cor da pele dela. “Quando debato com qualquer pessoa, não reparo na cor de sua pele, pois, para mim, a cor da pele não tem qualquer importância. Não houve cunho racista. Ressalto que minha filha também é bem morena e o pai de minha filha também é bem moreno”, destacou.
Confira, na íntegra, a nota da advogada Isabela Bueno de Sousa:
Citada por Isabela como autora da “perseguição”, Daniela Teixeira enviou à coluna uma nota. “Todos no mundo sabem o significado que se quer dar quando se oferecem bananas a uma pessoa negra. É a tentativa de humilhá-la, comparando-a a um macaco. É uma postura grosseira, condenável e combatida na vida social, na política, nos estádios de futebol e em todo o mundo civilizado”, pontuou.
Daniela citou que Isabela deixou claro ser crítica das atuais gestões da OAB distrital e da federal e disse que ela “tem todo direito de expressar suas opiniões, certas ou erradas”. “Mas, para debater sobre assuntos da OAB, deveria trazer argumentos jurídicos e não oferecer bananas publicamente a uma jovem advogada”, ponderou.
À coluna, o MPDFT confirmou recebimento da representação e disse que o documento será encaminhado às áreas competentes.