Sobre Pelé, Nilton Santos e Armando Nogueira…
No dia em que o Rei do futebol comemora 81 anos, histórias curiosas sobre craques da bola e do jornalismo
atualizado
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Nos 81 anos de Pelé, circula nas redes sociais aquele que é considerado o texto mais bonito escrito sobre o Rei do futebol. O autor: Armando Nogueira, que foi diretor de jornalismo da Rede Globo. Ele encerra sua crônica na revista Placar com uma frase magistral:
“Pelé já era o melhor muito antes de ser; e continua sendo, mesmo depois de ter sido”.
Busquei então nos arquivos da minha memória uma história curiosa que vivi, mais de três décadas atrás, com o genial Armando Nogueira:
Minhas história com Armando
Brasília, abril de 88.
Eu era editor de esportes da Radiobras e apresentava um programa de entrevistas na TV Nacional.
De repente, toca o telefone da redação e alguém grita:
– Marcondes, o Armando Nogueira quer falar com você!
Quem conhece o ambiente de uma redação sabe que esse é um tipo de brincadeira dos coleguinhas.
Armando Nogueira, que dispensa maiores apresentações, já naquela ocasião era o todo poderoso diretor da Central Globo de Jornalismo. Talvez um dos homens mais influentes e importantes do país, na época em que a Globo tinha poderes ilimitados.
Só podia ser brincadeira, mas não era.
– Marcondes, aqui é o Armando. Eu vou lançar em Brasília o meu livro “Bola de Cristal” e gostaria de dar uma entrevista no seu programa. Pode ser?
– Hein?
Demorei alguns segundos para perceber que estava realmente falando com o mestre Armando Nogueira.
– Sim, claro, Armando.
Evidentemente que ele tinha a Globo do DF à sua disposição para falar do livro, mas a ideia era aproveitar todos os espaços possíveis.
Além disso, no meu programa semanal, poderíamos conversar uma ou duas horas, sem parar. No padrão Globo, talvez não houvesse tanto espaço.
Mas, enfim, marcamos para gravar a entrevista um dia antes do programa. Ele me mandou um exemplar do livro, que li de uma tacada só.
Chamou-me a atenção um dos capítulos que tinha um bilhete para Nilton Santos, de quem fiquei amigo em Brasília. Naquela época, a “Enciclopédia” ensinava futebol nas escolinhas do DF. Diz o bilhete:
“Nilton, velho amigo, tenho pensado muito em ti. Não há nesta Copa um só lateral estático. Todos defendem e apoiam. Não chega a ser novidade, bem sei. Há muito tempo, toda equipe que se preza dá a seus laterais toda liberdade para atacar. E é aí que te revejo, surpreendendo o mundo e o mundial de 58. Um instante depois de evitar um gol, já estavas no campo rival, convertido em soberbo atacante. Louvado seja, amigo velho, o talento que fez de ti a prefiguração do futebol jogado hoje por todos os laterais do mundo”.
Resolvi então fazer uma surpresa para o nosso convidado. Sem ele saber, convidei Nilton Santos para participar da gravação.
Puxei o assunto do “bilhete” e deixei Armando discorrer sobre o tema. Neste momento a produção mandou Nilton invadir o estúdio. Armando tomou o maior susto.
– Eu estava assistindo o programa e vi que você começou a falar mal de mim…brincou Nilton.
Os dois amigos quase foram às lágrimas.
Mas, no primeiro intervalo, Armando me puxou do lado e perguntou:
– Que bela armação você montou, hein? Como é que Nilton estava vendo um programa que está sendo gravado e só vai ser exibido amanhã?
Risos, muitos risos.
Foi um dos momentos inesquecíveis da minha carreira de jornalista. E guardo até hoje o exemplar do “Bola de Cristal”, com a simpática dedicatória do autor:
“Ao colega Marcondes, na esperança de que este livrinho te agrade tanto quanto vos agrada o futebol, vossa paixão. Um abraço afetuoso do Armando. Brasília, abril de 88”.