Nos bastidores da CBF, o clima é de “briga de foice no escuro”
Enquanto isso, a Fifa sinaliza que está preocupada com o poder de fogo de Del Nero e Teixeira, dois cartolas que foram banidos do futebol
atualizado
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Em clima de aparente normalidade, a CBF definiu nesta quinta-feira (4/11) como serão os jogos decisivos da Copa do Brasil de 2021, entre Atlético-MG e Athletico-PR, dias 12 e 15 de dezembro, no Mineirão e na Arena da Baixada, respectivamente.
Mas essa normalidade da CBF é apenas aparente. Isso porque o vice-presidente Antônio Carlos Nunes de Lima, o Coronel Nunes, que assumiu momentaneamente o comando da entidade logo após afastamento de Rogério Caboclo, está trabalhando nos bastidores para derrubar Ednaldo Rodrigues, atualmente no cargo.
Uma manobra de Caboclo tenta recolocar o Coronel Nunes novamente no poder. Para que isso aconteça, o presidente afastado por crime de assédio sexual, usa como base um artigo 61 do próprio estatuto da entidade, que, em resumo, determina: “Substituirá o presidente, no caso de ausência, licença ou impedimento, o vice-presidente que for por ele designado”.
Pode-se deduzir que o clima continua beligerante dentro da entidade. É como uma briga de foice no escuro – aquela em que os contendores não sabem de onde vêm os golpes. Caboclo acredita que, com Nunes outra vez na chefia da casa, será mais fácil reduzir a suspensão que lhe foi imposta, até março de 2023.
Mas nada parece dar certo nas manobras de Rogério Caboclo. Na quarta-feira (3/11), o coronel Nunes foi internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, com problemas cardíacos. Isso altera toda a estratégia porque o documento da apelação que foi registrado em cartório do Rio de Janeiro, tem a assinatura de Caboclo e Nunes.
Para segurar-se na cadeira, Ednaldo Rodrigues teria o apoio de Marco Polo Del Nero e Ricardo Teixeira, dois ex-presidentes que nunca se deram bem, mas que uniram-se convenientemente para derrubar Caboclo. E eles ainda mandam muito mais do que deveriam.
Marco Polo Del Nero mantém o controle da entidade, a partir de seu apartamento na Barra da Tijuca, a menos de três quilômetros da sede da CBF. Isso inclusive é motivo de preocupação para a Fifa. Teixeira e Del Nero estão entre os envolvidos nos escândalos que abalaram o mundo do esporte na década de 2010, e, por conta disso, foram banidos do futebol.
Desde a chegada de Gianni Infantino à presidência da Fifa, em 2016, a entidade tem se esforçado para fugir dos escândalos de corrupção que causaram a queda de dirigentes em todo mundo. É indisfarçável que a incontrolável crise da CBF é motivo de grande preocupação para a cartolagem da Fifa. Incomoda sobremaneira a influência que Teixeira e Del Nero, mesmo banidos do cenário, ainda são capazes de exercer nos destinos do futebol brasileiro.
Talvez alheio ao que acontece nos bastidores para puxar-lhe o tapete, o presidente interino Ednaldo Rodrigues passa o tempo dedicando-se a fazer política doméstica, recebendo conterrâneos da Bahia em convescotes que nada têm a ver com o futebol.
O mais inquietante é saber que – seja com Ednaldo ou Nunes – a CBF está totalmente fora dos trilhos e sem autonomia. Eles são meros coadjuvantes. São marionetes nas mãos de manipuladores perversos e compulsivos.
Quem é quem
Ednaldo Rodrigues, o presidente “da hora”- Foi presidente da Federação Baiana de Futebol por 18 anos, até 2019, quando deixou o cargo justamente para tornar-se vice na CBF. Tomou o lugar do Coronel Nunes em agosto deste ano, por determinação da Comissão de Ética.
Coronel Nunes, que tenta derrubá-lo – Aos 82 anos, Antônio Carlos Nunes de Lima assumiu em junho deste ano o lugar de Rogério Caboclo por ser o mais velho de um total de oito vice-presidentes da CBF. Já foi presidente em três situações. Numa delas, em 2016, ficou no cargo por 150 dias, quando Del Nero se licenciou, após ser indiciado pela Justiça dos Estados Unidos.