Mídia da Colômbia vê o Brasil como “o monarca do futebol sul-americano”
Reportagem do jornal @elespectador enxerga só as nossas virtudes. Como se fossemos, de fato, um “Reino encantado”
atualizado
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Por Andrés Osorio Guillott (“El Espectador”, Colômbia) – A última vez que se falou em monarquia ligada ao Brasil foi no século 19, quando em 1889 terminou a constitucional que se estabelecera mesmo depois de sua independência, em 7 de setembro de 1882. Mas longe de ser uma questão política (embora veremos que nem tanto), voltamos a falar desse sistema de governo com o Brasil, mas não dentro dele, mas com o futebol e em escala sul-americana, pois o atual futebol verde-amarelo mostra uma hegemonia e um controle que não só pode haver evidência na tabela das eliminatórias para o Catar 2022, onde os comandados por Tite são líderes absolutos, mas para os torneios continentais onde pela primeira vez na história, tanto na Copa Libertadores (Flamengo e Palmeiras, campeões das duas anteriores) edições) e na Copa Sul-Americana (Bragantino e Atlético Paranaense) os quatro finalistas são do mesmo país.
Futebol de bairro, nas favelas, nos campos de cimento, areia, barro, com arcos improvisados de pedra, mala ou pau no Brasil é cultura, história e até política. O futebol do Jogo Bonito e o do Maracanã, o do Pelé, Sócrates e o Corinthians que desafiaram a ditadura, o do Zico, Romário, Garrincha, Rivelino, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho, Neymar e tantos outros que, deixando de lado o valor os julgamentos, têm em comum aquele ar de alegria, do carnaval carioca, das batucadas e dos dribles que saem das ruas e crescem com projetos esportivos de longa duração, nos times que compõem o campeonato local.
A Seleção Brasileira, que hoje enfrenta a Colômbia no Estádio Metropolitano de Barranquilla, é um grande exemplo que contém um projeto de futebolistas… As estatísticas do Brasil são de outro mundo. O projeto de Adenor Leonardo Bacchi, conhecido como Tite, tem sido mais que satisfatório desde sua chegada em 2016. O treinador de sessenta anos, que conhece muito bem o futebolista do seu país, depois de ser campeão pelo Grêmio, Corinthians e Internacional de Porto Alegre, liderou a seleção nacional em 39 ocasiões, deixando 32 vitórias, cinco empates e apenas duas derrotas. E assim como levou seu time à Copa do Mundo 2018 na Rússia, onde caíram nas quartas de final contra a Bélgica, ele está prestes a se classificar para o Catar 2022 com números perfeitos, pois se vencer a Colômbia nesta tarde, chegará trinta pontos nos dez jogos disputados nos playoffs…
Sob o comando de Tite, o Brasil nestas eliminatórias somou 27 pontos em nove jogos disputados; ele marcou 22 gols em 86 finalizações que fez durante o torneio, e sofreu apenas três gols. Apesar desses números, como o Brasil às vezes vence sem jogar da melhor maneira, já quiseram tirar Tite por causa de uma “crise” esportiva, porque o time não é vistoso e até pela posição que mostrou com a realização da Copa América, pois o treinador considerou que devido à crise de saúde devido ao COVID-19 não era correto realizar o torneio no país…
Com idade média de 27,1 anos, a Seleção Brasileira é fruto da continuidade de um projeto e da união de novos talentos locais que estão surgindo do Brasileirão, e que em pouco tempo passam para os maiores clubes da Europa. Dos 25 jogadores convocados para essa rodada tríplice, quatro estão no torneio local e três estarão na final da Copa Libertadores entre Palmeiras, atual campeão, e Flamengo, campeão em 2019: Wéverton (goleiro do Palmeiras); Guilherme Arana (ala do Atlético Mineiro); Éverton Ribeiro e Gabriel Barbosa (meio-campista e atacante do Flamengo, respectivamente).
A realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil e dos Jogos Olímpicos Rio 2016 não queria apenas posicionar o país vizinho como potência esportiva, mas também como potência política na América Latina. O fato de uma nação como o Brasil sediar duas competições de tamanha envergadura demonstrava sua capacidade de desenvolvimento e deixaria boas sensações que impulsionariam sua economia – embora em última instância não totalmente – e reafirmassem a força de seus atletas no cenário internacional.
Foi uma aposta dupla. Por trás do esporte, e mais com esse tipo de competição, há um interesse político e econômico envolvido. Porém, para além dos objetivos estaduais, especificamente em termos de futebol, foi demonstrado um aumento no mercado de ligas locais, relacionado à descoberta de novos talentos no Brasil, mas também ao negócio de direitos televisivos, questão fundamental para entender o poder financeiro da o Brasileirão e seus times.
Embora as diferenças em termos de receita de direitos televisivos entre o campeonato brasileiro e os demais campeonatos da América do Sul sejam abismais, certamente será mais agora. Até pouco tempo atrás, o dinheiro recebido era dividido entre as duas equipes que se enfrentavam em cada partida. Essa regra deixou uma verba de US $ 275 milhões por temporada a ser distribuída entre as vinte equipes do Brasileirão. Porém, em 24 de agosto, o Senado daquele país aprovou a Lei do Mandante, que concede aos clubes que jogam em casa 100% dos direitos de transmissão. Romário, ex-jogador e referência do Canarinha, e agora senador, disse que: “Este projeto dá autonomia ao clube local e moderniza bastante o futebol brasileiro”.
Segundo o Transfermarkt, site especializado em estatísticas de futebol, a liga brasileira tem um valor de mercado de 1.050 milhões de euros, superando em muito a liga argentina, que é a segunda mais cara, com um valor de 810,01 milhões de euros; A BetPlay League da Colômbia segue em terceiro lugar, com 253,42 milhões de euros. Na última década, segundo cálculos do portal La Izquierda Diario, o Brasileirão teve um crescimento econômico de 145,6%, uma estatística que superou inclusive algumas ligas na Europa.
Em 2019, antes da pandemia, Palmeiras e Flamengo – atuais finalistas da Copa Libertadores e recentes campeões deste campeonato – eram os clubes que mais arrecadavam. Naquele ano, 27 seleções brasileiras (19 da primeira divisão e oito da segunda) faturaram US $ 1.275 milhões, dos quais US $ 163 foram para o time de São Paulo, enquanto o time do Rio de Janeiro arrecadou US $ 134.
E se os direitos televisivos e o retorno dos torcedores aos estádios aumentam a receita, é natural que haja mais investimentos para a compra de jogadores. E assim como deixaram o Brasil anos atrás, também estão voltando as figuras que tiveram uma passagem bem-sucedida pela elite do futebol europeu. Nos últimos três ou quatro anos, jogadores como Dani Alves, Douglas Costa, William, Filipe Luis, Hulk e David Luiz, entre outros, voltaram ao Brasileirão.
Da mesma forma, a liga brasileira tem vários dos jogadores mais caros do mercado sul-americano. Na verdade, os cinco jogadores de futebol mais caros do Brasileirão pertencem aos finalistas da Copa Libertadores. Gabriel Barbosa (Gabigol) tem um preço de 26 milhões de euros; Giorgian de Arrascaeta (o único que não é brasileiro) e Pedro, seus colegas do Flamengo, têm um valor de 18 e 14 milhões de euros, respetivamente; Gabriel Veron e Gabriel Menino, do Palmeiras, também aparecem com valores de 16 e 14 milhões de euros.
E isso também se deve à venda de jogadores. Recuemos vários anos para ver que, por exemplo, o Barcelona pagou a Santos 88 milhões de euros por Neymar; Vinicius Junior e Lucas Paquetá, que deixaram o Flamengo, foram para o Real Madrid e o Milan a um custo de 45 e 38 milhões de euros nos últimos anos, preços que estão longe de ser encontrados na Colômbia, liga que não costuma ser vitrine para os empresários do futebol mundial
Mas não se trata de ver o Brasil a milhares de degraus de distância, embora a realidade o mostre. O rival que a seleção colombiana enfrenta hoje não construiu sua supremacia da noite para o dia, isso é fruto de um projeto nacional, de uma cultura, e como neste caso o que nos preocupa é o futebol, um esporte que também faz parte da nossa. idiossincrasia, seria preciso pensar se vale a pena parar a bola e reunir vozes e vontades para construir um novo modelo que valorize o talento e a capacidade de vários jogadores de futebol à escala nacional, já que se sabe que não faltam virtuoses , mas convicção e educação são necessárias para que quem sonha em fazer uma Copa do Mundo ou em jogar na Europa ajude primeiro a liga local a crescer e com ela todos aqueles que vivem ou sonham em viver desta competição se beneficiem.