Vídeo: jogador de vôlei sofre ataques homofóbicos em Recife
Anderson Melo fez um longo desabafo na web, no sábado (16/3), após ouvir ofensas como “saca na bicha”, “é mulher” e “usa calcinha”
atualizado
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Mais uma vez, o preconceito invadiu as quadras e um atleta brasileiro foi alvo de ataques homofóbicos. Desta vez, a vítima foi o jogador de vôlei Anderson Melo, durante a 2ª etapa do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia, em Recife, Pernambuco, na última quinta-feira (14/3).
Nas redes sociais, no sábado (16/3), o jogador compartilhou os vídeos nos quais era possível ouvir algumas pessoas que assistiam à partida diziam coisas como “saca na bicha”, “é mulher” e “usa calcinha”. Ele aproveitou para fazer um longo desabafo:
“Uma foto para ficar na minha história e em seguida alguns vídeos que falam por si. 😢 Não sei se vão ler meu texto todo por não ser um atleta conhecido mundialmente, não sei se serei ouvido como gostaria, eu só sei que estou sem chão e pela primeira vez tiraram meu sorriso e as palavras, mas vou tentar”, começou o jogador, de 32 anos.
Em seguida, ele falou sobre o episódio de homofobia: “Demorei a escrever porque eu precisava digerir o que aconteceu naquela quadra. No ambiente que mais amo estar, sofri ataques homofóbicos continuadamente e pela primeira vez na vida não consegui reagir. Eu não estava acreditando no que estava acontecendo e eu só lembrava da minha mãe, o quanto ela tinha medo de me ver sofrer por ser homossexual. E, infelizmente, ela não estava aqui para me proteger e nem ninguém”.
E continuou seu desabafo: “Me senti completamente acoado e sem entender porque as pessoas estavam fazendo aquilo. Um ambiente feito para as pessoas apreciarem os atletas, torcer para seus favoritos é claro, mas não necessariamente tentar diminuir, xingar, debochar ou tentar ridicularizar alguém”.
Na sequência, Anderson Melo contou como se sentiu e relatou que já procurou a polícia: “Perdi o chão. Perdi a bola. Perdi o jogo. Mas não a minha força em estar aqui dividindo com vocês um crime explícito. Fiz o Boletim de Ocorrência e ainda não sei quais serão os próximos passos. Mas com certeza o primeiro pós-delegacia é me recompor como atleta, como cidadão e me orgulhar do filho que minha mãe criou com tanto amor”.
E finalizou: “Eu tenho muito orgulho de ser quem eu sou, do jeito que sou e, assim como eu, todos têm o direito de ser respeitados. Faço um apelo para que este assunto não fique em vão, faço um apelo para as autoridades locais, a CBV, aos meus fãs e amigos para que isso não se repita com mais ninguém. Que Deus e minha mãezinha me abençoem para este pesadelo não durar mais tantas noites e tantos dias. 🏳️🌈🙏🏳️🌈”.
Órgão responsável pelos campeonatos de vôlei, a CBV emitiu um comunicado sobre o caso e afirmou estar tomando as medidas necessárias:
“A Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) lamenta e repudia veementemente os ataques homofóbicos ao atleta Anderson Melo, feitos na quinta-feira (14/3) por pessoas que assistiam aos jogos da segunda etapa do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia, em Recife. A CBV apurou os fatos, reviu as imagens da partida, conversou com a arbitragem e reuniu todas as informações necessárias para, neste sábado (16/3), protocolar um boletim de ocorrência em uma delegacia de Recife. O caso também será encaminhado ao Ministério Público local e a CBV acompanhará todos os desdobramentos”, afirmou a nota.
A instituição afirmou ainda que está divulgando, desde sexta-feira (15/3), uma mensagem antes de cada partida: “Atenção, torcedores! Racismo, homofobia e outros atos discriminatórios são crime, e não podem fazer parte dos eventos do voleibol brasileiro. Manifestações como as ocorridas nas quadras externas não podem se repetir. Esporte é diversidade, tolerância, respeito e inclusão! E respeito é um dos maiores valores que o esporte ensina! Vamos torcer com paixão! O voleibol por um mundo sem preconceito e discriminação!”, detalhou.
E encerrou a nota: “A CBV lamenta que Anderson Melo tenha sofrido essa violência e está prestando todo o auxílio ao atleta. A CBV reforça que não admite qualquer tipo de preconceito, entende que o esporte é uma ferramenta para propagação de valores como respeito, tolerância e igualdade; e agirá sempre para coibir qualquer manifestação discriminatória em seus eventos”.