Primeira cantora transgênero de Portugal recorda criação rígida
Neta de um oficial da Marinha, Patricia Ribeiro relatou que contou com o apoio de sua avó para manter-se firme em seus objetivos
atualizado
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Patricia Ribeiro, primeira cantora transgênero de Portugal, passou por um longo período de angústias até se tornar mulher de corpo e alma. Neta de um oficial da Marinha, ela recordou, em um bate-papo com a coluna, a rigidez com que foi criada em casa.
“Imagine o meu calvário: apanhei, tive castigos bastante rígidos. Apanhei muito. Na escola, foi um pesadelo, sofri muito bullying, as crianças eram muito cruéis”, detalhou ela.
A cantora chocou os seus seguidores ao relembrar todos esses tormentos. Expulsa de casa pela família aos 16 anos, ela apenas contou com o seu único pilar: a avó Antóniba, hoje 84 anos, que sempre apoiou, inclusive no período em que esteve na prisão e no processo transição.
“Como sou grata por todo esse apoio e amor. Quando a minha avó me visitava na prisão, era um bálsamo. Mas quando terminava a visita e a via indo embora pelo vidro, chorava igual uma criança. Ela é tudo para mim”, declarou, emocionada.
Dentro da prisão, os dias de Patricia Ribeiro também não foram fáceis. A artista tentou acabar com a sua vida. Ela tentou se mutilar dentro da cela e foi socorrida por guardas prisionais e outras presas.
Levando em conta sua experiência, a cantora resolveu fazer um apelo aos famíliares de pessoas que, assim como ela, passam pelas mesmas questões:
“Isso faz a diferença na vida de qualquer um, principalmente por quem passa por questões como as minhas. Ter o apoio e o amor familiar é importante! Eu teria um processo de transição muito menos conturbado e dolorido se tivesse a compreensão da minha família. Que os pais e as mães entendam seus filhos e suas filhas. Os acolham ao invés de os odiarem”, aconselhou.
Retomada da carreira após 6 anos presa
Patrícia Ribeiro, considerada a primeira cantora transgênero de Portugal, renasceu. É assim que ela própria descreve a vida após passar 6 dos 8 anos de sua pena no Estabelecimento Prisional de Tires, em Cascais, localizado a 30 km de Lisboa, capital portuguesa.
Liberta desde o final de 2022, a famosa retorna à indústria fonográfica e ao comando de si mesma. Ela bateu um papo exclusivo com a coluna e contou como foi o tempo em que ficou encarcerada.
“Me arrependo, e muito, do que fiz. Foi uma fase obscura. Pedi perdão a todos os envolvidos nessa tragédia e daqui para frente é olhar o passado como um local de aprendizagem. Não o temo, sinto vergonha e sei que ali é uma área para a qual não quero voltar”, afirmou.
A cantora foi detida depois de ser acusada, junto com o ex-namorado, de extorquir um cliente, ameaçando divulgar fotos íntimas caso o empresário não pagasse o valor de 400 mil euros [mais de R$ 2,4 milhões na coração atual].
Ela colapsou dentro de sua cela quando soube, por meio de seu advogado, que a medida da sua pena foi agravada após recurso do Ministério Público e acabou ferindo os próprios braços e pernas, tendo sido levada de urgência para o hospital.
“Um detalhe que nunca contei é a respeito das marcas físicas que esse ato me causou. Eu tenho hematomas, cicatrizes dos momentos de automutilação ainda no período de reclusão. Ter desapontado minha família, me encontrar naquela situação deplorável mexeu demais com o meu psicológico”, desabafou a artista.
E recordou outro momento difícil: “Também fiz greve de fome por três dias. Fiquei muito mal mesmo com toda a situação”, declarou.
Após sua liberação da prisão, a estrela portuguesa já lançou alguns trabalhos, como Quero Ser Feliz, que fez sucesso no Big Brother de Portugal, e segue ansiosa para concretizar uma parceria com um cantor brasileiro famoso.
“Eu amo o Brasil e mal posso esperar para realizar o sonho dessa gravação, além de usar este lindo país como cenário para um videoclipe”, revelou.
Busque ajuda
Está passando por um período difícil, assim como Patricia Ribeiro? O Centro de Valorização da Vida (CVV) pode ajudar por meio do número 188. A organização atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio, atendendo, voluntária e gratuitamente, todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, podem buscar ajuda por telefone, e-mail, chat e Skype, 24 horas, todos os dias.
O Núcleo de Saúde Mental (Nusam) do Samu também é responsável por atender demandas relacionadas a transtornos psicológicos. O Núcleo atua tanto de forma presencial, em ambulância, como à distância, por telefone, na Central de Regulação Médica 192.
Na rede pública da saúde, a assistência psicológica pode ser encontrada nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), hospitais e unidades básicas de Saúde.